COMO SE COMBATIA SAÚVAS EM 1911

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Diversos jornaes têm escripto em termos bastante elogiosos sobre o emprego do cyanureto de potassio para a extincção das formigas saúvas, descoberta feita pelo Dr. Lucas Tavares de Lacerda.

A applicação d’este medicamento tem produzido surprehendentes resultados, a ponto de alguns lavradores, que já o applicaram, dizerem que − o cyanureto de potassio é um tiro mortal dado contra a saúva.

Em beneficio dos agricultores e mesmo dos habitantes d’esta Cidade, que continuamente vêm as suas plantações damnificadas pela grande quantidade de tão terriveis inimigos, julgamos conveniente passar para as nossas columnas, o que aquelle illustrado clinico escreveu sobre o processo por elle empregado na applicação do cyanureto.

Além d’este meio de extincção das saúvas ser mais efficaz e mais completo, é na sua auctorizada opinião, sobretudo o mais economico de todos o que até aqui têm sido empregados.

Chamamos portanto a attenção dos leitores para as linhas que seguem: −

“Tenho empregado o cyanureto de potassio de modo directo e indirecto.

Para empregar directamente sobre o formigueiro deve se mandar limpal-o da terra, que o cobre, cavando-o até as primeiras panellas, e a medida, que cada panela fôr sendo descoberta applica-se uma xicara mais ou menos, de uma solução de cyanureto, ou mesmo um pouco de cyanureto reduzido á pó. Immediatamente morrem todas as formigas.

No dia seguinte ou mesmo dois dias depois, quando as formigas tiverem limpado os canaes, introduz-se em cada canal directo uma colher das de sopa de cyanureto de potassio reduzido, não á pó, mas a granulos do tamanho mais ou menos de um caroço de milho, ou maiores conforme o diâmetro do canal; despeja-se por cima bastante agua, e esta levará os granulos do cyanureto às panellas mais profundas, e ahi em permanencia por algum tempo, sem dissolver completamente, irão desprendendo o gaz cyanidrico, que percorrerá panellas e canaes, matando as formigas. E’ necessario depois de introduzir o cyanureto tapar os orificios exteriores − a fim de evitar o escapamento do gaz.

Quando se abre no jardim, pomar, horta, etc., um caminho de formigas applica-se dentro do orifício e em torno delle um pouco de cyanureto, e immediatamente morrerão todas as formigas, e, abrindo-se o canal se verificará que está cheio de formigas mortas na extensão de um ou mais metros.

As formigas reapparecerão nos dias seguintes em menos quantidade, em orificios proximos, e faça-se nova applicação, e assim successivamente enquanto apparecerem formigas.

No fim de certo tempo começarão a apparecer unicamente formigas muito pequenas, producto de germinação dos ovos contidos nas panellas, e estas formigas novas se combaterà do mesmo modo. Pelas minhas observações verifiquei que não ha processo algum capaz e extinguir um formigueiro de uma vez só, porque todos elles matam pela asphyxia, e os ovos não pódem morrer por asphysia; e por esse motivo o formigueiro reviverà tantas vezes, quantas forem as suas panellas.

Donde a necessidade de examinar-se de quando em vez os formigueiros mortos pelo systema directo para applicar-se o cyanureto nos orificios abertos por formigas novas. E assim no fim de um certo tempo, morta a ultima panela pòde se considerar extincto completamente o formigueiro. E’ tudo isso muito facil e economico, dependendo apenas de paciencia e de constancia.

Quando applico o cyanureto nas proximidades de casa, uzo sempre da solução de 30 por mil, porque, empregando-o em pó pode envenenar as galinhas, que comerem as formigas, o que não succederá empregando a solução.

O cyanureto de potassio é um preparado venenoso; mas não ha perigo algum do seu emprego, cumprindo conserval-o em vidros bem tampados e fóra do alcance das creanças e dos incautos, e quando se manejal-o lavar depois as mãos. E’ conveniente tambem não tocal-o, havendo qualquer ferida nas mãos.

Com esses cuidados não ha o menor perigo.

E’ pela fórma acima descripta, que emprego o cyanureto de potassio, e por elle tenho colhido os melhores resultados”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Extincção das formigas saúvas” na edição de 1.º de outubro de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Três primeiros parágrafos do texto original.

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