DÁCIO E A NOVA RODOVIÁRIA

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TEXTO: CELCÍDIA OLIVEIRA MAGALHÃES (1982)

Lendo este slogan¹, de passagem, ele me pareceu como tantos outros: pretendendo dizer muito e não significando nada.

Faltou-me o bom senso de considerar a pessoa que o formulou. Acostumada à pompa, à bazófia e ao exibicionismo dos políticos comuns, achei muito modesta a figura do prefeito que veiculava aquela frase.

Esqueci-me entretanto de que a grandeza de um homem reside em seu interior, deixando de pensar no DÁCIO e visualizando apenas a imagem estereotipada de um prefeito.

Foi preciso que meus olhos contemplassem um espetáculo quase circense da engenharia moderna para que meu coração despertasse.

No final do mês passado, ante uma grande aglomeração do povo, foi erguida a estrutura metálica que suportará a cobertura do novo terminal rodoviário.

Técnicos e operários, ao som de simples apitos e valendo-se de equipamentos aparentemente banais, ergueram para o ar e colocaram sobre os pilares 46 toneladas de alumínio.

Veio-me à mente uma frase que pudemos ler tantas vezes fixada nos muros e estampada em certa imprensa: “CADÊ A NOSSA RODOVIÁRIA?”.

Lembrei-me daquela caricatura de rodoviária que temos na antiga praça da distribuidora² de meus tempos de criança. Ali embarcaram e desembarcaram nossos avós, nossos pais e embarcaram e desembarcaram nossos filhos.

Procurei no meio do povo o Prefeito provocado e desacreditado pelos pichadores de muros e pretensos jornalistas.

Esperava encontrar em sua postura, em sua expressão e em seus gestos, a petulância triunfalista que seria natural em quem respondia com fatos e feitos aos seus detratores inconscientes e inconseqüentes.

No entanto, ali encontrei a figura humilde, serena e quase ingênua do DÁCIO.

O DÁCIO que não convocara a imprensa para documentar e divulgar aquele espetáculo grandioso; o DÁCIO que não armara palanque para discursar e ser aplaudido; o DÁCIO para quem sempre basta a paz interior de quem, sem nada ter prometido, realiza neste município as obras com que por tanto sonhamos.

Confesso que fiquei quase decepcionada. Queria ver pompas, foguetes, comício.

Perdi de vista o Dácio, que, misturado à multidão, pareceria a algum forasteiro um simples curioso a mais no meio dos que assistiam ao espetáculo.

Então, contemplei de novo a grandiosidade da obra: uma das mais belas, funcionais e bem dimensionadas Estações Rodoviárias do interior do País. Foi então que imaginei meus netos e bisnetos embarcando e desembarcando ali.

Foi então que entendi a simplicidade daquele homem. Foi então que compreendi que os grandes vultos da humanidade foram simples e passaram suas vidas quase anônimos.

Foi então que minha imaginação voou mais longe: vi-me diante de meus netos e bisnetos a exaltarem já como figura histórica aquele homem desacreditado pelos seus conterrâneos.

E, com medo de que meus descendentes me confundam com a multidão insensível dos tempos atuais, que não conhece nem pode avaliar a grandeza daquele homem, senti a necessidade de escrever e deixar registrado em letras de forma o que sinto agora. Estamos diante de uma figura impar de nossa História Administrativa.

Dr. Dácio Pereira da Fonseca

O Prefeito das Futuras Gerações

* 1: Referência ao título original do texto.

* 2: Hoje Praça Desembargador Frederico. Leia “Estação Distribuidora em 1915” e “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Um Governo Visando Futuras Gerações” na edição de 07 de maio de 1982 do jornal Correio de Patos, transcrito na edição n.º 49 de 15 de junho de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Parte da foto publicada em 18/05/2018 com o título “Dácio Pereira da Fonseca & Paulo Autran”.

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