PROPAGANDA É A ALMA DO NEGÓCIO

Postado por e arquivado em ARTES, FERNANDO KITZINGER DANNEMANN, LITERATURA.

Os entendidos dizem que propaganda é a alma de qualquer negócio. E deve ser, realmente, a julgar pelos rios de dinheiro que correm do e para o bolso de muita gente graças à preparação e divulgação das mensagens publicitárias de tudo quanto é tipo de produto. Algumas são realmente marcantes, porque associando um bom texto a uma imagem atraente e sugestiva, conseguem tanto sucesso que se mantêm durante anos na memória de um sem-número de pessoas que as ouviram.

Como no caso específico de uma delas, apresentada em cartazes colocados nos bondes que circulavam em várias capitais estaduais brasileiras há muitos, muitos anos. O produto era um xarope para tosse que provavelmente já foi retirado do mercado porque nunca mais ninguém ouviu falar dele; o desenho mostrava um passageiro tossindo no veículo, ao lado de uma moça que o olhava com ar de espantada; e o texto, em versos, dizia mais ou menos o seguinte: “Veja, ilustre passageiro / o belo tipo faceiro / que o senhor tem a seu lado. / Mas, no entanto, acredite, / quase morreu de bronquite / salvou-o o Rum Creosotado”.

Na guerra publicitária, tudo, ou quase tudo é permitido. Porém, o mais importante dos recursos humanos nela empregados é a criatividade, ou seja, a capacidade de alguém fazer surgir do óbvio, ou do nada, com a graça, simplicidade e leveza necessárias, algo especial, quase inesquecível, como, por exemplo, a que dizia melodicamente “tantantal, tantantal, é melhor e não faz mal”, cantada por gerações de brasileiros. E foi pensando nisso que Luís Garcia, ativo e competente dono de uma fábrica de pregos instalada em Periquitinho Verde, no Brasil, imaginou a campanha publicitária destinada a divulgar sua marca comercial em Roma, na Itália, para onde ele acabara de exportar o primeiro lote dos seus produtos.

Não era nada complicado, nem continha qualquer intenção crítica ou ofensiva: apenas aproveitava um fato histórico, amplamente conhecido em todos os quadrantes do mundo por gente de todas as idades e classes sociais. O meio de veiculação escolhido foram os outdoors colocados em pontos estratégicos da capital romana, aonde os cartazes neles colocados mostravam a figura de Cristo pregado na cruz, trazendo embaixo, em letras maiúsculas, a mensagem “PREGOS GARCIA – 2000 ANOS DE GARANTIA”.

Foi aquele rebuliço, vocês bem podem imaginar. Ao saber do acontecido, um inconformado bispo romano reuniu-se imediatamente com outras autoridades eclesiásticas e com elas discutiu o assunto, mas depois, foi conversar pessoalmente com o brasileiro, que se encontrava hospedado na cidade, para explicar que ele não podia fazer aquilo por vários motivos. Luís Garcia concordou em parte com as alegações do prelado e por isso resolveu elaborar um novo cartaz publicitário, onde colocou a figura de Cristo com a mão esquerda pregada na cruz e a direita, solta, dando tchau, tendo escrito abaixo a mensagem “ADIVINHE EM QUAL MÃO O PREGO GARCIA NÃO FOI USADO”.

Aí as coisas pioraram, pois dizem que até o Papa não gostou do conserto, chamou o homem para uma conversa na qual, segundo os comentários que circularam no Vaticano e suas redondezas com a velocidade do vento forte, ele lhe disse em tom firme e peremptório:

– Assim não dá, meu caro! O senhor precisa entender que a figura de Cristo não pode ser usada como garoto-propaganda para os seus produtos. Por isso, trate de in-ventar outra coisa…

Apesar da bronca papal o Luís Garcia não desanimou. Afinal de contas, criatividade era um dom que não lhe faltava, e fora por isso mesmo que ele chegara ao degrau em que se apoiava naquele momento a sua atividade empresarial, impulsionada pela disposição constante de sempre galgar mais alguns lances.

“Então vou fazer um novo outdoor…” – pensou o empresário periquitinhoverdense.  E colocou uma foto da cruz vazia, tendo escrito embaixo a nova mensagem:

– “SE O PREGO FOSSE GARCIA, O CARA NÃO FUGIA…”

Compartilhe

You must be logged in to post a comment. Log in