Estar apaixonado é bão demais da conta. Mas é ruim demais da conta quando o outro lado não corresponde. O Eremildo estava vivendo essa situação. Apaixonadérrimo pela Cotinha, ela não dava muito papo para um sujeito que nem ele, pobre e com futuro incerto. Ela, igualmente pobre, mas com olhar bem mais adiante que o outro, estava com as pupilas abertas para alguém que pudesse lhe oferecer, além da sustância, sustentação acomodativa. Certa vez, ele leu pregado num poste sobre os serviços da Nhá Zilda, que via o adiante da vida das pessoas. Foi lá e, após uma centena de encenações com as cartas e búzios, a vidente arrematou:
– Deslocando terras, você vai se ver frente a frente com a sua paixão!
Depois de um dia inteirinho matutando sobre a sentença da maga, eureca, ele pensou alto:
– Garimpo, é isso, deslocar terra de barranco, encontrar diamante e quem sabe ouro, é assim que vou ganhar muito dinheiro e conquistar a Cotinha.
Durante um ano, o moço perambulou por pelo menos uns dez garimpos como empregado passageiro. Como Patos de Minas já não é mais a Terra do Diamante, como nas décadas de 1940 e 1950, mal conseguiu faturar o suficiente para pagar o que comia no trabalho.
Desanimado com a vida, com a Cotinha presente em cada um de seus parcos neurônios, transitava pelo Bairro Várzea quando em frente ao portão principal do Cemitério Santa Cruz se deparou com uma oferta de emprego de coveiro. Não pensou meia vez para aceitar o cargo. Assim, pelo menos, teria alguns trocados para tocar a vida e tentar encontrar uma saída para ganhar muito dinheiro e conquistar a amada. Depois de quinze dias de trabalho e sem ver o seu sonho de consumo amoroso, tinha acabado de preparar uma cova juntamente com um parceiro. Ajeitando o caixão no devido lugar, através do vidro ele vê o rosto da Cotinha e imediatamente vem à mente cada palavra da Nhá Zilda:
– Deslocando terras, você vai se ver frente a frente com a sua paixão!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.