MINHA CIDADE

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TEXTO: LÍVIO SOARES DE MEDEIROS (1997)

Cidade provinciana? Ora bolas. Provincianas são aquelas cidades do interior que vivem fingindo ser grandes. É um lugar cheio de puristas que, na ânsia de preservar a integridade do povo, escrevem discursos populistas lidos por oradores demagogos. É só olhar e perceber que Patos de Minas não é um lugar assim.

Um lugar provinciano é vítima daqueles coronéis mandões que querem ser os donos da cidade. Por aqui não há nada disso; não há ninguém por aqui bajulando os donos da cidade porque ninguém aqui quer domínio algum. E já que é assim, não há ninguém por aqui bajulando aqueles que bajulam os poderosos.

Por aqui, como qualquer um pode perceber, não existe aquela história de sair por aí, pregar os bons costumes e esconder as más ações. Não há por essas bandas daqui o que poderia ser chamado de esquema, trama. Não, não há nada disso. Aqui tudo é limpo e claro. O tapete vermelho que oferecemos não é para esconder a sujeira.

Provinciana é uma cidade infestada pelos conchavos: gente da direita, da esquerda, do centro e gente em cima do muro empreendendo revezamentos freqüentes a cada eleição, pelo bem do povo. Nunca houve nada disso aqui. Repare: não aqui a necessidade de ficar gritando para todo mundo ouvir as qualidades de nossas empresas. Nada de certificados disso e daquilo. Pra que isso? Eles são concedidos por quem está de fora e quem está de dentro é que vê melhor. Sair por aí distribuindo atestados de qualidade é fácil.

Num lugar provinciano todo mundo conhece quase todos. Por isso quase todos adoram falar da vida de todo mundo. Você vê isso em Patos de Minas? Você consegue ver isso num povo que prima pela discrição? Vê isso num povo que tem mais o que fazer?

Eu aposto: você nunca se deparou por aqui com um daqueles intelectuais esquisitos que veêm além e não olham em torno; almofadinhas cintilantes ostentando pose séria. Em meio à nossa gente não existe esse tipo de pessoa entojada, sem o menor senso de humor e de ridículo.

Tenho certeza, jovem. Lugar bom é aqui. Eu já andei pelos quatro cantos do mundo e sei como é a vida lá fora. Você ainda vai entender o que eu estou falando, vai entrar no nosso esquema. Isso que você anda dizendo, essas suas crônicas sarcásticas. Nada disso corresponde aos fatos. Cidade provinciana? Bah!

* Fonte: Texto publicado na edição n.º 62 de 22 de dezembro de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Do arquivo do jornal O Tablóide, publicada em 21 de fevereiro de 2014 com o título “Panorâmica na Década de 1990 − 1”.

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