IGREJA MATRIZ DE SANTANA DE PATOS PEDE SOCORRO

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TEXTO: ALINE CARDOSO DE FARIA (2019)

Santana de Patos, Distrito de Patos de Minas está localizado a 420 km da capital Belo Horizonte, é um dos povoados mais antigos da região. Um lugar calmo e pacato, e que possuí aproximadamente 3.600 habitantes (somada zona rural e urbana). As ruas principais são asfaltadas e as adjacentes de terra batida ou cascalho. Sua infraestrutura conta com apenas um posto de saúde, um supermercado, um restaurante, alguns comércios, bares e a Escola Estadual Juca Mandu.

No século XIX, a Vila de Sant’Anna representava o centro comercial mais importante de toda região. Grandes casarões de portas de madeira imponentes eram comuns à época. Em alguns deles eram comercializados os mantimentos “in natura” necessários à subsistência dos moradores do Arraial e das fazendas do entorno; sacos de farinha, feijão, arames, fumo de rolo e garrafas de aguardente eram transportados até as vendas em lombos de burros, cavalos ou em carros de boi para serem vendidos juntamente com materiais de primeira necessidade como o querosene que mantinha acesas as lamparinas das casas pelo início da noite e começo da madrugada. Não havia casamento, certidão de óbito ou batismo que não fosse lavrado na Igreja Matriz ou no cartório local.

A relevância da arquitetura e das construções do Distrito, embora seja fato pouco conhecido, mas de grande orgulho, foi prestigiada durante a gravação cinematográfica de uma das obras literárias mais importantes e influentes do Brasil: Grande Sertão Veredas¹ de Guimarães Rosa. O livro, publicado em 1956 consagrou o escritor brasileiro e foi adaptado para o cinema pelos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira e produzido pela Companhia Vera Cruz em 1965. O filme em preto e branco foi gravado em vários lugares, incluindo o povoado. Em uma das cenas filmadas no Distrito reproduz um duelo entre jagunços e permite ao expectador contemplar o acervo dos casarões que compunham a arquitetura da Vila.

A Igreja Matriz de Sant’Anna, edificada no século XIX, corresponde à 4ª fase do Barroco Mineiro e é uma obra arquitetônica de valor histórico inestimável, especialmente porque mantêm vivo o registro de uma época em que costumes e regras eram ditados mais pela fé do que pelas leis dos homens.

A edificação possuí uma torre com um grande sino, imagens de qualidade, altar principal, altares laterais, uma nave espaçosa, e coro (grande parte em madeira). Em 14/04/1998 o templo foi tombado pelo Decreto Municipal nº 2052 baixado pela Prefeitura de Patos de Minas através da SEMEC/Divisão de Patrimônio Histórico (conforme se extraí da placa afixada ao lado direito da construção).

No ano de 2012 as portas da Igreja Matriz foram fechadas, haja vista serem necessárias obras para restaurar o telhado e parte de sua estrutura interna. Mas foi apenas em janeiro de 2016, que o então prefeito à época, assinou a ordem de serviço para que a empresa Luma Engenharia iniciasse os trabalhos de restauração orçados no valor de R$ 200.924,45 (duzentos mil, novecentos e vinte e quatro reais e quarenta e cinco centavos), cujo prazo de conclusão seria de cinco meses.

Sete anos se passaram, em que pese o valor histórico, cultural e religioso, a Igreja Matriz de Sant’Anna está relegada ao segundo plano, abandonada aos cupins e à própria sorte; as portas da edificação nunca mais foram abertas aos fiéis, moradores e visitantes durante esse período.

Não se trata de defender esta ou aquela religião, a reabertura da Igreja Matriz é assunto que interessa diretamente a todas as pessoas que residem no Distrito, pois simboliza os alicerces sobre os quais os primeiros casarões foram construídos. Ademais, um povo sem história é um povo sem identidade, sem raízes e sem tradição.

As celebrações de Missas, batizados e festas populares foram transferidas para um barracão alugado. Em verdade, um galpão improvisado, que se não estivesse pobremente ornado com algumas imagens e utensílios que compõe o acervo da Igreja Matriz em nada lembraria ser um local de orações.

A fé em Deus, independente do credo, é inabalável, mas o mesmo não pode se dizer do poder público. A Prefeitura de Patos de Minas tem-se furtado a fornecer maiores informações ou adotar providências acerca da urgência de conclusão da reforma, como se tombar uma edificação secular se resumisse a colocar uma placa de mau gosto ao lado do patrimônio tombado.

A crença na benevolência do poder público em concluir a restauração da Igreja Matriz é posta à prova pela população dia após dia. Os habitantes veem desmoronar as madeiras, paredes e pinturas do prédio sem nada conseguirem fazer. Mantêm-se incrédulos que a restauração será concluída e ao mesmo tempo se fiam na providência divina para que a Igreja Matriz continue de pé, mas mantem as velas e a esperança acessas.

As pessoas, especialmente as mais velhas, falam com saudosismo da época em que as celebrações eram realizadas na Igreja Matriz. É possível perceber a tristeza que invade o coração e a alma dessas pessoas através das palavras de indignação e revolta ao falarem do jogo político da Prefeitura de Patos de Minas que emperra a conclusão da obra de restauração.

Infelizmente, Sr. Prefeito José Eustáquio (DEM) no próximo dia 28 de julho de 2019 será realizada a tradicional festa em louvor à padroeira que empresta seu nome ao Distrito ao qual a cidade de Patos de Minas já pertenceu, mas Sant’Anna desabrigada de sua morada há mais de sete anos será louvada na quadra pública, que atualmente também está caindo aos pedaços, em presença do Sr. Bispo que presidirá a celebração.

Nesta oportunidade, aproveito para convidar o ilustre Sr. Prefeito José Eustáquio para participar da Missa, às 10:00 horas de domingo próximo. Registro que será com ouvidos atentos e cheios de esperança que suas palavras sobre a questão ora apresentada serão ouvidas por todos os presentes.

Este pequeno texto é um apelo, um grito de socorro e um pedido de ajuda engasgado na garganta de todas as pessoas que querem ver a Igreja Matriz de Sant’Ana novamente de portas abertas.

Aline Cardoso de Faria.

Santana de Patos, 24 de julho de 2019.

* 1: Leia “Santana de Patos e o Grande Sertão: Veredas” e “Casa do Filme ‘Grande Sertão: Veredas’ em Santana de Patos”.

* Foto: Eitel Teixeira Dannemann publicada em 30/08/2016 com o título “Igreja Matriz de Santana de Patos”.

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