MARIA DA GRAÇA CORREA DA COSTA FALA DE SUA ARTE EM 1980

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Maria da Graça Correa da Costa, é natural do estado do Maranhão, residindo há vários anos em Patos de Minas. Vive numa família onde todos buscam de alguma forma ajudar o mundo artístico e cultural. Hoje um maiores empenhos é a luta pela sobrevivência da nossa Feira de Arte e Artesanato. É pintora criativista, impressionista, retratista e também decoradora. Realizou várias exposições em Patos e B.H. Seus principais professores foram: Bandeira (Escola de Belas Artes do R.J.); D. Terezinha Couto (Patos) e o Pintor Guinard. É formada em Belas Artes e concluiu vários cursos de atualização sobre pintura e decoração como o curso de decapê.

Dona Maria da Graça, a senhora como uma das fundadoras da FEIRA DE ARTE E ARTESANATO, o que tem a nos dizer e como começou a Feira de Arte e Artesanato em Patos?

A Feira de Arte e Artesanato é uma idéia muito antiga nossa. Mais ou menos em 1976 eu fui chamada na Prefeitura Municipal pelo Dr. Dácio Pereira da Fonseca, então chefe do Departamento de Educação e Cultura. Ele estava com idéia de fundar a Feira daqui. Então ele perguntou o que nós achávamos da idéia e quis formar uma comissão, que seria constituída por mim, a Terezinha Couto e a Déia. Conversamos e tal, andamos, procuramos aqui na cidade, prá ver até que ponto nós poderíamos contar com isso e chegamos à conclusão que naquela época, não era possível seguir em frente com a idéia. E aí, em 78/79, chegaram aqui dois artistas de BH, o Gaspar e o Baltazar. Então eles foram lá na Prefeitura e combinaram com o Dr. Dácio e resolveram fundar a Feira de Arte e Artesanato. Convidaram vários artistas daqui para ajudar e fundou-se assim a Feira de Arte.

Quantos membros estão inscritos na Feira de Arte?

Somos 140 no total, chegando gente quase todos os dias para inscrição.

Esse pessoal apresenta seus trabalhos todas as semanas? Participam?

Não. É um problema, porque eles se inscreveram e acho que nas primeiras Feiras havia muita gente. Mas como eles viram que a parte monetária não era compensadora, foram se afastando. Mas atualmente uns 20 frequentam todos os domingos, apresentando seus trabalhos.

A senhora falou sobre a exposição no Rio, Fundação Anchieta… A gente queria saber como é que foi a aceitação.

Essa exposição, é porque lá, não sei se SENAC ou SESI, acho que é SESI, já naquela época eles patrocinavam os cursos, então nesse ano, 1967, eu participei desse curso e tirei então, meu diploma de Professora de Decapê. Esse diploma é prá gente ter direito de dar aula em todo o estado do Rio. Então no final do curso fizemos a exposição, apresentamos nossos trabalhos.

Numa recente entrevista que fizeram com o senhor Paulo Piva, ele afirmou que em Patos de Minas a cultura é muito fraca. Gostaríamos de saber se a senhora concorda com isso.

Eu não acho não. Não concordo. Quando vim para Patos em 1969, já existia um movimento artístico. Desde 1970 a Dona Terezinha Couto e suas alunas realizavam uma exposição de pintura, lá na Casa das Representações ou em outros lugares da cidade. Estas apresentações constavam do programa oficial da Festa do Milho. Quando a Dona Terezinha solicitou nossa ajuda, na época éramos suas alunas, ajudamos a fazer a exposição, que aconteceu lá no Patos Social Clube. A cidade já se acostumara com esta promoção. A partir de 1970 eu praticamente tomei a frente da exposição. Mais tarde fui nomeada Presidente da Casa da Amizade, porque meu marido era o Presidente do Rotary Clube. Como sempre tive vontade de incentivar a arte aqui em Patos, continuamos com o programa das Exposições de Pintura. Programamos umas oito exposições. Em algumas eu apresentei trabalhos, outras eu só coordenei. A partir disto houve uma grande aceitação na cidade e a moçada começou a se interessar por pintura. Hoje em dia você vê a quantidade de professores que tem por aqui e um número muito grande de jovens se dedicando à pintura, para não falarmos das outras expressões artísticas.

Existe algum quadro que a senhora gostaria de já ter pintado, ou que pensa em pintar algum dia?

É difícil, porque sou pintora criativista. Então qualquer oportunidade que me surge crio logo um quadro. Então vou citar um exemplo: sábado passado eu fui assistir aquela apresentação do teatro aqui: “Por Trás das Câmaras”. Lá, naquele momento eu tive idéia de dois quadros. Quer dizer que isso surge assim, na brincadeira, então eu não sei dizer. Assim, cópias, eu acho que não tenho vontade, porque eu acho que é muito importante o artista criativista, por prá fora tudo o que ele tem dentro de si. Por eu acho, assim, por exemplo: você pinta uma paisagem. Uma paisagem real (casas velhas). É muito bonito, você inclusive, o mineiro é muito chegado a isso, ele gosta dessas coisas. Mas, “casas velhas”, você chega na frente delas e pinta. Ela está ali. Você copia e pode tirar uma fotografia e ela ficará guardada, né? Agora, o que está dentro da mente do pintor criativista, isso ninguém vai ver, se ele não puder para fora. É dele, então ele tem que criar. Eu acho que no tempo em que ele está fazendo um quadro, uma coisa assim, que é real, acho que ele está perdendo tempo, se ele não puser aquilo para fora.

O que poderia ser feito para valorizar o trabalho do artista patense?

Primeiro eu acho o artista patense um pouco descansado. Por exemplo, quando eu fiz uma exposição em BH, patrocinada pelo Banco Progresso, aliás foi patrocinada pela Associação dos Bancários e eu fui representando o Banco Progresso. Foi interessante, porque em Patos não tem Banco Progresso e eu fui representá-lo em BH. O Macro, um dos organizadores conversou comigo, prontificando-se a fazer uma exposição assim que terminasse aquela, só de artistas patenses. Ele traria a Kombi, levaria todo o material, patrocinava a exposição. Quando voltei, conversei com vários colegas e só um se interessou. Ninguém quis ir. Eu os acho um pouco acomodados. A maioria dos artistas patenses está naquela fase de cópia, não de criação. E numa exposição, cópia não é válido. Por isso que esta turma que está chegando agora, devia olhar mais para a criação. Os que vêm se projetando são todos criativistas.

A classe dos pintores patenses é conscientizada no sentido de transmitir pela arte as necessidades e anseios de nossa região, ou apenas executam um trabalho artístico?

Tá meio difícil. Se o pintor não cria, e sim copia, como é que ele vai levar a mensagem? Porque toda criação leva sua mensagem. Eu sou uma pintora mística, trabalho mais com fantasia.

Dentro de que espírito de trabalho a senhora mais se identifica?

Estou mais ligada ao estilo impressionista. Já pintei quadros clássicos, (o clássico você copia uma coisa que está vendo), o impressionista… por isso teve início a escola impressionista. Os pintores resolveram sair dos ateliers e ir para as ruas, tendo assim mais oportunidade de criar.

Qual a aceitação do patense em relação à Feira?

Ainda é muito fraca. É como se fosse um ciclo vicioso. O povo fica esperando que venham mais artistas, mais artesãos e que apareçam coisas novas. Agora para isto, é preciso que o povo compre para eles terem condições de empregar a renda em outros materiais, ampliar. E os artesões ficam esperando que o povo vá. Então um espera pelo outro. O povo agora já está começando a aparecer e principalmente quando chega gente de fora eles levam. No começo a Feira funcionava no jardim onde tem aquela estátua do homem com o balaio de milho. Mas o pessoal não passava lá porque as folhagens cobriam. Então resolveram passar para perto da Igreja Matriz para ver se o povo que ia às missas passava na Feira. A Feira dependia demais do movimento da Igreja. O povo que vai sempre às missas parece que cansou e não passa mais na Feira.

Até que ponto a Prefeitura colabora com a Feira de Arte e Artesanato?

Nós temos recebido grande apoio da Prefeitura. Eles fazem o que podem. Na Festa do Milho por exemplo eles nos deram uma barraca no valor de cem mil cruzeiros. E nos deram o lugar fixo lá em cima, doação feita pelo Sindicato Rural. Temos idéia de levantar esta barraca pelo menos uma vez por mês, e não o fizemos por falta de verba. A gente teria que levantar esta barraca no sábado à noite e seria perigoso deixá-la sem um vigia, porque ela poderia ser depredada. Teríamos que contratar um vigia e pagarmos também para montar a barraca, pois a Prefeitura só nos daria o transporte da barraca. Atualmente a maioria dos feirantes é do sexo feminino, só dois são homens. Por isto está sendo difícil a montagem da barraca uma vez por mês.

Esta barraca funcionaria lá em cima?

Não. No mesmo lugar da Feira. Já tem até buracos lá. Poderia ser até uma atração.

E quanto ao transporte dos trabalhos dos feirantes?

A Prefeitura parou de fazer este transporte, porque disse que estava ficando muito caro. E com isto atrapalhou muito a feira. Muita gente deixou de ir por causa do transporte. Eu por exemplo não tenho levado cerâmica por causa disto. Se for pagar taxi todos os domingos fica muito caro. A Prefeitura queria que os feirantes pagassem a gasolina, mas nós não temos condições. As nossas reuniões são feitas no saguão da Câmara dos Vereadores, por falta de sede. Estamos tentando legalizar a Feira como uma associação, se isto acontecer vai melhorar bastante.

Não seria necessário adotar um critério para a freqüência dos feirantes?

Com a eleição da nova diretoria, e eu como presidente, gosto das coisas muito organizadas e a primeira coisa que providenciamos foi o Regulamento da Feira e de acordo com o atual Regulamento o feirante que faltar a 4 domingos será eliminado. E as carteiras serão válidas por um ano, mas a maioria destas carteiras estão caducas e cada feirante que for renovar sua carteira terá que assinar o Regulamento.

A senhora é integrante de uma família que visa muito o campo cultural-artístico em Patos de Minas, quais suas expectativas quanto ao futuro artístico de Patos?

Eu vejo este futuro com muita expectativa. Para a cidade progredir a parte cultural tem que progredir junto. Tem que acompanhar. Aqui em Patos nós estamos formando a juventude. Vejam vocês, quais são os frequentadores de uma exposição? É a classe estudantil. Nas minhas exposições, 80% dos frequentadores são estudantes. Os mais velhos não estão muito por dentro de uma criação, principalmente a mística, não entendem a mensagem. Eles gostam muito mais de uma paisagem. Uma “casa velha”. Já os jovens procuram compreender e se interessam pelas criações místicas.

E esta criação mística do seu trabalho satisfaz o seu desejo artístico de criação?

Satisfaz. Os meus quadros não são todos místicos, eu vejo outros ângulos também.

Qual o pintor a senhora destaca entre os outros?

Gosto muito de Ary Barreiras, ele é de Niterói. Ele é um pintor clássico mas admiro muito as suas obras. Gosto demais do Rubens, porque também sou pintora retratista. Eu gostaria de pedir aos jovens ligados à pintura, que procurassem criar. Agora, antes de criar, aprendessem mesmo a desenhar. Porque o pintor para criar precisa desenhar. Que eles olhassem essa parte e depois partissem para a criação. Não fizessem só na cópia. Existe muita gente boa aí, escondida, com talento latente.

Este ano a senhora tem alguma exposição aqui em Patos?

Nós estamos pensando no II Encontro de Arte. Exposição só minha eu ainda não sei. Por motivos pessoais esse ano eu quase não pintei. Agora é que estou voltando à pintura.

* Fonte e foto: Entrevista de Inez Marina, Marco Antônio e Vicente de Paulo publicada com o título “Cultura − Se o pintor não cria, e sim copia, como é que ele vai levar a mensagem?” na edição n.º 11 de 15 de outubro de 1980 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

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