APARELHO AUDITIVO ESPIÃO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Nas décadas de 1970 e 1980, ele foi um empresário de enorme sucesso, não apenas em Patos de Minas, pois seus negócios alcançavam todo o Alto Paranaíba e quase todo o Noroeste de Minas. No auge dos lucrativos negócios, tinha até avião. E foi nesse auge que surgiu um problema de saúde inesperado: deficiência auditiva dupla. Fez um monte de exames, até em São Paulo, que detectaram a necessidade do uso de aparelho. No início ele não concordou, não queria que os amigos soubessem do seu problema. Mas a esposa e os filhos insistiam:

– Deixa de ser bobo, não tenha vergonha de estar com a audição diminuída. Pois saiba que muita gente importante usa aparelho, sem constrangimento algum.

Até que um dia ele concordou. E até que não foi tão constrangedor assim. Infelizmente, com a passar do tempo, a deficiência auditiva foi piorando e a necessidade de um aparelho mais moderno se fez presente. De novo, a família, e dessa vez os amigos, insistiam para que ele trocasse o aparelho. E ele foi levando, ouvindo pouco, até que a família e os mais chegados cansaram de insistir.

Certo dia fez uma viagem de negócios a São Paulo. Lá, através de seus parceiros, ficou sabendo da última tecnologia em aparelhos auditivos, praticamente igual ao que usava, mas de uma potência fantástica.  Foi um espanto, ficou maravilhado, passou a ouvir até formiga roçando as patinhas. Um ano depois, ele voltou a se encontrar com seus parceiros paulistanos. Um deles perguntou:

– A família ficou feliz com o novo aparelho?

Ele coçou o couro cabeludo e respondeu com um certo ar de malícia:

– Ainda não contei, mas já mudei o meu testamento cinco vezes!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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