INOCENTE ISABEL, A

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Todo sábado o Zé Antônio deixa a sua roça banhada pelo Córrego Estiva, no distrito de Alagoas, e vai à Sede com a esposa Rosalda e a filha única de 13 anos para passear pelo Centro da cidade e comprar o necessário para o lar. Isabel, paixão do casal, não é muito certa da cabeça, isto é, parece que o cérebro não está acompanhando a idade, daí ser um tanto lerda em entender as manhas e modernidades. Mas ela é criteriosa, com total respaldo do casal: primeiro, fazer o sinal da cruz em frente à Catedral de Santo Antônio não faltando um leve aceno de mão para o busto de Monsenhor Fleury; depois, cruzar a Galeria Ferreira pelo menos umas três vezes; e finalmente, saborear um pastel de carne no Nazareno. Então, sim, estavam liberados para a andança pelo Centro com fim de roteiro no Mercado Municipal.

Admirar as vitrines de lojas, especialmente as de roupas, é o que ela mais gosta. Olhar fixo nas peças à mostra, fica lá um tempão, desejando possuir todas aquelas novidades da moda para desfilar com elas perante suas amigas rurais. Infelizmente, os pais não podiam lhe satisfazer o desejo. Apesar de viverem sem dificuldades e nada faltar para uma vida digna, o dinheiro ganho com muito custo na lavoura não dava para certas extravagâncias.

Certa vez, enquanto o casal comprava algumas peças de cama e banho, uma chamada na vitrine da loja ao lado despertou a curiosidade da garota. Ela analisou bem, e muito bem, considerou uma oferta imperdível e resolveu entrar:

– Moça, isso que está escrito vale para todas as roupas?

Como a vendedora respondeu afirmativamente, Isabel só faltou explodir de felicidade, pois, finalmente, poderia ter todas as roupas que sempre sonhou sem onerar o bolso dos pais. E danou a escolher shortinhos, vestidos, calças, camisas e muito mais. Aquilo assustou as vendedoras, pois a garota foi abarrotando o balcão e pelas vestimentas simplórias não tinha jeito para ter dinheiro para pagar tudo aquilo. Quando já não cabia mais roupa no balcão, uma vendedora resolveu intervir:

– Garota, você tem dinheiro para pagar isso tudo?

Ela respondeu que sim e foi buscar o dinheiro com os pais. Quando a vendedora recebeu uma nota de cem reais ficou pasma:

– O quer é isso, garota, você quer pagar tudo isso com uma nota de 100? Por um acaso você bebeu?

– Ora, não bebo não, viu, e você me disse que eu podia comprar que nem explica o cartaz.

– Mas que cartaz?

– Ora, aquele pregado no vidro.

No cartaz pregado no vidro estava escrito: Promoção – Preço Máximo: R$ 99,90.

Pois é, a garota, na sua santa inocência, acreditou que podia levar tudo o que quisesse por R$ 99,90 sem entender que era o preço da peça mais cara. E assim, Isabel, de traulitada em traulitada, vai se emaranhando nas vicissitudes da vida, sempre com os carinhos atenciosos da mamãe e do papai.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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