SANIDADE PRECÁRIA EM 1906

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TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1906)

Escrevendo, só de longe em longe, nunca a politica local preocupou o nosso espirito; em nossos artigos não se encontraram nunca palavras de sensação, que são as armas dos agitadores; quizemos antes ser soldado da idéa, do que marechal de Cesar; forçoso é porem, que chamemos a attenção dos poderes competentes para o estado sanitário da cidade, começando pelo cemiterio, construido no coração da mesma, até as emanações deleterias dos chiqueiros, base das febres que aqui reinam endemicamente.

O largo da matriz é uma verdadeira invernada, até tropas de viajantes vem pastar ahi, e muita gente abate porcos e vacas no meio das principaes ruas; as aguas são de tal natureza que só a grande propriedade bactericida dos humores, impede que a população fique dizimada.

O governo trata de crear grupos escolares, escolas modelos, jardins de infancia etc., não se lembra porem, que estas crianças para o ensino das quaes se faz tanto dispêndio, são uns pansudinhos lombriguentos, de um amarello sujo, devido a má hygiene dos logares onde habitam.

As igrejas e os estabelecimentos publicos aqui nunca foram lavados, quando deviam sel-o e tambem caiados annualmente, conforme pensa o pai da hygiene publica, escarros de tuberculosos, bafejos de morpheticos, existem aqui por toda a parte, e nem uma medida prophylatica. Desculpe-nos o leitor, se saímos da penumbra que nos envolve, para censurar o que é digno de censura, não somos zoilos, tudo isso existe, queremos é remédio para os males que nos affligem.

O Dr. Almeida clamou muitas vezes pela viação, nós clamamos pela saúde do povo. Quando na cidade de Bambuhy a camara reuniu-se para fundar-se um theatro, disse eu algures, que na cidade não havia ruas para se andar de dia, quanto mais para se ir ao theatro á noite, e a camara andou bem avisada pois o theatro não se fundou. Agora dizemos nós, para aquelles que querem illuminações, automoveis, carros de praça, etc., preferimos um serviço de desinfecção, um pequenino hospital, uma fiscalisação na alimentação do povo, e assim crearemos para este logar, aquelle estado paradisiaco que a bíblia lobrigou no seu berço.

* Fonte: Texto publicado com o título “Rabiscos e Sinecuras” na edição de 09 de dezembro de 1906 do jornal O Trabalho, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: Blogdotarso.com.

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