A osteoartrite (OA) é um termo que se refere ao processo patológico degenerativo, de progressão lenta, das articulações diartrodiais (articulações livremente móveis, permite movimento entre os ossos). É caracterizada pela perda de conformação da cartilagem, causando rigidez e redução de mobilidade articular, com posterior exposição do osso subcondral. É um quadro autoperpetuante e doloroso, podendo ser monoarticular ou poliarticular, assim como sintomático ou clinicamente silencioso. Dentre as afecções que aparecem durante o envelhecimento felino, a osteoartrite é uma das principais causas de alteração nesta fase. Devido à natureza predatória felina, demonstrar sinais de fraqueza significa se tornar um alvo para outros predadores. Dessa forma costumam esconder dor e doenças, logo, a osteoartrite é diagnosticada com maior frequência em cães.
A causa não é totalmente elucidada, provavelmente abrange o estágio final de diferentes enfermidades. Como parte da etiologia, são citadas enfermidades primárias (doenças) e secundárias (traumas e/ou desgaste crônico). Os principais fatores de risco são envelhecimento e obesidade. Os gatos deixaram de ser predadores que se alimentavam de pequenas presas e passaram a ser sedentários com alimento a disposição o dia inteiro. Estudos radiográficos apresentam prevalência de 20% em gatos de todas as idades e até 90% em animais com idade acima de 12 anos. Para cada ano acrescido a idade dos felinos, a partir dos 10 anos, a probabilidade de desenvolvimento de doenças degenerativas articulares aumenta em cerca de 13,6%.
Os sinais clínicos variam individualmente e de acordo com a gravidade da lesão e articulações afetadas. Clinicamente é uma enfermidade de progressão lenta, caracterizada por dor articular, rigidez, relutância para andar, subir e descer escadas, claudicação, redução da tolerância a exercícios em atividades comuns, redução do hábito de lambedura, alteração no hábito de afiar as garras e dificuldade de acessar e usar a caixa sanitária. Com a progressão da doença a claudicação se torna evidente e persistente, em casos mais graves atrofia muscular está presente. As articulações mais afetadas são ombros, cotovelos, coxofemorais e joelhos. O diagnóstico pode se apresentar como um desafio para o Médico Veterinário, pois os gatos conseguem mascarar doenças ortopédicas severas. Deve ser elaborado a partir da união de informações oriundas da anamnese e histórico clínico, exame físico e ortopédico, e achados radiográficos característicos. Como é uma doença progressiva e irreversível, o tratamento consiste em modalidades paliativas com o objetivo de reduzir processos dolorosos, promovendo qualidade de vida para o paciente. Os principais tratamentos disponíveis são uso de anti-inflamatórios não esteroides, manejo nutricional e uso de suplementos condroprotetores, manejo ambiental, manejo de peso, fisioterapia, acupuntura e manejo cirúrgico.
Associado às orientações técnico-veterinárias, o manejo ambiental é essencial para promover conforto e qualidade de vida dos felinos afetados. Modificações aparentemente simples combinadas com o tratamento medicamentoso são capazes de impactar positivamente as condições físicas e psicológicas dos animais idosos. Felinos com OA possuem dificuldade para saltar e alcançar superfícies mais altas; logo, arranjar os móveis estrategicamente ou colocar rampas e bancos para permitir o acesso a áreas mais altas são de grande ajuda. Existe uma variedade comercial desses objetos, mas opções caseiras também são efetivas. A bandeja sanitária também deve ser adaptada a fim de permitir um posicionamento confortável, devendo ter um lado mais baixo para facilitar o acesso e dimensões maiores; existem opções comerciais ou podem ser improvisadas. Também devem ser fornecidas camas acolchoadas ou locais confortáveis para o animal dormir com o objetivo de proteger as articulações. O uso de arranhadores improvisados ou comercialmente fabricados ajudam a prevenir crescimento excessivo das unhas. Além disso, diferentes autores referem que o felino deve ter acesso fácil aos potes de água e comida, e que estes sejam espalhados pela casa e também é indicado colocá-los um pouco acima do chão. Interações positivas como carinhos e escovação são fortemente preconizadas porque reforçam os laços entre o animal e o proprietário, e ainda estimulam a liberação de endorfinas, ajudando-o a relaxar e lidar melhor com a dor crônica. Arranjar os móveis para formar degraus é de grande ajuda. Existem produtos comerciais como escadas para esse fim.
O controle de peso também é essencial, uma vez que a obesidade é um fator que agrava a doença por gerar maior pressão nas articulações, causando dor e, como consequência, fazendo com que o animal se movimente menos, criando um ciclo vicioso. Em algumas situações apenas o controle do peso já beneficia o quadro clínico do paciente, permitindo maior mobilidade e qualidade de vida. Exercícios leves são benéficos, pois contribuem para a mobilidade articular e evitam atrofia da musculatura esquelética. Entretanto, realizar exercícios não é uma tarefa fácil porque gatos são menos tolerantes à manipulação. Logo, é preconizado exercitar o animal com uso de brinquedos como varetas, bolinhas, ratinhos e uso de lasers para manter o felino ativo e mentalmente estimulado, além de promover interação com o proprietário. Massagens também podem ser ensinadas ao proprietário para aliviar dores musculares e melhorar a mobilidade articular pelo aumento de fluxo sanguíneo local. Podem ser usadas bolsas de água quente na região do corpo afetada por 15 a 20 minutos, uma a três vezes ao dia. O tratamento cirúrgico é a última indicação do Médico Veterinário, quando o tratamento conservativo não for suficiente para controlar a dor.
* Fonte e foto: Osteoartrite em Felinos: Revisão de literatura e apresentação de um caso clínico, de Thaís de Oliveira Jorge da Costa (Orientadora: Prof.ª MSc.Christine Souza Martins). Trabalho de conclusão de curso de graduação em Medicina Veterinária apresentado junto à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (julho/2017).