Domingo de Páscoa, dia 22 de abril de 1984. A cidade estava vivenciando o último dia do 4.º Encontrão – Cantar na Praça. De manhãzinha a Banda do 15.º BPM nos presenteou com uma linda Alvorada e depois uma retreta infantil. Houve ainda a Lira Mariana. Com o tempo um pouco nublado e o sol rompendo as nuvens com um sorriso cativante, a animação do povo se intensificou com palhaços, teatro infantil com participação das Escolas Polivalente e Cônego Getúlio, dança com a participação da Academia de Ballet Cristiane Morais, apresentação do Grupo de Capoeira Mãe Preta com os alunos do CIAME e até o Mamulengo Pagode de Brasília.
Foi nessa agitação cultural que de repente, não mais que de repente, surgiu um anônimo fantasiado de palhaço com um boneco no ombro direito igualmente fantasiado de palhaço: era um ventríloquo. Serenamente, o fulano acomodou-se na beirada do pequeno palco, ajeitou o boneco no colo na posição tradicional de todo ventríloquo e começou a chamar a atenção dos presentes. O carinha parecia ter jeito com o boneco, pois não demorou o povo se ajuntou e logo vieram as risadas e os aplausos. Até que ele, que dizer, o boneco, teve a infeliz ideia de contar uma piadinha de loura:
– Sabe quando você descobre que uma secretária loura esteve usando o computador? É só reparar as marcas de corretivo na tela!
Pra que! Enquanto se ouviam fartas gargalhadas, principalmente dos homens, uma loura irritadíssima gritou do meio da plateia:
– Olha aqui, seu machista, quem você pensa que é para falar mal das louras? Por um acaso você se julga mais inteligente que nós?
É, o ventríloquo não conhecia as louras patenses. De prontidão o homem começou a pedir mil desculpas à loura, solicitando veementemente para ela não se chatear com ele porque tudo era uma brincadeira, humor e etc. e tal. A mulher¹, não se conformando nadinha com aquelas palavras, deu um grito de onde estava e mais vermelha que tomate maduro lascou:
– Ei, você aí, quer calar a boca e não se intrometer na conversa dos outros. Quem te pediu opinião? Não tenho nada a ver contigo, cara, minha bronca é com esse anãozinho machista aí sentado no seu colo!
* 1: Até hoje não foi confirmado se a tal mulher era loura falsa ou verdadeira.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.