Seu nome completo é José Erinaldo Dutra, mas dentro das quatro linhas ele é conhecido como o explosivo quarto-zagueiro Dutra, jogador de muita raça, amor à camisa e fidelidade às cores do Mamoré Esporte Clube. Disposição é o que não falta neste atleta de 26 anos que virou ídolo da torcida esmeraldina, nas últimas temporadas. Ele surgiu em Patos de Minas em 1989, indicado pelo experiente técnico Waldir Silva, jogando na lateral-direita da URT, que na época era dirigida pelo treinador Domingos Barone, o popular “Mingo”. “Ainda bem que o Dutra chegou, gostou e ficou”, comemora um dirigente do Verdão, satisfeito por tê-lo no plantel do clube. “A gente só lembra do Dutra na hora de escalar o time, porque sabe que vai entrar em campo ele e mais dez”, brinca Paulo Amâncio, ex-diretor de futebol do Mamoré, elogiando o comportamento exemplar do atleta. Filho de uma família de pobre, o zagueiro foi descoberto ainda garoto para o futebol profissional em 1986 jogando pelo Vasco, time amador de Tupaciguara, sua terra natal, que disputava o torneio “Tubal Vilela”, em Uberlândia. O próprio Waldir Silva o transferiu para o quadro de atletas juniores do Uberlândia Esporte. Na ocasião, ele se revelou um craque jogando na Taça Maringá e no Campeonato Mineiro de Juniores. No final da temporada fraturou o tornozelo esquerdo e acabou não sendo emprestado ao Clube dos Cem de Monte Carmelo, que disputava a Segundona.
Na URT, Dutra não teve sorte, mas sempre jogou como titular. Faltou experiência ao time celeste, formado por jogadores jovens, na faixa etária de 22 anos, que enfrentou a Segundona de 1989. Após a desclassificação da URT, o jogador voltou para o seu Clube de origem, se dedicando exclusivamente aos treinamentos técnicos. Extraiu do fracasso a experiência para dar uma nova dimensão à sua carreira profissional.
Destino
Dutra nem pensava em retornar à Patos de Minas em 1990, mas o destino o forçou a se transformar num patureba de primeira hora. Graças à nova intervenção do técnico Waldir Silva, o zagueiro voltou à Capital do Milho, desta vez para reforçar a equipe do Mamoré, que retornou ao profissionalismo depois de 20 anos de amadorismo, participando do Campeonato Mineiro da Terceira Divisão. Ainda jogando na lateral, Dutra foi a principal estrela do time esmeraldino, que acabou sendo o campeão do torneio. No ano seguinte, quando Brandãozinho assumiu o comando técnico do Verdão, o jogador experimentou mudança de posição de lateral para quarto-zagueiro. O fato aconteceu num jogo contra o Juventus, de Divinópolis, por causa de uma contusão do zagueiro titular. “Silvestre sentiu uma fisgada na coxa e o João Henrique incentivou o professor Brandão a me descolar para a quarta-zaga”, lembra Dutra. Esta mexida foi o bastante para consolidar o jogador como titular absoluto da posição, onde destacou-se como peça chave do time. Aguerrido, Dutra só foi afastado da equipe esmeraldina depois de quebrar o tornozelo direito. A contusão o deixou no estaleiro por cerca de 8 meses e, coincidentemente, ele só voltou a jogar na partida contra o Coromandel, quando o Mamoré assegurou a conquista da Segundona/90.
Reserva
No ano de 1992 durante a Copa Minas, Dutra enfrentou a primeira batalha para manter-se na condição de titular do Mamoré. O elenco do time Esmeraldino passou a contar com quatro excelentes zagueiros, inclusive, Joãozinho, um jogador de ótimo nível técnico contratado da URT. Depois de demonstrar um desempenho fenomenal no Clube Celeste, Joãozinho transferiu-se para a Toca do Sapo com panca de dono da posição, ao lado do veterano João Henrique. Humilde, Dutra foi para o banco transformando-se num reserva de luxo. Só voltou a ser escalado numa partida contra o Uberlândia, seu ex-time, devido ao fato de Joãozinho e Silvestre terem se contundido. Depois deste jogo, ele não perdeu mais a posição e pela terceira vez, foi considerado o melhor jogador do Campeonato. No ano passado, sua estrela continuou a brilhar. Apesar do Mamoré ter sido desclassificado do Campeonato Mineiro da Primeira Divisão, Dutra se revelou no cenário do futebol das Gerais, marcando craques do quilates de Renato Gaúcho, do Atlético Mineiro e Ronaldo, ex-Cruzeiro, Seleção Brasileira e atualmente no PSV da Holanda.
Dono do próprio passe, que ele evita qualquer avaliação de preço, o quarto-zagueiro é cobiçado por vários times de grande porte, mas não revela o conteúdo das propostas que já recebeu para deixar o Verdão. No momento, sua preocupação é concluir o curso de contabilidade que faz no Colégio Da Vinci e prestar vestibular para Direito, aqui mesmo, em Patos de minas. Enquanto aguarda o retorno das atividades do Mamoré, Dutra aproveita para descansar, mas já se sente preparado para enfrentar a temporada do próximo ano. Gozando de grande prestígio junto à diretoria do Clube Esmeraldino, ele já recusou propostas do Vitória, do Espírito Santo e do América Mineiro. Dutra desmente também os comentários de que poderá voltar a jogar na URT. Tudo indica que sua intenção é continuar no Mamoré, onde é o único jogador que participou de 80% das partidas jogadas pelo time nos últimos quatro anos.
* Fonte e foto: Texto de Bonna Morais publicado com o título “Chegou, gostou e ficou” e subtítulo “O craque de Tupaciguara que virou patureba” na edição n.º 4 de outubro-novembro/1994 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.