BÊBADOS DESESPERADOS

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Sentados num dos bancos da calçada da Avenida Piauí, bem de frente à Rodoviária, três chapados – desocupado e bêbado é o que não falta na orla da Lagoa Grande – bebericavam os últimos goles de uma garrafinha plástica de cachaça. Um deles se manifestou:

– Ô meu, agora é a sua vez de buscar. Vamos juntar todo o nosso dinheiro pra ver quanto ainda temos.

A dificuldade deles em buscar em cada bolso algum troquinho era tamanha que cada tentativa se transformava num contorcionismo absurdo, porque mal conseguiam ficar em pé. Concluída a busca, um deles rosnou:

– Só três real e dez centavos? Uai, sô, nóis então já bebeu demais da conta. Num importa, nós vai beber mais ainda. Vái lá Tião, é a sua vez de comprar o carotinho.

O escolhido Tião, numa dificuldade tremenda de firmar os pés no chão, foi a um bar da Rodoviária comprar o líquido precioso. Voltando com o carotinho dentro do bolso traseiro da bermuda já quase no meio da bunda mostrando uma cueca branca encardida toda vida, atravessou a Avenida Piauí e quando foi subir na calçada deu uma trupicada, caindo de bunda no chão. Imediatamente ele levou a mão e sentiu a traseira toda molhada. Os dois companheiros cercaram o amigo tão desesperados que parecia o fim do mundo para eles. Com os olhos arregalados faziam gestos para o Tião se levantar. Enquanto isso o Tião, de olhos totalmente cerrados, talvez para não presenciar uma possível tragédia, esfregava as mãos no chão, sentindo o molhado. Uma agonia foi tomando conta dele até que, num gesto abrupto, levantou as mãos para o céu e bradou com todas as forças:

– Ó Deus todo poderoso, ó Deus criador do Céu e da Terra, me ajude, por favor, não me abandone, faça com que esse molhado na minha bunda seja simplesmente e somente sangue!

Mas não teve jeito. Quando os três confirmaram que do carotinho só restavam os frangalhos, saíram caminhando pela Avenida Piauí em sentido à Major Gote, mal se sustendo em pé, com o Tião recebendo dos dois amigos os piores agrados possíveis.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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