José Alves Pinto era Capitão da 4.ª Companhia do 3.º Batalhão da Primeira Legião da Guarda Nacional em Pitangui. Iniciada a rebelião legalista de 1842 toma parte ativa na mesma. Mesmo assim, é demitido por ato de 10 de outubro de 1842. Desgostoso, vai com a esposa Ana Guilhermina de Mello para Congonhas do Sabará (atual Nova Lima). Em 25 de abril de 1846, nasce o filho Getúlio Alves de Mello.
Poucos anos depois, se transfere para Divino Espírito Santo do Itapecerica (atual Divinópolis), acompanhado do sogro e professor João Vaz de Mello, este nomeado regente da primeira escola primária do lugar. Homem devoto, José inicia a construção da Igreja do Rosário, já demolida para dar lugar ao mercado municipal.
Quando os irmãos Antônio e Jerônimo Dias Maciel vieram para Santo Antônio dos Patos, em 1858, José e família os acompanhou.
Aos doze anos de idade o pequeno Getúlio freqüenta a escola primária do professor Antônio José dos Santos e Formiguinha e auxilia o padre Manoel de Brito Freire nos ofícios religiosos.
Ingressando no Seminário de Mariana, foi ordenado em 29 de março de 1875, quando bispo Dom Antônio Ferreira Viçoso, Conde da Conceição. O Cônego Raimundo Trindade, pesquisador bastante informado sobre a história do Arcebispado de Mariana, conta que Getúlio se destacou entre os leigos mais notáveis que passaram pelo Seminário Menor.
Ordenado, padre Getúlio veio para o paroquiato patense, do qual tomou posse em 20 de julho de 1875. Logo fez valer os conhecimentos e prestígio que desfrutava junto às autoridades ouropretanas, resultando daí a formação da Comissão Diretora das Obras da Matriz de Santo Antônio. Os trabalhos tiveram início em 1876, sob a orientação direta do pároco, que passou a integrá-la a partir de 1878.
Por três vezes padre Getúlio foi provisionado pároco de Santo Antônio de Patos. A primeira, provisoriamente, em 31 de julho de 1875, provisão passada na Vila de Patrocínio, pelo vigário Modesto Marques Ferreira, presbítero secular do Hábito de São Pedro e vigário forâneo da 4.ª vara da Vigararia Geral do Novo Sul do Bispado de Goiás. A segunda, ainda em 1875, a 29 de setembro, por Dom Joaquim Gonçalves de Azevedo, bispo de Goiás.
Um caso pouco conhecido na carreira do padre Getúlio ocorreu em 1885. Todavia, parece que seu começo foi no ano anterior. No “Livros de Casamentos” – n.º 1 – Arquivo da Diocese de Patos de Minas – Página 30, em visita pastoral, Dom Cláudio José, Bispo de Goiás, deixou a seguinte observação: “Muito e muito recomendamos ao Revmo. Pároco que tenha maior cuidado do que até o presente com os assentos de casamentos celebrados em sua Freguesia = Santo Antônio dos Patos, 31 de agosto de 1884 = Cláudio José, Bispo de Goyaz”.
Ao que tudo indica, padre Getúlio não se entendia bem com o prelado. Tanto que, no ano seguinte comunica à Câmara Municipal sua demissão do lugar de pároco encomendado, em lugar de fazê-lo a Dom Cláudio José. A demissão foi efetivada, por poucos meses, voltando depois o padre Getúlio ao paroquiato.
Já com Dom Eduardo Duarte da Silva, empossado em 1891 como Bispo de Goiás, seu entendimento foi sempre cordial. Em 1896, mudada a sede do bispado goiano para Uberaba, Dom Eduardo teve no vigário Getúlio um precioso colaborador na concretização da diocese uberabense, inaugurada a 24 de maio de 1908.
A sede da diocese goiana foi transferida para Uberaba em razão do desacato a Dom Eduardo e à igreja, nos dias 5, 6, 7 e 12 de setembro de 1896, com passeata e outros atos abusivos, e dada ainda a hostilidade por parte do presidente de Goiás, que era anticlerical.
As insígnias de cônego foram-lhe entregues a 1.º de janeiro de 1910. Um ano depois, comemorando o 1.º aniversário de sua elevação à alta dignidade, foi alvo de calorosa manifestação, durante a qual usaram da palavra os drs. Marcolino Ferreira de Barros e Euphrasio José Rodrigues. Chorando, o velho cônego agradeceu. Disse que tinha batizado todos os manifestantes ali presentes e que desejava vê-los assim reunidos, quando o levassem de sua casa para a sepultura. Terminou, afirmando que jamais deixaria este povo, não obstante lhe terem sido oferecido oferecidas freguesias mais rendosas, nos pontos de estradas de ferro.
No dia 19 de novembro de 1919 sua vontade era cumprida. Seus fiéis, em pranto, o levaram à ultima morada. Contava 73 anos de idade. Toda uma carreira sacerdotal dedicada ao povo patense que por ele tinha um respeito filial.
Seu sepultamento teve lugar na velha Matriz, aos pés do altar de Nossa Senhora da Abadia. Dois anjinhos, ladeando a Virgem, olhavam sua cova. Outros dois, de olhos voltados para cima, encaravam a inscrição que o cônego Getúlio mandara afixar no arco da nave: “Domus Mea, Domus Orationis Est”. Seus ossos foram transferidos depois para a nova Matriz, a Catedral de Santo Antônio.
Com o falecimento do Cônego Getúlio, por provisão de 12 de fevereiro de 1920, é nomeado Vigário o Cônego Manuel Fleury Curado, que tomou posse a 29 de fevereiro do mesmo ano, dada pelo Vigário de Patrocínio, Pe. Thiago dos Santos, Delegado do Bispo Diocesano.
* Fontes: Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.
* Foto: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.