Quando a gente está próximo do fim só nos restam as lembranças. Desde nova fui simples, humilde e aconcheguei inúmeras consciências. Sabe-se lá que consciências. Mas, desde o primeiro tijolo assentado, passei a pertencer à História de Patos de Minas. Assim como muitas irmãs. Sim, quem reparar com precisão verá inúmeras iguais a mim espalhadas pela cidade, a típica simplicidade arquitetônica, com uma janela na fachada, o alpendrezinho básico e a porta de entrada para a minúscula sala. Não importa, sempre fui econômica em espaços, mas fui muito feliz.

Lembro-me quando me inauguraram, foi no início da década de 1950. Toda essa região onde hoje se situam os Bairros Cristo Redentor, Santa Luzia e Vila Rosa pertencia a Ilídio Caixeta de Melo. A grande lagoa que ocupava parte do terreno já foi conhecida como Lagoa dos Japoneses devido a existência de uma colônia daquele povo que habitava em suas margens. Em 1953, Ilídio resolveu lotear o imenso terreno que foi registrado na Prefeitura como Loteamento n.º 46 (Bairro Cristo Redentor)¹. Agora, vejam só, quase setenta anos depois nem sei mais onde estou. Aliás, pelo menos não esqueci que, por enquanto, estou estabelecida à Rua Vereador João Pacheco entre as colegas Mato Grosso e Rio Grande do Norte.

Ó tristeza, prestes a encerrar o meu ciclo de vida, quando eu for ninguém mais se lembrará de mim, a não ser as consciências que me habitaram. Vou em paz, e mesmo não sendo reverenciada como os casarões da elite, jamais deixarei de fazer parte da existência da cidade. Este verso da música “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia, fala por mim: Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade. Com certeza, e assim vou para a eternidade!

* 1: Leia “Loteamento Ilídio Caixeta de Melo”.

* Texto e foto (13/12/2016): Eitel Teixeira Dannemann.