INSPEÇÃO DE ENSINO E O PROFESSOR MODESTO EM 1910

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Dois relatórios, de 1901 e 1910, traduzem de maneira contundente e objetiva como era feita a inspetoria de ensino e a situação das escolas patenses num período de 17 anos.

Pelo relatório de 1901, temos notícia de uma escola municipal, dirigida até 1898 pela inglesa Eliza Jane Smith, e então sob a responsabilidade de Honorina Caixeta de Melo Ribeiro, nomeada em janeiro de 1899. Aconduta da diretora é louvada, como irrepreensível, sendo ela responsável por 44 alunas, 26 das quais estavam presentes por ocasião da inspeção.

O prédio da escola era propriedade particular. Sala escolar convenientemente iluminada, mobília suficiente, em bom estado. As alunas estudavam os compêndios de Felisberto Carvalho, do segundo livro em diante, e aritmética de Trajano.

A inspeção na escola particular feminina, de Maria Carolina de Andrade Soares, aberta em setembro de 1898, acusa doze alunas presentes das 44 matriculadas.

Estudavam compêndios de Abílio César Borges, aritmética de Catorriet e as quatro operações fundamentais. Algumas tomavam aulas de canto e piano. Sala de aula confortável, mobiliário insuficiente.

Das escolas do sexo feminino, o inspetor  passa para as do sexo oposto, começando pela do professor Felipe Rodrigues Corrêa, por ele considerando como “intelectualmente acanhado e desinteressado”, depois de assistir às suas lições.

A mobília da escola não contrasta com a imagem do mestre Felipe, traçada pela autoridade. Quatro bancos simples, uma mesa tosca pertencente ao professor. Quanto a utensílios escolares, não existia um só. Prédio de propriedade particular, condições higiênicas precaríssimas, falta absoluta de asseio, e do mais ligeiro conforto. Método individual de ensino. Os alunos mais adiantados em número diminuto estudavam de cor princípios de gramática portuguesa, geografia e história do Brasil. Empenhavam-se nas quatro operações fundamentais. Arguidos nestas matérias, mostraram-se atrasados. Os da classe média, ou segunda, liam mal o segundo livro de Felisberto Carvalho e o de Hilário, e iniciavam-se na contabilidade. Os mais atrasados, da terceira classe, começavam a soletrar.

A escola seguinte, a ser visitada, do professor Modesto de Melo Ribeiro, instalada em prédio pertencente ao Estado, merece elogios. O estado geral do estabelecimento é apontado como satisfatório. O mobiliário compunha-se de cinco bancos com carteiras e uma pequena mesa, propriedade do Estado. Quanto aos utensílios, somente um quadro negro pertencente ao professor.

A alta direção do ensino não era equânime no atendimento aos alunos pobres da duas aulas. Enquanto os discípulos do professor Felipe não tinham sido contemplados com distribuição alguma de livros didáticos, os do professor Modesto haviam recebido cartilhas nacionais, gramática portuguesa de João Ribeiro, aritmética de Cottorriet, gramática infantil de Thomaz Brandão, primeiro, segundo e quinto livros de Felisberto de Carvalho, geografia de Apollo, “Coração” de Amicis, curso de desenho de Olavo Freire, cânticos escolares e Constituições da República e de Minas.

O método simultâneo de ensino seguido pelo professor Modesto não deixa de ser elogiado. A primeira classe estudava aritmética, geografia e história do Brasil, e princípios de gramática portuguesa, e segunda, ou média, o segundo livro de Felisberto de Carvalho, e a terceira, a mais atrasada, silabação. A matrícula efetiva era de 48 alunos e a escrituração da escola estava em ordem. Terminando, assevera o inspetor: “O professor dispõe de habilitações para o cargo e sua conduta moral é reconhecida”.

Nove anos depois, a 23 de agosto de 1910, o inspetor Alceu de Souza Novais lança o seguinte em seu relatório sobre a visita que fez à escola do professor Modesto de Melo Ribeiro:

Visitei a escola estadual regida pelo professor Modesto de Melo Ribeiro, encontrando-o no exercício do cargo. Pequeno foi o meu trabalho de assistência nessa escola, então boa hora confiada ao seu atual titular, que num desempenho de sua missão emprega o melhor de seus esforços.

Professor inteligente, criterioso e sumamente dedicado ao magistério, o Sr. Modesto de Melo Ribeiro é, na realidade, um dos ótimos professores com que o Estado de Minas pode contar para o elevamento da instrução pública, primeira no conceito popular.

Tendo o professor ficado com clara noção do método intuitivo e ensino simultâneo nada mais preciso consignar aqui, além das excelentes impressões que me causou a sua escola.

Este e outros relatórios justificam, em grande parte, a decisão do governo, em 1913, de transferir o professor Modesto para Patrocínio, como diretor do Grupo Escolar daquela cidade. Transferência que feriu os brios patenses, ao verem removido o regente de sua escola pelo espaço de 22 anos. Sentiram então, que somente a construção do Grupo Escolar de Patos poderia trazer de volta o estimado mestre. E começaram a trabalhar nesse sentido.

* Fonte e foto: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

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