No início de 1912, toda a extensão da hoje denominada Avenida Getúlio Vargas era um autêntico descampado ladeado por construções baixas. No Verão, nuvens de poeira se formavam constantemente. No tempo das chuvas, até a cavalo era difícil transitar em meio a tanta lama. Com o objetivo de melhorar o aspecto da avenida e também providenciar um local de diversão para o povo, alguns moradores do Largo do Rosário¹ e proximidades, entre eles Cel. Arthur Thomaz de Magalhães, Aurélio Teodoro de Mendonça, Antônio Dias Maciel Júnior, Sebastião de Mendonça, Joaquim Alves da Cunha e Bráulio Maciel decidiram, por conta própria, construir naquele espaço um jardim público com um coreto. Para tanto, criaram a Comissão Construtora do Jardim Público no Largo do Rosário. A obra foi executada e financiada através de doações e arrecadações em algumas quermesses. Além disso, os responsáveis pela construção pediram à Câmara Municipal ressarcimento dos gastos.
Conclui-se que um grupo de cidadãos, frente à inoperância do Poder Público em promover melhorias na praça central e mais movimentada da cidade, resolveu executar ações para tal contando com os devidos ressarcimentos financeiros. Tanto é que na sessão da Câmara Municipal de 05 de junho, o Cel. Arthur, residente no Largo², pede auxílio de 700 mil réis “para ocorrer as despesas que fez com a construção de um coreto e pavilhão que edificou no Largo, com autorização da Casa e que ficou em 989$630”. Os demais construtores do jardim, “destinado ao gozo da população”, pedem 1 conto e 800 mil réis de auxílio.
No dia 7 é levado ao conhecimento dos vereadores o requerimento assinado pelo major Antônio Dias Maciel Júnior, Capitão Aurélio Teodoro de Mendonça e Bráulio Maciel, membros da Comissão, declarando ter concluído as obras, “cujo custeamento correu por conta de donativos populares e que não tendo ainda efetuado o auxílio dotado em lei por esta Câmara, contudo, fazem entrega do respectivo jardim”. Agenor Dias Maciel, por parte da Comissão de Obras Públicas, pede o indeferimento do auxílio pela construção da praça. Na sessão do dia 10, Arthur doou o coreto e abriu mão do auxílio pedido, ficando a Câmara responsável pela sua conservação.
Quem sabe objetivando a compreensão da opinião pública, talvez até para afastar certos comentários estranhos, o Cel. Arthur publicou a seguinte nota sobre as obras na edição de 13 de dezembro do jornal O Commercio:
Em tempo, a Commissão Promotora da construcção do Jardim Publico do Largo do Rosario, deu publicidade neste jornal, do quanto havia angariado em donativos, productos de kermesses e auxilio que a Camara prometteu dar (e que ainda não entrou) de onde se verificava um alcance de 1:800$000. D’esta publicação até hoje arrecadou-se mais (liquido) de 2 kermesses – 82$800, pelo que se verifica continuar ainda o alcance de um conto e muitos mil reis.
Pois bem, o abaixo assignado, um dos promotores das obras, foi quem dispendeu 5 contos e tanto com as obras, e por emquanto, foi apenas embolsado de novecentos e poucos mil reis.
E como espera ainda receber o auxilio que lhe concedeu a Camara, faz a ella doação do conto e tanto que lhe falta para a conclusão do pagamento. O promotor das obras confessa-se captivo às gentis senhoritas, e às pessôas que concorrerão, já com donativos, já com a frequencia às kermesses. Summamente penhorado ficou às 5 senhoras, das 10 ultimamente nomeadas, que concorrerão com seus donativos à ultima kermesse de 8 d’este. Havia annunciado uma kermesse mensalmente para o produto ser levado em conta das despesas realizadas; mas em vista da deliberação de abrir mão do resto das despesas, não haverá mais kermesse para este fim.
Com o fim unico de haver um pretexto para uma reunião, em sociedade esquiva e retrahida como a nossa, continuar-se-á a promover kermesses nos dias em que as bandas de musica annunciarem retreta no “O Commercio”, pela manhã. As pessoas e senhoritas, indistinctamente, contribuirão apenas com pequenas prendas, como flôres, fructas ou quaesquer objetos de pequeno valor.
O produto será applicado na illuminação do Jardim nos mesmos dias e os excessos, si os houver, serão distribuidos em amendoas às creanças. O abaixo assignado nunca pensou em auferir lucros das kermesses, o que está ao alcance de todos, pois que os membros da commissão, em dias de kermesses, dispendem particularmente tanto ou igual ao que vende-se nas mesmas.
Arthur Thomaz de Magalhães.
Poucos dias após o pronunciamento do Cel. Arthur, a Comissão decidiu por anunciar a inauguração do Coreto do Jardim Público em nota divulgada pelo O Commercio em sua edição de 18 de dezembro³. No 1.º parágrafo consta: Communica-nos o nosso amigo e assignante Cel. Arthur Thomaz de Magalhães, que, a 24 do corrente, será inaugurado o coreto do largo do Rosário, cuja construcção foi promovida por esse cavalheiro, e demais pessoas residentes no mesmo largo.
Com o Jardim Público já fazendo parte do cotidiano dos patenses, em 08 de janeiro de 1913, Adélio Dias Maciel apresentou à Câmara o requerimento de indenização pelos membros construtores, fazendo entrega do mesmo como prédio público e requerendo que seja ordenado o respectivo recebimento, opinando que seja ouvido sobre o assunto o Cel. Arthur Magalhães. Na sessão seguinte, no relatório diz “ter-se realizado esse melhoramento local, tornando-se um ponto aprazível e já escolhido pela população. Construída de tijolos e grades de madeira de lei, com 4 portões de ferro e já tendo os canteiros delineados, alguns com as 20 palmeiras imperiais plantadas e pegas, tudo em via de prosperidade, tendo também 6 bancos de ferro oleados”. A Ata dessa sessão leva as assinaturas dos vereadores Marcolino de Barros, Arthur Thomaz de Magalhães, José Pacheco, José Pereira Guimarães, José Mendes de Carvalho, Miguel Dias Maciel, Cornélio França de Oliveira, Christiano José da Fonseca e Agenor Dias Maciel.
Na sessão de 17 de novembro de 1915, o Cel. Arthur apresentou a indicação que autoriza o Agente do Executivo a despender, mensalmente, até a quantia de quarenta mil réis com o custeio do jardim público e seu coreto, este que se transformou em palco obrigatório em domingos alternados para retretas das bandas de música A Filarmônica Fraternidade, do maestro José Maria Valeriani, e a Banda Santa Cecília, criada pelo professor Modesto de Mello Ribeiro.
* 1: No quarteirão da atual Avenida Getúlio Vargas entre as Ruas Olegário Maciel e José de Santana havia um pequeno templo religioso denominado Capela do Rosário, daí o nome do local. Leia “Histórico da Igreja do Rosário” e veja a foto em “Capela do Rosário”.
* 2: Leia “Antiga Casa do Cel. Arthur Thomaz de Magalhães”.
* 3: Leia “Inaugurado o 1.º Coreto ”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: Jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam; Uma História de Exercício da Democracia – 140 Anos do Legislativo Patense, de José Eduardo de Oliveira, Oliveira Mello e Paulo Sérgio Moreira da Silva.
* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 18/04/2013 com o título “O Primeiro Coreto”.