JOSÉ RANGEL: UM PIONEIRO DOS TRANSPORTES RODOVIÁRIOS

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4As comemorações de nosso Centenário ficariam incompletas se os patenses olvidassem a figura empreendedora, dinâmica e simpática, que foi a do Sr. José Rangel. Natural de Estrela do Sul e aí consorciou-se com D. Quita Caixeta Rangel, outra pessoa de bondade irradiante, muito caridosa e prestativa, nascida em Paracatu, transferindo-se, com seu pai quando ainda criança para a terra de seu futuro espôso. Em fim de 1918, para felicidade de Patos de Minas, o distinto casal fixou residência nesta cidade.

Em 1919, quando os meios de transportes rodoviários, não só em Patos, mas em todo o Brasil, eram muito rudimentares, achando-se ainda em fase embrionária, o Sr. José Rangel fundou a Emprêsa Auto-Viação de Patos, com carros diários para Catiara, pois aí é que tôda a gente desta região pegava o trem-de-ferro para Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Todo negócio em que o Sr. José Rangel entrava, recebia, logo, a chancela de sua personalidade organizadora. Tudo funcionava numa harmonia perfeita, pois nascera para ser, como de fato o foi, um homem de emprêsa.

Assim, tão logo foram inauguradas as corridas de ônibus para Catiara, êle cuidou de melhorar a estrada de rodagem para aquela localidade, às suas custas, sendo considerada em 1924 a segunda do Brasil, porque a primeira era a que ligava Campinas a São Paulo. É bom lembrar que nas épocas citadas não havia, no Brasil, sequer um quilômetro de estrada asfaltada. Tôdas eram de terra batida. A nossa, contudo, era bem conservada e bem traçada, como até hoje continua prestando bons serviços. Para trazê-la bem conservada o Sr. Rangel comprou um trator “Fordson”, talvez um dos primeiros a aparecer por essas bandas. Os carros de passageiros saíam de sua agência, localizada, onde, hoje se encontra o Edifício Ilídio Pereira (Major Gote esquina com Olegário Maciel), com horário certo. Em Santana de Patos eram esperados os passageiros de Carmo do Paranaíba, transportados, também, pela mesma empresa. Na agência local havia diversos aparelhos de telefone que comunicavam perfeitamente com Carmo, Santana de Patos, Chapadão (Serra do Salitre) e Catiara, colocando o nosso povo com todo o movimento de saídas e chegadas dos ônibus da Emprêsa e mesmo de automóveis particulares em trânsito. Se um carro enguiçava por motivo qualquer, o telefone avisava e o socôrro prontamente seguia. Ninguém ficava na estrada. O nome da Emprêsa era garantia absoluta de bons serviços. Tudo isso devido à personalidade ímpar do Sr. Rangel.

Depois dele, empresário algum manteve serviços tão perfeitos. Não cuidou sómente de carros de passageiros. Havia, também, caminhões para transporte de cargas. Todo o material da ponte sôbre o Rio Paranaíba, logo à entrada da cidade, construída por uma firma alemã, foi conduzido por caminhões pertencentes ao José Rangel. Mantinha, ainda, uma grande oficina mecânica para serviços de madeira, reformas de pneus e de câmaras-de-ar, de soldas etc… Havia também uma seção de peças para automóveis, para bicicletas e artigos diversos tais como, Vitrolas, discos, agulhas para fonógrafos, etc…

Em conversa com um de seus ex-auxiliares, o Sr. Alaor de Melo Ribeiro, disse-me: “Para melhor esclarecimento é bom dizer, que já naquêle tempo trabalhavam nesta organizadíssima Emprêsa, mais de oitenta pessoas. Como testemunhas da capacidade de José Rangel, somos diversos que tivemos a honra de trabalhar sob suas ordens e ainda estamos vivos, e quase todos bem situados na vida: Antônio da Silva Caixeta, ex-candidato a Prefeito de nossa cidade; Itagiba Caixeta, Benedito Caixeta; senhora Aparecida Caixeta da Cunha; Renato Maciel; Otávio Magalhães; João Cirino Neto; Wladimir Nascimento; José Caixeta Frazão, atual Secretário da Prefeitura; os irmãos João e Sebastião Batista; Alaor de Melo Ribeiro; Modesto de Melo Ribeiro; Sebastião de Brito, ex-Prefeito de Presidente Olegário e de Belo Horizonte; José Leonel e muitos outros já falecidos ou que não residem mais aqui”.

José Rangel, como cidadão bem educado que era, tratava seus funcionários com distinção e urbanidade. Obteve em troca a gratidão de todos êles, sem exceção de um sequer. Tanto isso é verdade que, com todos que eu palestrei a respeito de sua pessoa, fizeram as mais lisongeiras referências à sua memória e alguns até se emocionaram quando eu lhe disse, que pretendia escrever essas notas, como o Sr. João Batista cuja voz se lhe embargou na garganta!…

Em 9 de março de 1933, para infelicidade nossa, transferiu-se o Sr. José Rangel para Belo Horizonte e posteriormente para o Rio de Janeiro, tendo construído no bairro de Grajaú um apartamento, onde reside sua virtuosíssima viúva.

NOTA: José Rangel nasceu em 19 de abril de 1883 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 07 de junho de 1955, aos 72 anos.

* Fonte: Texto de Lincoln José de Santana publicado com o título “Um Pioneiro dos Transportes Rodoviário: José Rangel” na edição de 05 de setembro de 1968 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Arquivo do jornal Boletim Informativo.

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