Osmildo Eustáquio de Sousa nasceu em Patos de Minas no dia 24 de fevereiro de 1950, filho de Arlindo de Brito Freire e Luzia de Sousa Luís. Estudou na Escola Santa Terezinha, destacando-se entre seus colegas pelo espírito de liderança e por participar ativamente de todas as atividades escolares. Era com satisfação que cantava, recitava e representava em todas as reuniões festivas da escola, e isso o tornava querido pelas professoras e demais crianças do estabelecimento. “Sempre gostei de falar diante do espelho”.
Sua leitura preferida eram as revistas infantis, os “gibis” como então eram conhecidos, com suas aventuras e belos desenhos. “As figuras que apareciam nas revistinhas despertavam minha atenção”.
Na escola, tinha vários apelidos: “Frei”, “Padre”, “Índio”. Tudo isso marcou sua primeira infância, época em que começou a fabricar brinquedos e a confeccionar colares feitos com barro, barbante e folhas de laranjeira.
O campo também era um dos lugares preferidos. E ele se sentia bem junto à natureza, aos pássaros, na região da cidade de Lagamar, próximo a Patos de Minas. E foi assim, então, sempre ligado ao ambiente acolhedor de sua família, que o menino Osmildo cresceu com humildade, sem ter muita preocupação com os estudos e por isso mesmo não completando o curso escolar. “Morei em Brasília de 1963 a 1965. De lá fui para o Ceará, onde permaneci um ano, procurando absorver o máximo possível da cultura nordestina. Eu me sentia em outro país”.
Lá aprendeu de tudo, trazendo para a terra natal, quando retornou, uma vasta experiência e uma enorme vontade de aproveitar os ensinamentos que tinha acumulado em terras cearenses.
Voltando para Patos de Minas, Osmildo Eustáquio de Souza começou a trabalhar como cabeleireiro, mas como sempre manteve viva a chama que alimenta o calor da criatividade e coração dos artistas, nunca deixou de usar o potencial que lhe foi dado pela natureza, buscando sempre novos caminhos, novos cenários, novos horizontes, seja no desenho, seja na escultura. “Fui criado no meio do carnaval. Meu irmão, Geraldo Souza, era músico da Lira Mariana, e minha mãe Luzia uma grande foliã”.
E foi em razão disso que nasceu a Escola Acadêmicos do Samba. “Fui um dos fundadores e figurinista da Escola. Os integrantes não tinham muita experiência. João Pinheiro Araújo foi o 1,º presidente e grande incentivador. O grupo era muito unido, e tinha como característica principal a vontade imensa de desfilar na festa do rei Momo. Fui seu primeiro mestre-sala. Outros personagens que não podem se esquecidos: Pe. Tomás Olivieri, Alfredo Cardarelli, Geralda Benedita (porta-bandeira), Antônio do Prego (foi presidente da Escola) e Ziquita, o eterno Rei Momo”.
Foi no ano de 1986 que Osmildo Eustáquio de Souza recebeu um convite de Romero Santos e Maria Célia para juntar-se ao bloco caricato “Muda Brasil”, cuja proposta era a de denunciar os problemas políticos e sociais vividos naqueles anos, resgatar a cultura popular, aproveitando o carnaval para mostrar de uma forma moderna, diferente e divertida, o retrato da cidade. O bloco desfilou, alcançou enorme sucesso e, como não poderia deixar de acontecer, acabou virando escola de samba.
Durante 10 anos a Escola Muda Brasil desfilou nas festas carnavalescas, recebendo, nesse período, nove vezes o título de campeã. O trabalho bem planejado e bem executado foi a razão do sucesso, já que significou um passo adiante, uma verdadeira revolução nos métodos e sistemas até então utilizados.
Osmildo ressalta a atuação de Romero Santos, que nunca mediu esforços para melhorar o nível da escola e várias vezes utilizou seus próprios recursos financeiros para custear os gatos que se faziam necessários. No principio, sucata e materiais usados eram empregados na confecção das alegorias. Reciclados, eles transformavam-se em novos elementos decorativos, mostrando, através de uma inovadora visão criativa, o grau de educação atingido por todos os artistas foliões. Com o passar do tempo, os materiais industrializados foram ocupando cada vez mais espaço, acabando por fazer desaparecer quase que completamente o trabalho manual.
O quartel-general da escola funcionava na própria residência do Osmildo (Rua Ouro Preto, 774) e cada colaborador era responsável por uma determinada função, perfeitamente ajustada à sua capacidade. Era lá que tudo se fazia, desde os figurinos e adereços até fantasias das alas. Era lá, também, que aconteciam as reuniões, onde as decisões definitivas representavam o ponto de vista de todo o grupo.
Anos depois, porém, iniciou-se a decadência. As verbas do poder público já não eram suficientes, e com isso as outras agremiações também foram se tornando cada vez mais fracas, até que, a partir de 1996, os desfiles das escolas de samba deixaram de acontecer.
As dificuldades sempre foram muitas, principalmente pelo fato de que as receitas nunca conseguiam cobrir as despesas. “A falta de condições financeiras, de patrimônio, de um lugar destinado aos ensaios da bateria, que é a estrela maior de qualquer escola, tudo isso contribuiu de maneira crescente para o desânimo dos integrantes. Carnaval também é cultura, é tradição. Nosso trabalho era feito com amor e trazia benefícios para muitos. Ele não pode e não deve ser considerado como uma disputa entre grupos”.
Osmildo também conseguiu muito destaque durante um período de oito anos em que deu apoio integral ao Grupo de Teatro Elite. “No teatro eu fiz de tudo. Era figurante, ao lado de Maria Célia Santos, Cátia Rabelo, Luiz Humberto, Roberto de Castro, César e outros. Criava textos, fazia cartazes, produzia as peças dando o maior apoio possível aos integrantes do grupo, que lutavam com grandes dificuldades para continuar mantendo suas atividades”.
Também participou da confecção de carros alegóricos para a Festa Nacional do Milho, ao lado do Sr. Vicente Nepomuceno, e promoveu eventos como Réveillon, Baile do Havaí e outros. Em municípios como Tiros, Carmo do Paranaíba, Lagamar, Rio Paranaíba, Presidente Olegário, Vazante, Patrocínio e Presidente Prudente/SP, participou da organização de festas agropecuárias. Paralelamente, foi pessoa sempre presente nos diversos eventos da Prefeitura Municipal, APAE, e de outras entidades filantrópicas. Osmildo, como um ser humano modesto que foi, sempre dizia que considerava pouco o que fazia pela cidade do seu coração. Em 12 de dezembro de 2000, foi homenageado pela Câmara Municipal de Patos de Minas, que em nome do povo deste município reconheceu seus feitos, através do Título de Cidadão Benemérito de Patos de Minas, e para nossa tristeza, pouco tempo depois nos deixou, e foi para a morada eterna, isto no dia 05 de fevereiro de 2001, sendo sepultado no Cemitério Municipal de Santa Cruz.
“As escolas me lançaram como artista, e a arte e cultura são aglutinadoras uma vez que integram o indivíduo à sociedade. O exercício de qualquer talento faz com que a pessoa cresça e torne-se maior na sua busca de realizações em horizontes cada vez mais distantes. Aqueles que não têm cultura, educação e respeito, aqueles que nada promovem, simplesmente passam como uma rajada de vento que veio do nada para o nada”.
* Fonte: Edição n.º 20 de 16 de fevereiro de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.