MANOEL DE BRITO FREIRE: O SEGUNDO E ÚLTIMO CURA

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2O distrito de Santo Antônio da Beira do Rio Paranaíba teve dois Curas¹. Os padres José de Brito Freire e Vasconcelos, de 1831 a 1839², e Manoel de Brito Freire, de 1839 a 1850. Criada a Paróquia de Santo Antônio dos Patos (novo nome do lugar) a 31 de maio de 1850, o padre Manoel de Brito permaneceu à frente da mesma, como pároco encomendado.

O Curato³ de Santo Antônio da Beira do Rio Paranaíba é bem configurado pela decisão imperial de 11 de fevereiro de 1829, quando determina: “Se devem haver por Capelas filiais Curadas todas aquelas que tiverem Aplicados4, e em que se administrarem os Sacramentos, regular e constantemente, ainda que os Capelães sejam unicamente postos pelos Párocos ou pelos mesmos aplicados com sua licença”.

Manoel de Brito Freire, filho de Antônio de Brito Freire e Tomasia dos Santos Pereira, nasceu e foi batizado na Freguesia de Santo Antônio da Manga, Bispado de Pernambuco, em 1811. Na relação dos “discípulos que ensina Domingos da Costa Braga”, na Vila do Paracatu, datada de 24 de novembro de 1823, encontramos o seguinte assentamento: Manoel de Brito Freire – Pardo – Lê escritos de mão, e vários autores de letra redonda. Escreve letra fina, faz contas de juros. Está com dez meses de escola. Assim, ficamos sabendo que seus estudos foram iniciados aos doze anos de idade.

Voltamos a ter notícias de Manoel de Brito quando, no fim de 1830, remete ao bispo eleito e vigário capitular do Bispado de Pernambuco, Dom João da Purificação Marques Perdigão, uma petição para ser iniciado “de ordens menores, até presbítero, inclusive”. A resposta de Dom Perdigão, de 16 de março de 1831, põe em polvorosa as autoridades paracatuenses. Ele concordara em admitir o suplicante às diligências solicitadas, de Gênese, Patrimônio e Moribus, perante o vigário colado, provisor e juiz do Gênese da Comarca Eclesiástica de Santo Antônio da Manga, desde que o mesmo fosse de casta branca de ambos os lados. Filho natural, ao que parece de branco com escrava, pardo – conforme sua ficha escolar – Manoel de Brito Freire via fulminada no nascimento sua vocação para o sacerdócio.

O vereador Joaquim Pimentel Barbosa toma sua defesa. Envia veemente denúncia ao presidente da Província, onde ressalta que a decisão do prelado pernambucano é oposta a todas “as luzes do século, ao bom senso, e, além do mais cavilosa”. O melindroso caso é posto nas mãos do regente Diogo Antônio Feijó que, por sua vez, a 20 de outubro de 1831 remete a documentação ao presidente da Província de Pernambuco “para que ouvindo o Bispo Perdigão, procedesse a fazer efetiva a sua responsabilidade”.

Vendo frustrada a sua pretensão, Manoel de Brito não desanima e encontra guarida no Bispado de Goiás. Além disso, goza da proteção do padre José de Brito Freire e Vasconcelos, que consegue para ele um lugar de professor em Araxá. Cargo no qual não se conduziu a contento, pois a 4 de julho de 1835, de Uberaba, o delegado de instrução primária dos termos de Araxá e Desemboque, Antônio José da Silva, comunicava a seus superiores: Manoel de Brito Freire abandonou a cadeira sem participação alguma, de que tenha notícia, e retirou-se, segundo se afirma, para Campinas, da Província de São Paulo. Em 1837, pelo livro de lançamento dos recibos da Irmandade de N. S. do Rosário dos Pretos de Paracatu, vemos que ele ali ocupava o lugar de sacristão-mor. Já em 1838, voltamos a encontrar documentos que comprovam sua volta à cadeira araxaense de ensino primário.

Sua ordenação em Goiás, a 25 de julho de 1838, foi feita juntamente com a de João Gomes Camacho, também de Santo Antônio da Manga, e que, posteriormente, ocupou a paróquia de Sant’Ana da Barra do Rio Espírito Santo (Santana de Patos), tendo por diversas vezes, em caráter não oficial, substituído o padre Manoel de Brito no curato de Santo Antônio da Beira do Paranaíba.

Em 1839 toma o lugar de seu parente, padre José de Brito Freire e Vasconcelos, no curato paranaibano. Temos conhecimento de documentos assinados por ele, em 1843, como cura e presbítero secular do Hábito de São Pedro. A Lei de 31 de maio de 1850 criou a Freguesia de Santo Antônio dos Patos, e a 03 de dezembro do mesmo ano, padre Manoel de Brito é nomeado seu pároco encomendado. Responsável por paróquia pobre, pouco pôde fazer pelo lugar. Registre-se o trabalho que desempenhou em 1855, juntamente com Antônio José dos Santos e Formiguinha – o Registro Paroquial – em poder do Arquivo Público Mineiro. O primeiro registro oficial das terras da freguesia patense, com os nomes de proprietários, lugares, confrontações, etc.

Padre Manoel de Brito faleceu em 1.º de julho de 1875. Chegou ao Curato de Santo Antônio da Beira do Rio Paranaíba, recém-ordenado, aos 28 anos de idade. Com exceção do tempo que permaneceu fora do paroquiato, quando foi substituído pelo padre Manoel Luiz Mendes5, durante 35 anos esteve à frente da paróquia. Seu corpo baixou à sepultura na velha Matriz, no dia 02 de julho, após a encomendação feita pelos padres Luiz Pereira da Silva, pároco de Sant’Ana da Barra do Espírito Santo, e Severiano de Souza Landim, de Santa Rita de Patos (Presidente Olegário).

* 1: O curador ou doutrinador. Padre que vivia às expensas dos aplicados, dando-lhes assistência espiritual em capela ou ermida.

* 2: Leia “José de Brito Freire e Vasconcelos: O Primeiro Cura”.

* 3: Como a paróquia, também era um distrito eclesiástico, separado, independente da paróquia. Na verdade, o Cura tinha os mesmos poderes que os párocos. Com uma diferença: somente os párocos, provisionados, recebiam côngrua (quantia que eles recebiam anualmente) do Estado.

* 4: Dizia-se dos habitantes de uma aplicação, de uma acomodação de povos.

* 5: Substituto provisionado do padre Manoel de Brito, de 1865 a 1867. Pouco se sabe a respeito do padre Mendes. Posteriormente à sua saída de Patos, ele ocupou as paróquias de Carmo do Paranaíba (1875), Bagagem (Estrela do Sul) e Nossa Senhora do Carmo (Monte Carmelo).

* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

* Foto: Ocantinhodostesouros.blogspot.com, meramente ilustrativa.

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