Aqui em Patos os engenheiros tambem fazem sempre as mesmas coisas. Em 1923, o Diniz media as ruas da cidade. Volto vinte e sete anos depois e encontro o Rui Corrêa da Costa botando a trena nas mesmas ruas. A única diferença é que as barbas do Rui têm a mesma idade do serviço…
Ninguem põe os olhos no prefeito¹. É um administrador omisso para uns; para outros, aéreo. Lá do alto, no téco-téco, ele goza, pelo menos, desta dupla vantagem: está sempre por cima e livre da poeira e dos buracos. Não consegue, porém, livrar-se das más línguas cá de baixo…
Evoluiu a cidade. A chacara da d. Nhá² passou para o centro e o rio Paranaíba já fornece praias particulares aos fundos dos quintais. Os velhos patenses reacionarios ainda estão em dúvida: costumem dizer que Patos não cresceu – o terreno é que encurtou…
Jacó serviu Labão tantos anos quantos são sete vezes quatro. Labão lhe deu Lia em vez de Raquel. Está escrito na Bíblia e no soneto de Camões. Patos esperou mais do que Labão. Agora, em doze meses, terá ferrovia, asfalto, telefone. Não sei se Labão era político, mas por certo o Leopoldo Maciel é muito mais esperto eleitoralmente…
Dizem-me que em Maio houve dezessete assassinatos no municipio. Um velho patense emenda a informação, cheio de orgulho: – Dezessete? Que nada, moço! Estes são apenas os crimes já “legalizados”…
Não é sem razão por isso que se ouve dizer frequentemente: em Patos só se morre de velhice, quando na mocidade não se morre com chumbo no lombo…
A parte alta cresceu em beleza, população e atividade comercial. A parte baixa respira ainda o ar de môfo das casas velhas. Alguns Macieis agnosticos justificam a diferença: os Borges ficaram atrás da igreja…
* 1: Vicente Pereira Guimarães.
* 2: Etelvina Maciel, filha de Antônio Dias Maciel e esposa de Jerônimo Dias Maciel. Como Antônio e Jerônimo eram irmãos, o tio casou com a sobrinha. A chácara era o antigo casarão de Jerônimo situado na esquina da Rua Padre Caldeira com Major Jerônimo demolido em 19 de fevereiro de 2005.
* Fonte: Texto publicado na coluna Este Patos… (assinado: Um dos Pintos) da edição de 18 de junho de 1950 do jornal O Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPH) do Unipam.
* Foto: Rpjr.wordpress.com.