É fato que dos inúmeros forasteiros que aportaram em Patos de Minas nos idos tempos alguns se sobressaíram pela identificação com a cidade e se tornaram personagens que contribuíram para o seu progresso. José Antônio de Freitas é um digno representante deste grupo de pessoas que num período muito curto de estadia e trabalho na nova terra se tornaram patenses de alma e coração.
Nascido em 19 de agosto de 1932 na pequena cidade de Baldim, na região metropolitana de Belo Horizonte, José é filho de José de Freitas Guimarães e Jovelina Bernardino de Souza Freitas. Quando tinha cinco anos de idade, o pai, funcionário público do Ministério da Agricultura, foi transferido para a capital mineira, o que motivou a mudança da família. Lá fez o curso primário. Pouco depois, José pai foi transferido para Patos de Minas onde assumiu a direção da Estação Experimental de Sertãozinho. Inicialmente foi só, trazendo a família dois anos após. Chegou a estudar em Barbacena até que em 24 de janeiro de 1950 perdeu o pai. Isso o obrigou a abandonar os estudos e voltar para Patos de Minas no intuito de trabalhar.
Sr. Freitas, como é carinhosamente chamado, teve como primeiro emprego a atividade de garçom no emblemático “Bar Recreativo”. Em meados de 1953 recebeu convite de Joãozinho Andrade para trabalhar no seu famoso comércio localizado na Praça Antônio Dias. Foi o Joãozinho que despertou o dom empreendedor de Freitas, que em curto espaço de tempo se adaptou à nova função e não demorou muito para ser promovido à gerente da empresa. Isso foi muito salutar para os dois. Para o proprietário, a segurança de ter no comando de seu negócio uma pessoa de inteira confiança; para o funcionário a oportunidade de se profissionalizar no ramo.
A experiência realmente trouxe bons frutos para ambos. “Lembro que depois de uns quatro ou cinco anos gerenciando a loja do Joãozinho, que estava vendendo muito bem, eu resolvi abrir uma loja com produto que não concorria com ele. Foi uma loja de calçados, ficava na Rua General Osório em frente onde funcionou a agência do Banco do Brasil. Se não me engano foi em 1958. Quem tomava conta da loja era a minha esposa e duas irmãs. Ah, a loja se chamava Imperatriz dos Calçados”, relembra Freitas. A esposa em questão é Dulce Fonseca de Freitas, filha de Lázaro Pereira da Fonseca e Maria Martha de Mello. O casamento ocorreu em 26 de maio de 1956.
O motivo pelo qual a esposa e suas duas irmãs tocavam a loja é símbolo de uma característica do caráter de Freitas: lealdade. Ele decidiu por não abandonar aquele que lhe ofertou uma oportunidade e depositou inteira confiança para gerir seu negócio. Freitas, na verdade, tinha orgulho e prazer em trabalhar para o Joãozinho Andrade. Mas este, em contrapartida, percebeu que era chegado o momento de liberar seu pupilo porque, mesmo sendo muito importante para a empresa, não deveria “segurar” seu empreendedorismo. Freitas nunca esquece quando, num certo dia, o Joãozinho disse que ia ter uma conversa muito séria com ele. Esperando uma “longa conversa”, esta foi curta e grossa. “Como o Joãozinho gostava muito de conversar, para minha surpresa ele chegou sério e só disse ‘vai embora tomar conta da sua Imperatriz dos Calçados’. E assim eu sai como um grande amigo dele”.
Naquele tempo o tipo de comércio em Patos de Minas eram as lojas de “departamento” que vendiam de tudo um pouco. A própria loja do Joãozinho vendia calçados, mas sem muita variedade. A Imperatriz dos Calçados, então, fez sucesso pela sua originalidade, pois foi a primeira loja especializada em calçados da cidade.
A partir da Imperatriz dos Calçados a vida empreendedora de José Antônio de Freitas foi repleta de emoções. Por volta de 1965, a loja foi transferida para a Rua Major Gote, entre a Recreativa e o Hotel da Luz. No início da década de 1970 se envolveu num grande empreendimento, um atacadão de calçados no centro de Belo Horizonte (Rua Santos Dumont). Infelizmente, o negócio não deu certo gerando enorme prejuízo, obrigando-o até a se desfazer de sua loja. Este duro golpe em sua vida empresarial não foi suficiente para desanimar o guerreiro Freitas.
Naquele tempo a empresa brasileira de calçados “Rainha”, especializada nos chamados esportes de salão (tais como Basquetebol, Handebol e Futsal), era forte no ramo. A representação comercial da marca foi o pontapé inicial para a recuperação. E esta recuperação chegou muito rápido permitindo participação em vários empreendimentos. Entre o antes e o depois, ele foi sócio ou proprietário único da Casa Baiana, Sapataria Americana, New Modas, A Futurista e Posto Ipiranga.
Mas a grande “paixão” de José Antônio de Freitas ainda era a sua primeira criação: a Imperatriz dos Calçados, que na época funcionava ao lado do antigo Hotel da Luz na Rua Major Gote. Com muita satisfação ele a readquiriu trabalhando no local até 1977, quando comprou uma loja localizada no Edifício São Bento, na esquina da Major Gote com Olegário Maciel, e a transferiu para lá. Após trinta anos de bons negócios, em 2007 mudou para um espaço maior ao lado, no edifício onde funcionou o Cine Tupã. Está em pleno vapor até hoje sob o comando de Pedro Paulo, um de seus seis filhos. Os outros são César, Laércio, Marilsa, Marina e Maristela.
Por duas vezes ele tentou ser “fazendeiro”. A primeira foi “uma terrinha” localizada no distrito de Pilar. Mas logo se arrependeu e nem ia lá. Vendeu para comprar outra na localidade do Onça. Esta foi muito aproveitada como lazer por toda a família até o final da década de 1980. Depois as idas foram se reduzindo, a família não ia mais até que se desfez dela. Realmente, não era seu negócio ser fazendeiro.
Perguntado sobre qual era seu lazer preferido, ele responde: “O que eu mais gosto é pescar, desde pequeno. Hoje já não tenho mais condições físicas para pescar, mas antigamente eu tinha uma turma de amigos e sempre estávamos na beira de um rio. Eu era sócio de um rancho no Rio Paracatu, num lugar chamado Caatinga. Agora não pesco mais, mas tenho muita saudade”.
As alegrias foram imensamente superiores às tristezas na vida de Freitas. Sobre o negócio em Belo Horizonte ele não considera como tristeza, mas sim como “um tropeço de percurso”. Tristeza mesmo, na acepção exata da palavra, ele sentiu quando perdeu a companheira de longa data. “Quando eu perdi a Dulce foi um golpe muito forte, depois de 53 anos de casados, a minha companheira leal nas horas boas e ruins. Isso foi em 31 de dezembro de 2009. Não foi fácil”.
Aos 83 anos de idade, Freitas afirma que nunca fumou. “Quando eu era novo, vivia fazendo cigarros de palha para o meu pai, mas nunca consegui fumar, graças a Deus”, declara com satisfação. E confessa: “Gosto mesmo é de uma cervejinha, mas sem exagero”.
José Antônio de Freitas é mais um exemplo daqueles forasteiros que adotaram Patos de Minas como sua cidade. Não só o comércio lhe ocupou estes anos todos. Freitas foi participante ativo da CDL; um dos fundadores do Lions Giovanini e ainda participou da fundação do Esporte Clube Mamoré, onde chegou a jogar no time juvenil. E fala com alegria do extinto e emblemático Patos Social Clube: “Tive muito amor por aquele clube. Fui presidente em três oportunidades e quando fui homenageado em 1991 fiquei muito emocionado. É uma pena que acabou”.
Hoje, aposentado e feliz por ver seus filhos criados e “encaminhados”, Freitas segue a sua vida serenamente na Patos de Minas que ele tanto gosta.
* Texto e fotos (02/09/2015): Eitel Teixeira Dannemann.