O cidadão que fez seus planos para divertir-se durante a Fenamilho de 1998 foi surpreendido com o preço estipulado para os ingressos. Como as coisas não andam fáceis para ninguém, muita gente deixou de ir ao Parque de Exposições ou apareceu por lá apenas uma vez, porque a situação realmente não permite que o chefe de família da classe média possa se dar ao luxo de gastar um mínimo de cinqüenta reais por noite para desfrutar da festa da cidade juntamente com sua família. Os organizadores alegam que as despesas são altas, que os artistas contratados cobram cachês elevados, e que por essas e outras existe necessidade de que o cidadão pague caro para poder entrar no parque e aproveitar o que foi colocado à sua disposição. Do contrário, é prejuízo na certa. Sendo assim, então está na hora de se reformular a Festa do Milho, sob a pena de que no próximo ano, o publico ainda será menor, e os planejadores dessa festança – que deveria ser totalmente popular, comemorada nas ruas, e não fechada a sete chaves em um local onde as pessoas têm que pagar para entrar – vão acabar descobrindo que tanto fizeram, que acabaram matando a galinha dos ovos de ouro. A respeito do assunto, leia a coluna Opinião na página 2. (seguinte)
CADÊ OS DEFENSORES DO POVO?
Antigamente, quando a Festa do Milho ainda era bem desfrutada pela população, os organizadores programavam atividades que desenfurnavam famílias inteiras de suas casas e as colocavam nas ruas da cidade com o olhar pregado lá em cima, atrás das piruetas da Esquadrilha da Fumaça. Depois, o povaréu acompanhava as rodas de violeiros, assistia os shows realizados em praça pública, participava de torneios, festivais e outras atrações que davam aquele tchan à nossa comemoração maior e, no finalzinho da festança, se aglomerava ao longo da Getúlio Vargas e apreciava o desfile das escolas, do Tiro de Guerra, da rainha e princesas em seus lindos carros alegóricos imaginados e feitos pelos artistas da terra. A festa do mês de maio era do povo, porque foi o trabalho dele que deu origem a ela.
Mas tudo mudou, e agora a festa pertence ao Sindicato Rural. Daí, dela só participa quem tem dinheiro. O ingresso na base de dez pratas por cabeça, cinco pratas para guardar o possante no estacionamento, bebida e comida caras sob a alegação de que o metro quadrado de chão onde se colocou a barraca é muito alto. Moral da história: o chefe de família levou sua mulher e três filhos ao Parque de Exposições, ficou por lá pouco mais de uma hora e, mesmo com toda a economia nas despesas, foi embora “mordido” porque havia gasto quase setenta reais. Não voltou uma segunda vez. Enquanto isso, o presidente da entidade afirma que o Parque possui hoje uma estrutura invejável, mercê de uma contribuição incansável para a construção e progresso da cidade e seu povo.
Não é bem assim. Quem contribui, na verdade, é só o povo. Primeiro, com a festa, doada ao Sindicato por obra e graça não se sabe de quem. Depois, através das verbas municipais. Só este ano, a Prefeitura colaborou com 70 mil reais dos impostos pagos pelos cidadãos. E finalmente, na bilheteria, na hora de entrar, pois sem dinheiro o José dos Anzóis Carapuça não participa de coisa nenhuma, por mais que tenha vontade. Nas quase duas horas que ficou no Parque de Exposições, o chefe de família aí de cima gastou muito mais dinheiro do que com o pagamento anual da taxa de esgotos de sua casa. Mas, nesse caso, não existia nenhum defensor do povo de plantão…
* Fonte: Textos de Fernando Kitzinger Dannemann publicados na edição n.º 78 de 20 de julho de 1998 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.
* Foto: Arquivo da Fundação Casa de Cultura do Milho.