EU SOU A CADEIA

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7Olhe-me bem com precisão,
veja só meu abandono.
Venho a ti em constrição,
dizer que não tenho dono.

Fui linda e útil,
nos tempos de outrora.
Sou feia e fútil,
nos tempos de agora.

Na década de 1910 eu nasci,
para ser de muita utilidade.
Assim eu vivi,
muitos anos de felicidade.

O tempo passou,
foi rápido demais.
A velhice chegou,
já não me querem mais.

Tantos anos fui fiel,
sem pedir nada em troca.
Por isso o gosto do fel,
na minha alma brota.

Repare a minha vestimenta,
está toda em frangalho.
Já não sou mais ferramenta,
nem para quebra galho.

Sinto uma dor profunda,
com tanta rejeição.
É um chute na bunda,
que dilacera meu coração.

Não sei de quem sou,
neste meu lacrimejamento.
Não sei para onde vou,
é um verdadeiro tormento.

Preciso de cirurgia,
o mais rápido possível.
A quem pedir ajuda,
se falta gente de nível?

Gente de peito,
com poder de decisão.
Não quem está no leito,
sonhando com afanação.

Se alguém sério tem pena de mim,
que venha e me socorra.
Se não for assim,
é melhor que eu morra.

Ó Palacete do Amadeu,
meu fim se aproxima.
Tanta alegria você deu,
por ti tenho estima.

Você está em reforma,
ficando uma lindeza.
Tudo em mim se deforma,
cada vez mais me foge a beleza.

Já que ninguém faz nada,
o jeito é esperar a morte.
Fico aqui arriada,
só esperando o passaporte.

Chore por mim,
patense verdadeiro.
O progresso é assim,
um autêntico morteiro.

O que vale é o embrião,
que vai substituir o velho.
Despeço com emoção,
vai um abraço deste relho.

Obrigado pela atenção,
com toda a sinceridade.
Sou mais um casarão,
que vai ficar na saudade.

* Texto e foto: Eitel Teixeira Dannemann (19/04/2015).

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