TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1936)
O mineiro é conservador por indole e isto, se por um lado nos tem valido encomios pelo muito que concorre para a estabilidade das nossas tradições politicas e sociais, por outro é muitas vezes um entrave ao nosso progresso que até certo ponto não póde depender de um rigorismo que lhe é prejudicial.
Temos por costume, por exemplo, confiar demais nos governos e a êles exclusivamente deixar afeitos certos problemas que por serem regionais dificilmente se destacam entre os muitos que assoberbam a administração.
Isto tanto acontece na orbita federal como na estadual e mesmo na municipal.
O municipio de Patos depende, para seu completo desenvolvimento, do ramo ferreo de Catiára. O comercio local vive acorrentado e explorado pelos comissarios daquela localidade. De tempo em tempo um enriquece e transfere-se dali para dar logar a outro que também não tarda fazer fortuna e cede por sua vez o logar a um terceiro. E assim fazem de Patos uma vaca destinada a aleitar quantos comissarios ali aparecem.
E nós, reconhecendo embora tudo isto, vivemos esperando que o governo se lembre do ramal, emquanto sugam as nossas forças, entorpecem a nossa atividade e abatem o nosso animo.
Entretanto remedio ha, mas nós achamos que só o ramal com a intervenção do governo, póde pôr um paradeiro nesta situação.
Basta considerar que se o comercio local quizesse um primeiro passo seria dado com rial vantagem para êle próprio: era os nossos comerciantes reunirem-se em associação de classe, como de resto existe em todo centro importante comercial, e construir em Catiára um grande armazém canalizando para êle todo o comercio local. As vantagens ressaltam aos olhos com rigor matematico.
Mas não é só esta a solução capaz de pôr termo á nossa dependencia dos comissarios de Catiára.
Precisamos, antes de tudo visar mais o barateamento do transporte, sem o que a agricultura não poderá desenvolver-se no municipio.
Transporte barato e regular não conseguiremos sem um entendimento com a Oeste de Minas no sentido desta estrada tomar a seu encalço a trafego de Catiára a Patos com bons caminhões e jardineiras, estabelecendo aqui uma estação e armazéns com serviço mutuo de carga e passageiro com a estrada.
O maior interesse, neste caso, é da Oeste, pois é inacreditavel que ela não venha a auferir lucros que o ramal ferreo talvez não désse.
Mas para isto é preciso iniciativa e trabalho sem o que os diretores da Oeste não poderão calcular as vantagens do trafego para a estrada.
A própria Associação Comercial, uma vez fundada, em esforços conjugados com os poderes municipais, poderá levar a bom termo o empreendimento que depende mais de bôa vontade do que de quaisquer outros recursos.
* Fonte: Edição de 25 de julho de 1936 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Gazetaonline.globo.com, meramente ilustrativa de uma estrada rural.