Qual o patense que não conhece ou, pelo menos, não ouviu falar alguma vez de Manoel Cotote Sobrinho? Sim, porque não só ele, assim como também diversos outros sonhadores de coração de ouro e mente dominada pela mais pura musicalidade, estão inseparavelmente ligados pelos cordões da história à mais simples e bela manifestação artística de um povo: as chamadas bandas musicais, que tanto alegraram gerações e gerações de homens e mulheres do interior brasileiro.
Manoel Cotote nasceu em Patos de Minas no dia 27 de maio de 1928. Seus pais chamavam-se Levindo Luiz Vieira e Máxima Xavier Rosa e moravam em uma fazenda no lugar conhecido como Vieiras. Aos seis anos sua família mudou-se para a localidade de São Brás, retornando algum tempo depois à nossa cidade. Cotote foi aluno do Grupo Escolar Marcolino de Barros, onde cursou até o 4.º ano primário, mas, aos dez anos, perdeu seu pai, e aí teve início uma luta pela sobrevivência, o enfrentar das dificuldades que fazem parte do dia-a-dia de qualquer cidadão. Para ajudar sua família, contribuindo para o melhoramento da renda familiar, ele passou a vender frutas, verduras e biscoitos. “Um tabuleiro dava dez mil réis. Era muito dinheiro”.
Mas ao ver a banda passar, sob a batuta do grande maestro Augusto Borges, o coração do menino acelerava, e ele acompanhava o caminhar cadenciado dos músicos embalando os sonhos que povoavam seu coração e sua cabecinha inspirada pela sensibilidade que é privilégio de poucos. “Sempre tive vontade de aprender a tocar”.
Messias Feliciano Ferreira, funcionário da Prefeitura Municipal, formou em 1941 uma nova banda, que ganhou o nome de “Lira Patense”. Com dedicação e perseverança Messias foi levando adiante seu ideal, ensinando aos alunos que apareciam os segredos da música e esses, com uma imensa vontade de aprender, passavam a executar lindas retretas após quatro meses de ensaio.
E esses alunos foram muitos, uma extensa lista de nomes que paulatinamente se incorporavam à história musical de Patos de Minas, porque unidos apenas pelo ideal que molda os verdadeiros músicos. Dentre eles podem ser citados Vicente Alexandre Silva, Olímpio Izidio da Silva (falecido), Antônio Izidio da Silva (falecido), Antônio Basílio da Silva (Antônio do Prego), José Virginato de Oliveira (falecido), Silvestre Virgilato de Oliveira (falecido), José de Aquino Nunes (Piolho), Noé de Lelis Ferreira, Benedito Bernardes da Silva (Bacurau), Manoel Cotote Sobrinho, Cizenando de Souza (falecido), Antônio Alexandre da Silva (falecido), Pedro Fernandes, João Formiga (falecido), Antônio Severo, Divindor da Silva (falecido), Vicente Alexandre, Aparício Basílio, Waldir Brejo (falecido), Vicente Ventura (Chaprema) e Geraldo Feliciano Ferreira (falecido), mascote e encarregado de segurar as partituras. “A vontade de tocar era tão grande, que a gente tinha que aprender muito”.
As aulas eram dadas na residência de Luiz Feliciano Ferreira, no bairro da Várzea. Os músicos monitores eram Júlio Fernandes da Silva, que tocava na orquestra do Hotel Barreiro, em Araxá e era delegado da Ordem dos Músicos em Patos de Minas, e mais José Fernandes da Silva (falecido), Pedro Fernandes da Silva, Antônio Severo da Silva, Vicente Ventura, João Formiga (falecido) e João Belo. A primeira apresentação aconteceu em uma festa de São Sebastião (20 de janeiro), na Igreja Matriz, mas o grupo musical era convidado para tocar em festas religiosas, em festas na roça, em aniversários, casamentos e alvoradas, e isso perdurou até 1946, quando então, paulatinamente, os músicos e companheiros foram se dispensando.
Os remanescentes se unem, então, aos Congregados Marianos, associação religiosa presidida na época pelo frei Davi, e desse encontro surgiu a Lira Mariana Patense, uma das mais antigas entidades existentes em nossa terra. Sob a batuta dos maestros João Duarte Campos (Zico Campos), Ita dos Reis e Messias Feliciano Ferreira, a Lira Mariana iniciou sua magnífica caminhada, e a ela foram se integrando outros músicos, como Osvaldo, Neri, Antônio Pereira, Sebastião Pereira, Alino Duarte Campos, José Duarte Campos, Fimurana, Simundo, Antônio Amâncio, Divino Batista, José Batista, Manoel, Geraldo Souza Luiz, Antônio Pereira e Jonas.
As dificuldades foram muitas e existem até hoje, e o relato de Manoel Cotote dá uma idéia de sua dimensão: “Nós nunca tivemos condições financeiras. Nosso sonho é municipalizar a Lira Mariana Patense, pois só assim teremos condições de realizar nosso trabalho para sua sobrevivência. A Lira toca por amizade, por união e amor à musica. Mesmo sem poder, nós tiramos dinheiro do bolso para ajudar nossa entidade. Mesmo assim somos felizes, pois sabemos que já demos grandes alegrias ao povo de Patos. Já nos apresentamos também em várias cidades, como Uberlândia, Araxá, Pirapora, Patrocínio e Conselheiro Lafaiete, divulgando a música patense”.
A Lira Mariana Patense recebeu uniformes e instrumentos musicais graças a um convênio entre a Prefeitura Municipal e a Fundação Banco do Brasil. Sua sede fica localizada no Projeto Saci, na rua Ouro Preto, 775, com telefone 823.1187. Seus integrantes atuais são Ermínio Leonino (sub-tenente reformado e maestro), Manoel Cotote, Antônio do Prego, Waldir Lúcio, José Ricardo Oliveira, Rochester Queiroz, Douglas, Wesley Silva, Adelson Geraldo Dedezine, Flávio, Divino Batista, Geraldo Duarte Campos e João Caldeira Brant. “Muitos músicos que hoje se destacam em Patos de Minas foram ensinados por nós, com muito amor. Apesar das dificuldades, somos felizes, pela possibilidade que nos foi dada de deixar esta contribuição para nossa cidade. São 55 anos de amor pela música”.
A Casa da Cultura presta a estes baluartes da música patense a mais justa e sincera homenagem, desejando que o exemplo de homens tão dedicados seja seguido pelas futuras gerações com o mesmo espírito de puro e sincero amor. Quem não se lembra, quem não gosta de ver a banda passar?… Quem não aprecia “A Furiosa”?… Esses músicos humildes e simples são responsáveis por momentos inesquecíveis de pura alegria dada ao povo da cidade, desde as primeiras retretas até os dias atuais. Aqui fica a nossa homenagem, o nosso carinho, o nosso respeito, o nosso reconhecimento pelo trabalho realizado durante estes 55 anos de existência da Lira Mariana Patense. Seus componentes são Gente da Gente, construindo e alegrando a todos com a música que cala fundo no coração de cada cidadão de Patos de minas.
* Fonte e fotos: Texto de Marialda Coury publicado na edição n.º 19 de 01 de fevereiro de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.