Demorou, mas valeu a pena a espera. Finalmente o CD instrumental do baixista e compositor patense Ivan Rosa ficou pronto. E com uma qualidade invejável, não deixando nada a desejar aos melhores trabalhos deste estilo editados no país nos últimos tempos. O CD Pérola chegou recheado de ritmos variados e demonstra toda versatilidade do músico, autor de todas as faixas do projeto. Gravado por Fabiano Gasparoni, no Studio Show, em Patos de Minas e editado pelo experiente Alex Spiff, no Estúdio Base, na Bahia, Pérola é um disco marcado pelo encontro de grandes amigos de Ivan Rosa na brilhante trajetória musical de mais de 30 anos. Para finalizar o CD Pérola foi reunida uma tropa de peso, onde Ivan Rosa é o oficial de alta patente. Os bateristas Leonor Júnior e Paulinho Rocha; os guitarristas Flávio Silva, Moises Martins, Juninho Martins, Rogério Delayon, Ric Arruda e Joe Moghrabi; os violonistas Maurício Caruso e Daniel Dantas; os tecladistas César Braga e Chistiano Caldas, além dos saxofonistas Wellik Soares e Marcelo Rocha e o baixista Ximba Uchyama foram os soldados escolhidos para a batalha. Esta diversidade de estilo de cada guerreiro deu um sotaque diferenciado ao disco, um CD instrumental que não foi feito apenas para a apreciação de outros músicos.
O disco acabou fazendo um caminho inverso aos lançamentos musicais conhecidos. Em 2010, Ivan Rosa, ao lado de músicos amigos, gravou a filmagem o show Voo Livre, no Teatro Municipal. E foi justamente este espetáculo que deu origem ao trabalho realizado agora no estúdio, com algumas composições que estiveram presentes naquele show (com outros arranjos) e obras inéditas do artista.
O CD Pérola é fortemente influenciado pela bossa-nova, mas percebe-se, porém, uma grande ascendência ao sol funk, estilo que consagrou James Brow e ganhou notoriedade no Brasil com Tim Maia e, posteriormente com Ed Mota, de quem Ivan Rosa confessa-se grande admirador. A homenagem a este estilo fica latente na faixa No Balanço.
O tempero brasileiríssimo do CD e evidenciado com o samba-jazz Swingueira um dos pontos altos do trabalho. Nesta faixa a presença da música negra tupiniquim ganha notoriedade, coroada pela virtuose dos músicos que participam da execução. Amanhecer é outra obra prima do disco. Com levada empolgante poderia muito bem ser o carro-chefe do CD. Mas Voo Livre é a música de destaque do trabalho. Nela, o guitarrista Flavio Silva imprime todo conhecimento técnico e domínio total do instrumento, com solos que na gravação do show foram feitos com saxofone. A gravação de Voo Livre, por si só, já vale o disco.
A música Pérola, que empresta o nome ao CD ganhou destaque na gravação com duas interpretações. Na primeira, o guitarrista Moises Martins (produtor musical do cantor Gustavo Lima) companheiro de infância de Ivan Rosa e o saxofonista Wellik Soares carreiam a linda melodia da composição que parece ter sido escrita para trilha sonora do filme O Nosso Amor de Ontem, do diretor Sydney Pollack. A música, composta em homenagem à esposa de Ivan Rosa ganhou outra versão no CD, desta feita executada apenas como baixo elétrico e o eclético teclado de César Braga. Um primor, excelente opção para quem quer relaxar ao final de tarde deitado numa rede.
Som do Rio é a música cujo tema entremeia as várias nuances da musicalidade carioca. O funck, da década de 1970 é o pano de fundo da música, que é dançante e cheia de swing. Em Tempestade, Ivan Rosa divide a faixa com o eclético músico Juninho Martins. Brisa leva a chancela de Ximba Uchyama no baixo fretless, coordenado pelo solo do saxofonista Marcelo Rocha.
Resumindo, Pérola chegou ao mercado como uma importante arma de popularização da música instrumental. Num país onde existem poucos festivais que contemple este estilo musical e onde praticamente inexiste incentivo para popularizar esse cenário, uma obra
como o CD Pérola traz otimismo e esperança de uma nova concepção cultural no Brasil. É esperar pra ver…
* Fonte: Texto de Bonna Morais publicado com o título “Pérolas para popularizar a música instrumental” e subtítulo “Para finalizar o CD Pérola foi reunida uma tropa de peso, onde Ivan Rosa é o oficial de alta patente” na edição de 20 de dezembro de 2014 do jornal Folha Patense.