TEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2014)
O prefeito patense Sebastião Alves do Nascimento, conhecido como Binga, sempre desejou, desde a sua campanha política, quase como obsessão, que a Prefeitura Municipal instituísse um colégio. Com a ajuda do professor Zama Maciel, muito ligado à área da educação, foi conseguido a realização do sonho de ambos e da população patense. A primeira providência foi a aquisição do imóvel do colégio, situado na Rua Prefeito Camundinho. Uma vez cumpridas as exigências burocráticas foi inaugurado o Colégio Municipal. Mais tarde, durante o governo Magalhães Pinto, que sempre propugnou a favor de uma boa instrução, o prédio foi transferido para o Estado de Minas Gerais, transformando-se, desta forma, o Colégio Municipal em Colégio Estadual de Patos de Minas. Tive a oportunidade de ser professor durante dois anos do Colégio Municipal e dez anos do Colégio Estadual, este último como professor concursado. A matéria que lecionei e para a qual fui habilitado era Geografia. Na realidade, a disciplina que lecionava me permitiu muita empolgação. Eu gostava demais de tal especialidade e, ao que parece, transmitia para meus excelentes alunos o bel-prazer pelos assuntos peculiares.
Uma das técnicas que usava era colocar o mapa apropriado para o assunto objeto da aula, disposto em local próprio, ao lado do quadro negro. Assim, utilizava as possibilidades da época para inserir ao entendimento dos alunos o contexto em estudo. A primeira vez que tive a oportunidade de exaltar a importância do rio São Francisco, cujas nascentes não são tão longe de nosso município, foi-me dado observar que, ao mostrar com o dedo indicador o percurso de tão importante curso de água, mencionando as palavras “descendo o São Francisco”, causei dúvidas em alguns alunos. À primeira vista, para as pessoas não acostumadas com o ensino para pré-adolescentes, pode haver estranheza que os mesmos não tenham raciocínio lógico. Não é verdade. Apenas, os jovens são apressados em suas conclusões. Explico melhor: quando mostrava o mapa do Brasil, suspenso em posição vertical, mostrando que descia o rio, quando na realidade subia o dedo, tal procedimento confundia alguns discípulos menos atentos, o que resultava em um questionamento. Como estava descendo, se na realidade indicava, manualmente, que subia o rio?
Desta forma, em outras aulas, durante muitos anos, fazia de propósito tal encenação. Descendo o rio São Francisco… Era certo que alguns alunos atentos interrogariam tal procedimento. Logo no início, quando aconteceu a dúvida dos garotos, eu me lembrei, quando estudava na Escola Normal, aluno da quarta série do curso primário, que a professora, dona Filomena, perguntara: qual pesaria mais, um quilo de palha ou um quilo de chumbo? Açodadamente, respondi que logicamente seria o quilo de chumbo. Jamais, embora fizesse brincadeiras com os alunos, censurei as respostas inadequadas, humilhando-os. Os procedimentos por mim adotados eram motivo de enormes gargalhadas quando, propositadamente, pegava o mapa e o colocava em posição horizontal, repetindo a frase:
— Descendo o São Francisco… A aula transcorria de maneira bem alegre, servindo de chacota dos alunos entre si. Ah! Bons tempos aqueles, que os anos não trazem mais…
* Foto: Sosriosdobrasil.blogspot.com.