A edição de 16 de fevereiro de 1978 do jornal Folha Diocesana fez uma acusação contra a Fosfértil alegando que a empresa estava invadindo terras na região de extração do fosfato, na localidade de Rocinha. E enfatiza: “A Fosfértil, companhia que explora o fosfato de Rocinha, comete arbitrariedades contra os indefesos moradores da região”, parte do texto “Os Clamores da Rocinha”:
“Onde há choro e ranger de dentes” não por causa do fosfato ali existente que constitui um motivo de grandeza e de glória para Patos de Minas e para o Brasil.
A CPRM quando se apossou das terras onde está a jazida, o fez com elegância e diplomacia, procurando agradar a gregos e troianos. Também pudera: à sua frente achava-se um homem cavalheiro como o Dr. Ivan Barrettos, e orientando a obra da Rocinha estava à frente o Dr. Simões, enérgico mas cortês, sabia manter boas relações com os moradores locais e vizinhos. Oh, que saudade temos DA CPRM. Deixou nome e amizade.
Agora surge a Fosfértil. O fantasma da Rocinha de olhos e ouvidos poluídos para não ver a humildade dos proprietários e ouvir suas lamentações. Pratica arbitrariedades revoltantes; como se fosse o dono das terras faz escavações, fecha estradas, derruba cercas, depreda, sem explicações extorque propriedades, sem justificação o fantasma continua invadindo as terras.
Sem receber nenhuma indenização continuam boquiabertos os moradores da Rocinha. Fazer o que? A quem se dirigir? Ó mora, ó tempora. Onde estão os responsáveis por tal situação? Ninguém sabe.
Parece que estamos implorando às companhias para que venham explorar o nosso fosfato, porque estamos perdendo a oportunidade de progresso. Chegam para cá com todas as exigências e caprichos, e nós as satisfazemos, porque poderão não querer explorar o fosfato.
Aí surge a petulância, a arrogância sem respeito devido por cima dos mais fracos. Os proprietários de Rocinha estão passando dias amargos com o Fantasma da Fosfértil. Até quando continuará abusando da paciência dos pequenos, dos fracos, dos desvalidos?
Que Deus se apiede dos moradores de Rocinha.
Em 23 de fevereiro, o jornal publicou uma carta da Fosfértil na qual a empresa presta esclarecimentos a respeito da acusação:
Rio de Janeiro, 21 FEV 1978
Revmo. Pe.
Antônio Dias dos Reis
Diretor Responsável da FOLHA DIOCESANA
Patos de Minas – MG
Senhor Diretor,
Com fundamento no respeito maior que sempre nos mereceu a Folha Diocesana, foi com um misto de espanto e apreensão que lemos o noticiário sob o título “Invasão de terras em Rocinha”, veiculado na primeira página da edição de 16 do corrente deste noticioso. Espanto, pela inveracidade da matéria e pela acolhida dada à mesma por órgãos da imprensa que, repetimos, sempre tivemos no maior conceito; apreensão, por não sabermos quais os interesses que estarão sendo servidos com a divulgação de tais inverdades, burlando até a boa-fé de jornalistas íntegros, particularmente se considerarmos que jamais tais alegações foram formalmente levadas por terceiros junto à FOSFÉRTIL.
Porém, vamos aos fatos, deixando claro que esta deverá ser nossa única resposta, dada, tão somente, em respeito ao Povo de Patos de Minas, que nos merece toda a consideração, pois dele só temos recebido gentilezas e provas da mais alta estima.
Inicialmente, a bem da verdade, cumpre-nos esclarecer que, mediante contrato firmado entre a CPRM e a FOSFÉRTIL, esta última, a partir de 1.º de agosto de 1977, ficou responsável pela operação, em caráter experimental, da Usina Eng.º Adamir G. Chaves, cumprindo ainda a incumbência, dada pelo Governo Federal, de implantar uma Unidade Industrial na Rocinha, meta a que se apegou com a máxima objetividade e dentro do mais elevado interesse comum, tendo iniciado a terraplanagem já em 1.º de outubro de 1977.
Destarte, se nos parece bastante ingênuo, atribuir-nos arbitrariedades “contra os indefesos moradores da região”, quando é público e notório que nas aquisições de terras que fizemos para a Unidade Industrial foram negociados preços absolutamente justos, tendo-se valido a FOSFÉRTIL, inclusive, de advogado local, da maior honorabilidade, em todos os acordos afetuados.
Conscientes desta lisura de procedimento não vemos razões para que os possíveis “espoliados” fiquem à sobra de escritos não assinados, tentando denegrir um grande esforço em prol da coletividade.
Se existem insatisfeitos, que procurem a FOSFÉRTIL, com casos concretos, pois os levaremos na devida consideração, como jamais o deixamos de fazer.
Outro reparo, porém, se faz absolutamente necessário: nem a CPRM nem a FOSFÉRTIL jamais se apossaram de quaisquer terras, seja com “elegância e diplomacia”, como dito na nota da Folha Diocesana, seja por quaisquer métodos arbitrários, vez que ambas sempre pautaram suas atividades dentro do fiel cumprimento do Código de Mineração.
Saliente-se aqui que, mesmo antes da oportuna campanha do principal articulista dessa Folha Diocesana, jornalista Oswaldo Amorim, conclamando os patenses a concentrar suas compras na própria cidade, a FOSFÉRTIL tem cumprido à risca orientação de sua Diretoria, de só deslocar compras de Patos de Minas quando se tratar de material não disponível no comércio local.
Além disso, a FOSFÉRTIL sempre se engajou em causas de interesse da comunidade patense (estrada, DDD, escolas profissionais, etc.) indispensáveis ao desenvolvimento harmônico que tanto se deseja para o Município.
Surpreende-nos, portanto, o ataque anônimo, que procura lançar a semente da discórdia, sem ver que o nosso objetivo primordial foi e será sempre o interesse da comunidade.
Certos de que a Folha Diocesana tem o maior interesse em corrigir erros editoriais, permitindo que a verdade seja amplamente divulgada, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos sobre o Projeto Fosfato, agradecendo o apreço com que sempre fomos distinguidos por este conceituado periódico.
Atenciosamente,
(a) Maurício Augusto Alves Correia
Diretor Superintendente
* Fonte: Jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
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