ACONTECEU EM 1915

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EspantoEstava o velho fiscal da cidade passando por uma somneca, em uma respeitável caminha, quando batem-lhe á porta com força e muita pressa: era um rapagote que vinha lhe communicar que uma vacca vagava nas ruas da cidade.

Solicito no cumprimento de seus deveres, sai apressadamente o pobre homem, em busca do importuno ruminante, que estava transgredindo uma das leis municipais.

Ao chegar á altura da Distribuidora¹, poz elle o ouvido á escuta e ouviu com effeito, que uma vacca (ou boi) berrava desesperadamente, amiudadamente, lá pelos lados do Largo da Matriz².

Apezar de jà bastante velho e meio trôpego, o nosso amigo ensaiou uma carreirinha de quem estava querendo mesmo correr. A proporção que elle avançava… o berro desapparecia alli, para fazer-se ouvido acolá.

Chegando ao Largo da Matriz, nada: a vacca já berrava lá para as bandas do Largo Antonio Dias³; chegando alli, ella já berrava em outro ponto, com certeza correndo doidamente, á procura do bezerrinho.

Correndo, em vão, d’aqui p’ra alli e d’alli p’ra acolá, o pobre velho exclamou indignado:

Não ha quem pegue o diabo d’aquelle animal que corre e berra feito um damnado. Eu não aguento mais, já estou frouxo, e ascentou-se alli mesmo, ao pé de um poste; e meditava no meio de apprehender a tal vacca, quando ella aponta ao longe, berrando repetidamente.

Apanhei-te, damnada! Exclamou elle no auge do contentamento; e esquecido de seus achaques, do seu rheumatismo, pôe-se em pé, de um salto e verifica então, com surpresa e desapontamento que a vacca não era vacca, era… um automável4.

* 1: Trata-se da distribuidora de energia que vinha da Usina do Ribeirão da Mata que era localizada na atual Praça Desembargador Frederico.

* 2: Hoje Praça Dom Eduardo.

* 3: Hoje Praça Antônio Dias.

* 4: De acordo com registros históricos, Sesostris Dias Maciel, o Major Gote, foi quem introduziu o primeiro automóvel em Patos de Minas, em 1913. Daí para setembro de 1915 não se sabe quantos veículos já rodavam pelas poeirentas ruas patenses. Mas, pelo humorismo presente no texto, deviam ser raros, e estes raros automóveis ainda causavam espanto às pessoas.

* Fonte: Texto publicado no jornal A Carapuça de 12 de setembro de 1915 com o título “História Verdadeira”, do arquivo do Laboratório de Ensino, pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Susanlee.blogspot.com.

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