Compositor faleceu dia 3 de novembro e desfalca o Carnaval Patense – De Laércio Rocha
Quem ainda não ouviu a música “Garoto Estilingão”, ou mesmo “Roubaram a bicicleta do Tonhão”, a “Marchinha da Sogra” e tantas outras composições de Antônio da Silva Andrade, o “Tonhão Andrade”, como era carinhosamente conhecido em Patos e região? Pois é, estas e outras composições de Tonhão, animaram inúmeros carnavais patenses, alegrando os foliões, principalmente nos nossos memoráveis carnavais de Rua. Agora sua voz se cala e sua pena deixa no ar a saudade, com o falecimento do compositor mais popular de Patos de Minas, ocorrido dia 3 de novembro do corrente ano.
Antônio da Silva Andrade, o Tonhão, nasceu em Patos de Minas em 18 de dezembro de 1931, sendo filho de Antônio Maria dos Santos e Maria Andrade. Estudou até a antiga 4.ª série primária, no então “Grupo Escolar Marcolino de Barros”. Na infância, segundo explicou certa vez o compositor, “adorava soltar papagaio, matar passarinho e jogar ferradura…”.
Tonhão viveu na Rua Major Jerônimo, próximo ao campo do Esporte Clube Mamoré, seu clube de coração. Viveu intensamente sua época, participando de programas na Rádio Clube de Patos, animando os carnavais patenses com suas inesquecíveis e tão populares composições, a exemplo das músicas citadas no início desta reportagem. Alegre, amigo fiel e com o seu ar de bonachão, conquistou uma verdadeira legião de amigos e admiradores de seu trabalho simples, mas muito contagiante.
Segundo explicou várias vezes a pessoas que indagavam admiradas sobre suas músicas, Tonhão sempre afirmava: “Minhas composições nunca foram copiadas de ninguém. Eu as fiz na minha simplicidade”. Muitas de suas composições foram gravadas na Rádio Clube, emissora que ainda guarda muito de suas composições em ser acervo.
Integrante do Clubinho Carnavalesco do Povo, Tonhão fez inúmeras músicas de sucesso, conforme ele mesmo não se cansava de dizer: “Eu fiz muitas músicas para o Trio Elétrico do Clubinho. Os músicos do Clubinho me ajudavam muito. A turma do Clubinho me incentivou muito e por isso devo muito a eles. Marcinho Maciel, Marquinhos Rassi, Bráulio Porto, Jaime, enfim, todos eles, são meus amigos inesquecíveis…”.
Tonhão era fascinado pelo Rádio e em algumas ocasiões chegou a afirmar que “sempre gostei do Rádio, das músicas que o rádio tocava… isso sempre me fascinava. Na Rádio Nacional do Rio de Janeiro eu adorava ouvir os artistas da época, como Jorge Goulart, Nélson Gonçalves, Francisco Alves, entre tantos outros de sucesso…”. Ainda sobre suas composições, Tonhão dedicava atenção especial ao Carnaval, mas compôs boleros cantados pelo artista patense José Cristal, além de músicas sertanejas e rancheiras. Era um poeta popular, com a alma sempre inspirada e pronta para fazer brotar uma nova composição que logo ganhava as ruas e os corações dos patenses.
A primeira música de sucesso foi composta em 1957, intitulando-se “Marchinha da Sogra”, sucesso absoluto em Patos e região. Depois surgiram na roda de sua vida de compositor “Garoto Estilingão”, “Bicho da Cara Feia”, “Os Meninos da Mangueira”, “Roubaram a Bicicleta do Tonhão” e tantas outras músicas que fizeram sucesso e alegraram os carnavais patenses, sempre com a sua tradicional pitada de simplicidade e poesia popular, mas que ganhavam o público tão logo eram divulgadas pela nossa querida Rádio Clube de Patos.
Antônio da Silva Andrade, o Tonhão, faleceu dia 3 de novembro. Foi casado com Dona Jocelina Linhares (já falecida), com quem teve os filhos: Angelita, Davilhande, Erisdalton, Nilo, Antônio, Gil Laine, Danilo e Erislaine.
Na sua passagem por aqui, fez história e deixou um grande acervo musical, especialmente marchinhas e frevos carnavalescos. Com toda certeza será sempre lembrado por todos os patenses que aprenderam a admirá-lo pela sua simplicidade, pela sua amizade e sua alegria. Um poeta do povo, que deixa sua lacuna no seio da cultura patense.
HOMENAGEM A TONHÃO ANDRADE
Aproveitando a Semana da Cultura, o vereador Altamir Fernandes prestou homenagem ao poeta e compositor popular Antônio Andrade, o Tonhão. Frisou que foi uma grande perda para o setor artístico e cultural, o falecimento de Tonhão, no último dia 3 de novembro.
Antônio Andrade, natural de Patos de Minas, bombeiro hidráulico, poeta e compositor popular. Faleceu aos 68 anos de idade e deixou, sem dúvida, sua marca indelével na história e no coração do povo patense. Tonhão ficou bastante conhecido pelo seu jeito simples de ser e pelas grandes amizades que deixou ao longo desses anos. Formado pelos ensinamentos da vida, criou com exemplo e dignidade os seus 7 filhos, hoje, grandes profissionais e pessoas queridas por todos em Patos de Minas.
Antônio Andrade, o Tonhão, compositor nato e grande figura dentro de nossa cultura popular. Artista conhecido e reconhecido pelo grande público, pelo sucesso de suas canções, principalmente as suas marchinhas de carnaval. Quem não conhece “Jacks Matador”, “Sogra Danada” e “O Garoto Estilingão”, músicas carnavalescas cantadas pelos foliões nos salões e nas ruas durante a festa do momo.
Com o “Encontrão”, o “Trio Elétrico” e o “Clubinho Carnavalesco do Povo”, a história de Tonhão foi reconhecida com o valor mais precioso do verdadeiro resgate da cultura popular.
Altamir termina sua homenagem a Tonhão dizendo o seguinte: “Abrem-se as cortinas, começa o carnaval. Começa o espetáculo da alegria. Agora, as ruas estão vazias. Fecham-se as cortinas daqui. Mas por pouco tempo. Há festa no céu. Tonhão está fazendo um carnaval interminável para os santos, anjos e nossos entes queridos que também estão por lá. E quem sabe desçam sobre nós gotas de alegria de seus versos, como dádivas da saudade de tantos outros carnavais”, recitou o vereador.
TONHÃO DO CARNAVAL – De Civuca Costa
“Abrem-se as cortinas”. Da vida. Da avenida. Chega o carnaval. Começa o espetáculo. A multidão em festa. Alegrias, confete, serpentina. Todo mundo junto, cantando as músicas do Tonhão. A bicicleta dispara ladeira abaixo. O trio elétrico sobe o morro e desce o morro e vai ao povo. A sogra danada está buzina com o garoto estilingão que acabou de quebrar mais uma vidraça. O pinto pia, o sapo pula e o trovão azul explode em cores com mais um grito de gol. Entra na avenida um bicho da cara feia e em um simples descuido do meninão, roubaram mais uma vez a bicicleta do Tonhão. E deixaram o meninão andando a pé. O suor da mulata é quente e hidrata. “Ai, que cheirinho bom…”.
E na avenida, como é carnaval, tá todo mundo louco e satisfeito mandando beijos por aí. Na madrugada a pipa do Tonhão não sobe mais. O periquito rói e o côco cai. Todo mundo de manhã curando a ressaca com água côco. Antes era Patos-Paris. Agora é Patos-Porto Seguro? Ou secaram o nosso rio Paranaíba. Coitado do Jacaré. Como é que é?
Amanhece o dia. Acabou o carnaval. São cinzas, cansaço e belas lembranças. O namoro, a paquera, “chuva, suor e cerveja”. Acabou o espetáculo. É dia de chuva e sol. O coração do Clubinho sumiu entre nuvens.
Fecham-se as cortinas. As ruas estão vazias. Existem lágrimas e tristezas. Só o ano que vem? Não. É por pouco tempo. O Tonhão apenas se encantou no galope das estrelas. Viajou pra outras rodas de samba. E já se ouvem os batuques dedilhados nas caixinhas de fósforo. Tem festa no céu. Os anjos e santos cantam e dançam. Bem ao espírito do carnaval celeste. É a bênção do Senhor.
O coro dos arcanjos retribui com alegria e amor: “Foi Deus quem mandou você vir aqui. Para nos alegrar, para nos distrair…”.
Aqui na terra, a gente continua no mesmo pique da alegria. E tá chegando mais um carnaval. A festa no novo milênio. E o Tonhão? “Ele é o maior. Ele é o maioral”. Ele quer que a gente faça sempre o carnaval.
O Tonhão, o nosso Tonhão do Carnaval está feliz e em paz. Compondo mais uma marchinha ou um samba animado para o ano que vem. Contagiando a todos com seu jeito menino de sonhar mais alto que as estrelas. Encantando tudo no espaço sideral. Por onde passa deixa rastros de alegria. Na terra ou no ar o meninão deixa saudades. Montado em sua nova bicicleta “só que ela é verde e amarela”. O Tonhão voa alto com os pássaros encantados de seu pensamento. Tonhão está apenas fora de seu tempo. Como diz o poeta: “As pessoas não morrem. Elas ficam encantadas”.
Os céus sabem disso. “O Tonhão está muito bacana, o Tonhão está muito legal. Apesar de fazer muita força o Tonhão foi passado pra trás…”.
Os últimos serão os primeiros? O Tonhão está atrás de um comboio de luzes e orquestras. Atrás do Trio Elétrico só não vai quem não se encantou. O meninão esqueceu-se do tempo e se perdeu entre as estrelas. Dorme profundamente. Encantou-se de vez. E hoje é dia de samba. Música maestro: “Quando ele canta, mais parece um vendaval. O povo pula, o povo grita com Tonhão o maioral”.
* Fonte e Foto: Texto publicado na edição de 11 de novembro de 2000 do jornal Folha Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.