Nasceu em Formiga, a 24 de agosto de 1842. Iniciou sua carreira aos 16 anos de idade em Bambuí. Em 1862 segue para São Francisco das Chagas do Campo Grande (hoje município de Rio Paranaíba), removido por ato de 04 de maio. A mobilização financeira para fazer face às despesas com a guerra com o Paraguai tem a sua ajuda. Voluntariamente, ele oferece 5% de seus vencimentos, durante toda a fase bélica, o que o governo aceita, com elogios.
De São Francisco das Chagas do Campo Grande é mandado para Dores da Boa Esperança (hoje município de Boa Esperança, no Sul de Minas, às margens da Represa de Furnas), por ato de abril de 1868, para onde já havia sido removida sua primeira esposa, a professora Maria Luíza Corrêa de Mello.
A cadeira dorense de ensino é suspensa em abril de 1872, tendo em vista o relatório do delegado de instrução Zeferino José Mesquita, que acusa o mestre de esconder o livro de frequência, do qual constam apenas quatro alunos, e de retirar-se constantemente para Formiga, além de não inspirar, juntamente com sua esposa, como regentes das cadeiras de ensino, a necessária confiança dos pais de famílias. Ele, pela instabilidade; ela, pelo gênio maledicente, atrabiliário e colérico, dando lugar a que granjeassem inúmeras antipatias, como assevera o delegado.
Contornando a situação, ambos são transferidos para Santo Antônio do Monte, onde abriram aulas a 09 de setembro de 1872. Por ato de 07 de fevereiro de 1877, Valeriano é enviado para Araxá, onde passa a ocupar a 2.ª cadeira de ensino, e abre uma aula particular que funciona por alguns meses.
Ato do governo, de 03 de agosto de 1880, o transfere para Santo Antônio dos Patos, quando a sua atuação foi dinâmica e digna de admiração.
Condoído com o grande número de adultos analfabetos, o professor Valeriano, com ajuda da Câmara, abre uma aula noturna em 1.º de setembro de 1884. A escola funcionava às 2.ªs, 4.ªs e sábados, recebendo matrículas de maiores de 14 anos e, além do mais – o que é significativo – de escravos, com permissão de seus senhores. O tempo das aulas ia de 7 às 9 da noite, e constavam as mesmas de leitura e caligrafia, noções de gramática portuguesa, noções de geografia e história do Brasil, as quatro operações decimais, com exercícios práticos de reduções de pesos e medidas.
Em 1887 a aula noturna ainda funcionava.
Ainda regendo a escola patense, o professor é aposentado em 08 de agosto de 1889.
Em 1894, sendo criada uma segunda cadeira de ensino para o sexo masculino em Patos, o professor Valeriano consulta o governo se, como aposentado, poderia assumi-la. A resposta foi negativa.
Inativo, transferiu-se por uns tempos para o arraial das Alagoas, onde foi um dos mentores do ensino. Dali, em dezembro de 1899, pede a criação de uma aula para o lugar.
Sua segunda esposa, Maria Augusta da Rocha Souto, que ensinava em Alagoas, chegou a ser transferida, em 1895, para o Bairro da Várzea, no distrito da Cidade. Um abaixo assinado tornou sem efeito a remoção, indo em seu lugar a sua filha Francisca Augusta da Rocha.
Valeriano voltou a Patos, nomeado fiscal da Câmara Municipal, em 11 de dezembro de 1900.
O jornal “O Trabalho”, de 24 de fevereiro de 1907, publica anúncio seu, comunicando a abertura de uma aula de instrução primária para adultos, em sua residência, com mensalidade de 8 mil réis no ato da matrícula¹.
O mesmo jornal, poucos meses depois, traz o seu necrológio, falecido que foi em 30 de julho de 1907. O registro de inumação dá sua idade – 66 anos – e como esposa, a terceira, Maria Francisca Borges.
O jornal A Província de Minas, em sua edição de 10 de outubro de 1884, publicou um depoimento de Felisbino José da Fonseca (homem de influência na época, vereador, delegado e capitão da 17.ª Seção do Batalhão de Reserva da Guarda Nacional):
Vila de Patos, 12 de setembro de 1884.
Sr. Redator:
Não posso deixar de comunicar-lhe, que, no dia primeiro do corrente mês, foi aberta nesta vila a escola noturna, regida pelo atual professor de instrução primária sr. Valeriano Rodrigues Souto, que torna-se incansável no cumprimento de seus deveres, – com este procedimento deu mais uma prova de seu patriotismo e desejo da propaganda da instrução, não só ao menor, como ao adulto, ao de condição livre, como ao escravo.
Fatos desta ordem, trazem a prosperidade local, deviam ser tomados na devida consideração pelos nossos governos, e, deveriam ser imitados pelos demais professores da província.
Atarefado como é o dito professor com os trabalhos de sua escola diurna que é frequentada por grande número de alunos, tanto que lhe foi dado um adjunto, recaindo esta nomeação na pessoa do honrado sr. Antônio Augusto da Silva Tormin, que desempenha satisfatoriamente as funções deste cargo, vai esta escola marchando regularmente, apresentando os alunos, muito adiantamento.
A escola noturna, de que acima falei, em cinco lições de seu exercício, tem uma matrícula de trinta alunos, cujo número tende ser elevado consideravelmente.
A Ilma. Câmara, não poupa meios para o engrandecimento do município, e fornece o quantitativo necessário, para a iluminação da referida escola, e com isto pratica um importante serviço, facilitando aos seus munícipes a fonte onde vão beber a instrução.
Parabéns, pois, a seus ilustres membros, os quais devem estar convencidos, de que serão louvados geralmente por este passo que traz tantos benefícios a este país.
Paro aqui, e em outra ocasião serei mais prolixo.
Com a publicação destas linhas, muito obrigará ao seu constante leitor:
Felisbino José da Fonseca
* 1: Veja o anúncio em “Aula Particular do Professor Valeriano”.
*Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.
* Foto: Colegiosantamaria.com.