A criação de uma banda de música é uma notícia auspiciosa. O som de uma corporação musical dá vida, dá alegria, dá entusiasmo a todas as festividades, sejam elas cívicas, religiosas ou sociais.
“Antigamente” era assim. Nos comícios, na chegada de ilustres personalidades, nos casamentos, nas festas religiosas e até em bailes uma banda de música era insubstituível.
Patos era ainda uma pequena cidade e no entanto contava com duas bandas de música: “Santa Cecília” regida pelo maestro Augusto Borges e outra, regida pelo maestro Randolfo Duarte Campos.
Mas acontecia que “naquele tempo” música era “cachaça” para muita gente boa. Das bandas de músicas faziam parte professores, negociantes, industriais, operários e todos, na melhor boa vontade e satisfação atendiam à convocação do maestro para os ensaios e para as tocatas que eram cotidianas. Cidadãos como Antônio Bruno, Theobaldo José da Rocha, José Guimarães, Randolfo Duarte Campos, João Ambrósio e José Soares Ribeiro, já falecidos e Augusto Borges, Olímpio Rocha, Telésforo Ribeiro, João Pinheiro, Arlindo Borges, e tantos outros não mediam sacrifícios para que a música estivesse presente em tôdas as festividades, dando-lhes brilho, entusiasmo e alegria.
Havia rivalidade entre as duas bandas de música, uma rivalidade progressista, um incentivo para que cada qual procurasse apresentar o melhor de seu repertório.
Quando foi construído, por Artur Tomaz de Magalhães, o primeiro jardim público, primeiro se construiu o corêto e todos os domingos havia retreta e quermesse. Em um domingo tocava a banda do Sr. Augusto e em outro, a do Sr. Randolfo. Os programas eram publicados no jornal local, salvo engano, “Jornal do Comércio”, de Alfredo Borges¹.
A maioria das atividades de uma banda de música era graciosa. Os músicos tocavam por prazer e por espírito de colaboração.
Nas festas religiosas a tarefa era grande. Havia os ensaios e alvorada na madrugada do dia da primeira novena. Tocava-se em todas as noites de reza e durante os leilões; na missa solene e na procissão.
“Naquele tempo” não havia côro orquestrado. Com alguns instrumentos, bons cantores e ótimas cantoras o côro assim organizado satisfazia completamente.
Nas festividades da Semana Santa as procissões eram acompanhadas pela banda de música tocando marchas fúnebres. Na Quinta Feira Santa, a meia noite, o côro saia em visita aos “passos” erguidos em diferentes partes da cidade. Festividades comoventes que tocavam religiosamente nossos corações.
O pitoresco, o imprevisto, também acontecem em momentos de oração e respeito e por isso mesmo ficam gravados em nossos corações.
Em uma Quinta Feira Santa quando nos dirigíamos para a Igreja fomos surpreendidos por dois vultos que rolavam atracados, em desesperada luta. Reconhecemos logo os dois contendores: dois amigos da cachaça qe escolheram um momento e um lugar inadequados às suas libações. Meu pai foi o primeiro a se aproximar daqueles Bêbados dizendo: – “que vergonha… deixem de briga…”. Theobaldo, um dos cantores, e que era também o bombardenista da banda, foi mais categórico. Aproximou-se dos dois brigões e valendo-se de uma varêta que trazia à mão, deu na cabeça de cada um uma bem aplicada caquerada. Incontinente os dois se levantaram e se puzeram a correr. Theobaldo satisfeito com o resultado de sua intervenção e com um largo sorriso, que lhe era peculiar, virou-se para meu pai dizendo: “é assim sr. Augusto, que a gente ensina estes malandros”.
* 1: O nome correto do jornal é “O Commercio”.
* Fonte: Texto de Laurindo Borges publicado com o título “Quem de Longe… (III)” na edição de 19 de outubro de 1958 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Centro de Documentação e Memória do UNIPAM.
* Foto: Um dos parágrafos do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.