VICENTE PEREIRA & MARIA ALVES

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A família de Vicente Pereira e Maria Alves começou assim. Vicente, um homem magro, de cabelos castanhos, olhos azuis anis, produtor rural, estava trabalhando em sua terra. Ao lado, passa um trilho que dá acesso a várias casas. Maria Alves vai passando na garupa de um cavalo, apoiando-se no pai. Vestida de saia, sentada de lado no couro do animal, trocam olhares e cumprimentam-se com o coração pulsando.

Meu avô Vicente Pereira parou de capinar e apoiou o braço no cabo da enxada. Virou-se e seguiu, até ela entrar em uma casa. Tramou uma desculpa para ir lá e pedir para beber água. Vai até à casa, suado, bate palmas, e sai aquela mulher morena do sonho, Maria Alves, de cabelos pretos bem cuidados, unhas bem-feitas, perfumada. Pede água. Atenciosa, Maria Alves vem trazendo uma botija cheia e um copo de cabaça. Ao ver que ele estava cansado, pede que meu avô se sente na poltrona de balanço que fica na varanda. Coloca a água na cabaça e entrega para ele; avô Vicente, ansioso e direto, agradece pela atenção e pergunta se pode pedi-la em namoro ao futuro sogro e explicar que se apaixonou à primeira vista. Avó Maria Alves se interessou, fez um “suspense”, pediu um tempo para pensar melhor.

O tempo passou e, por coincidência, Avô tocava sanfona e, no meio de tanta gente em uma ocasião, eis que ele mira aquele olhar azul-anil e enxerga avó. No intervalo da hora do almoço, havia uma mesa grande, estilo sagrada família, e uma fila enorme para se servir. O cardápio do dia era: pelotas, carne de panela, galinhada, tutu de feijão, salada de tomate, doce de leite, queijo e suco de limão, todos de prato cheio. Restaram duas vagas na mesa e, no mesmo banco ao lado, os dois sentam-se encostados, parecendo combinado. Na conversa, ela diz admirar ver alguém tocar sanfona tão bem e lhe dá os parabéns. Ao finalizar a festa, saem juntos. Avô pergunta novamente se pode pedi-la em namoro. Ela responde que sim.

Com a cara e a coragem, sem nenhuma alcoviteira, no outro dia, bem cedo, levanta-se com o propósito de pedir ao pai da avó Maria Alves para namorá-la. Chega ao barranco que dá acesso à lateral da casa, bate palmas e chama pelo nome e sobrenome: José Simião Cardoso! Avó conheceu a voz, olhou pela fresta da janela de madeira e viu o avô apresentando-se e pedindo a meu bisavô José Simião Cardoso para namorá-la:

– Sou o Vicente Pereira e vim aqui para pedir ao senhor para namorar sua filha Maria Alves.

A bisavó Osória Alves Cardoso percebe a visita, faz café para recebê-lo. O bisavô José Simião nem chamou a visita para entrar e começou o interrogatório:

– Qual a sua profissão?

– Trabalhador rural.

– Onde você mora?

– Moro aqui em Boassara.

– Trabalha para quem?

– Para mim mesmo, aquele pedaço de chão ali no alto é meu.

– Quem são seus pais?

– José Pereira Cardoso e Maria Lina Pereira.

– Conheço sua família, temos um parentesco, deixo vocês namorarem. Promete ser namorado fiel?

– Sim!

– Então pode namorar. Cuida bem dela.

– Pode deixar, sogrão.

Namoraram poucos meses e, então, casaram-se. Avô Vicente arrendou sua terra, buscou emprego na fazenda Capoeirão, que fica localizada em Presidente Olegário, e levou a família para morar na sede da fazenda. Meus avós tiveram sete filhos, um atrás do outro. O mais velho sempre cuidava do mais novo. Os avós criaram os meninos juntos até o início da puberdade do filho caçula dos homens, sendo meu pai. A relação não tinha brigas e, do jeito que começaram, terminaram, assim não viveram juntos mais.

Pouco depois que meus avós se separaram, Vicente Pereira resolveu acertar com o patrão e voltar a morar em Boassara, em Patos de Minas. As filhas se espalharam pelo Brasil afora. Duas delas foram morar em Barretos: a caçula, Margarida, e Elena; Aparecida, em Capela das Posses, Aurita, Maria e a filha adotiva Vera ficaram em Patos de Minas. Meu pai, Lázaro, seguiu sua mãe, vindo morar em Patos de Minas, com o irmão mais velho, José Pereira.

Morando em Barretos, tia Elena fica sabendo que seu irmão Lázaro estava muito magro e pálido. Então ela vai até Patos de Minas com o intuito de levar Lázaro para Barretos, para que ele ficasse por lá durante algum tempo e pudesse fazer alguns exames médicos. Meu pai foi trabalhador rural, motorista de caminhão, boiadeiro e marceneiro, profissão que exerce até hoje. Tio José Pereira também já foi trabalhador rural e cabeleireiro. Batizado na igreja católica, aprendeu a ter o hábito de rezar e orar com os pais, fez a primeira comunhão e a primeira eucaristia. Hoje, ao fechar a oficina de móveis, quando se deita, ao levantar-se, nas horas de almoçar e jantar, faz suas preces, como Pai-Nosso, Ave-Maria, Oração a São José, etc. Gosta muito de agradecer pelo dia e pela família que tem, também orando sempre por aqueles que faleceram.

Oração a São José

“São José, carpinteiro de Nazaré, amigo dos pobres e fiel esposo de Maria, intercedei por todos os que se empenham no trabalho espiritual, intelectual e manual. Intercedei junto a Jesus por todas as necessidades do mundo, do trabalho e por nossos governantes. Alcançai-nos, também, a graça de que tanto necessitamos (fazer o pedido). Que nós tenhamos a graça de imitar as vossas virtudes para chegarmos, um dia, à vivência da plenitude em Deus. Amém! São José, rogai por nós!”

Com o passar do tempo, vemos partir para sempre pessoas com as quais nos identificamos, sabendo que um dia chegará nossa vez, e deixaremos muitas lembranças e saudade.

* Texto: Fábio Alves Borges

* Foto: Maria Alves e Vicente Pereira, do arquivo de Fábio Alves Borges.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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