Cena comum, não só na Cidade, mas nos Distritos, é a presença de vendedores ambulantes patrícios, de outras regiões do país e até de inúmeros andinos artesões de bijuterias. Tem a Lei que regula isso (Artigo 184 do nosso Código de Posturas), mas… vamos ao que interessa. Dia desses, um sujeito, sabe-se lá vindo de onde, postou-se com uma mesinha com seu material de venda na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Olegário Maciel, ao lado da Rádio Clube. Seu negócio ambulante? Casca de jabuticaba energizada. Passando pelo local, a jovem Jandira, daquelas repletas de problemas emocionais, de estima mais baixa que uma cisterna de 500 metros de fundura, com tatuagem até na hemorroida, se deparou com o tal sujeito:
– O que é isso?
O tal sujeito explicou que eram cascas de jabuticabas energizadas com a luz lunar, mas não qualquer luz lunar, era a partir do 1.º minuto da Lua Cheia, exatamente durante quatro horas, como muito bem os Incas faziam, e que, se mastigada a quantidade de uma colher das de chá três vezes por dia durante todo o período da Lua Cheia, faria a pessoa ficar mais inteligente e até começar a relembrar fatos muito antigos de sua vida, o que, na verdade, evitaria o Alzheimer. A Jandira se empolgou:
– Quanto custa?
O picareta explicou que, sendo uma colherzinha das de chá três vezes ao dia durante a semana de sete a oito dias de Lua Cheia, seriam necessárias por volta de 120 gramas da casca de jabuticaba energizada, mas que, por gentileza, lhe ofereceria cento e cinquenta gramas por 30 reais e que, o mais importante, muito idoso dali das redondezas já havia adquirido o milagroso produto. A Jandira ficou na dúvida se comprava ou não as 150 gramas da miraculosa jabuticaba energizada que evita o Alzheimer. Por isso indagou:
– Moço, esse trem funciona mesmo, isso vai mesmo melhorar a minha inteligência e evitar o Alzheimer?
O pilantra, com uma pose de doutor, pegou a porção da colherzinha e ofereceu à moça. Ela, mastigando a casca de jabuticaba energizada pela luz da Lua Cheia, ouviu do mestre:
– Não vai demorar muito e você sentirá os resultados.
E não é que a Jandira caiu no golpe e comprou o produto pelos 30 reais. Já na esquina com a Rua Tiradentes, eis que os parcos neurônios da Jandira lhe alertaram e ela suspirou:
– Peraí, 30 reais por 150 gramas de cascas de jabuticabas energizadas na noite de Lua Cheia? Ora, na época de jabuticaba basta eu pedir ao meu tio que ele traz do seu sítio quilos e mais quilos de jabuticabas e eu mesmo coloco as cascas para energizar como ele disse.
A Jandira voltou até o pilantra e narrou o fato. Na maior cara de pau, o sujeito respondeu:
– Viu como essa casca de jabuticaba energizada aguçou a sua inteligência!
E não é que a Jandira foi embora feliz da vida! Sobre o milagreiro jabuticabal, nunca mais foi visto na cita esquina.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.