CASAL ESOTÉRICO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Certo domingo, o Epaminondas, aos 22 anos de idade, estava na sua costumeira caminhada matinal pela orla do Parque Dr. Itagiba Augusto Silva, a popular Lagoa Grande, quando uma cigana o abordou prometendo lhe mostrar algo de sua vida nos dias advindos através da leitura das palmas de suas mãos. O rapaz, por mera curiosidade, resolveu aceitar a proposta por módicos 10 reais.

Entre várias previsões ouvidas, naquela base de não acreditar naquelas fanfarronices, eis que uma até que lhe despertou algum interesse:

– Ainda hoje, você conhecerá a mulher de sua vida.

Lá foi o Epaminondas continuar a caminhada sem se preocupar com o que a cigana lhe predisse, mas aquela de que ia conhecer a mulher de sua vida fazia cócegas em seus miolos, mesmo que pouquinho. Foi então que cruzou com uma linda jovem. Embasbacado, ele sorriu para ela, e ela, a Gioconda, sorriu para ele. Depois de mais duas voltas, ele criou coragem e puxou conversa. Resultado: pelo menos naquele quesito a cigana acertou, pois os dois se casaram e estavam vivendo um relacionamento sadio com o primeiro filho a caminho.

Foi a partir daí que teve início a mania do Epaminondas em aprender sobre tudo a respeito de ler mão, borra de café, bola de cristal, tarô, e até ouviu falar que dá para ler as fezes porque as fezes têm muito a dizer sobre o nosso futuro. E ainda um conhecido garantiu que dá até para prever o futuro através de uma cusparada. E a esposa entrou nessa também, e transformaram-se os dois num maniado casal adepto de tudo sobre ler o futuro de alguém em qualquer coisa, principalmente sobre eles.

Dia desses, Epaminondas e Gioconda, após algumas compras no Mercado Municipal, vinham pela Rua Agenor Maciel em direção à Praça Abner Afonso quando se depararam com um adesivo na porta de um carro. Exclamaram alto em uníssimo:

– Essa eu não conhecia.

Imediatamente ligaram para o número do telefone presente no adesivo. O dono do carro com o adesivo compareceu no endereço e foi logo apresentado ao que o casal queria:

– Todo o apartamento foi pintado na semana passada. Quanto custa você ler a pintura de todos os cômodos?

Veio o seguinte diálogo:

– Mas, ler a pintura, não sei o que é isso.

– Mas você não pinturas?

– Eu não, sou apenas pintor.

– Mas no adesivo na porta do seu carro está escrito lemos pinturas.

– Ah, é que você não entendeu. O Lemos é meu sobrenome, e é como sou conhecido no ramo, e eu sou só pintor, não sei nada disso de ler pinturas.

E assim a vida continuou para o casal e para o pintor. Simples assim!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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