Quando vai findando o ano acontece sempre uma movimentação comercial enorme. As lojas em seus mais diversos ramos anunciam pacotes de promoções com ótimos descontos e que antigamente eram somente descontos, mas hoje é OFF. As chamadas eram assim, por exemplo: − Toda a loja com 40% de desconto para pagamento à vista. Agora é assim: − Toda a loja com 40% OFF para pagamento à vista. Isso é uma prova contundente de como o comércio tem evoluído.
Por aqui, obviamente, é igualim como em todo o Brasil. Foi numa dessas que, a uma semana do Natal, a Carmelita danou a zanzar pelo Centro em busca de um caprichado presente para a mãe. Só para a mãe, porque o pai havia falecido no ano anterior. Depois de rodar por inúmeras lojas fazendo cotação de preços, ela se lembrou de uma localizada na Rua General Osório onde certa vez encontrou bons preços.
Ao entrar, se depara com um aviso: − Cuidado com o cão. Ela, ressabiada, dá meia volta e resolve procurar outra loja. Mas aquele “cuidado com o cão” não saia de sua cabeça. Por que agora resolveram colocar aquele aviso? Cuidado com o cão? Onde já se viu colocar um cão bravo dentro de uma loja, pensou ela. É claro que isso espanta os clientes, pensou ela novamente. Determinada a melhor observar, voltou à loja. Mas não entrou, passando pela porta devagarinho e lendo novamente o aviso: − Cuidado com o cão. E seguiu em frente para mais uma volta pelo quarteirão.
Depois de muito matutar a respeito, a Carmelita resolveu encarar a situação. Afinal, aquela loja costuma ter preços convidativos. E lá foi ela. Parou na entrada, leu o aviso e foi aí que percebeu o grande movimento dentro do comércio. Mas peraí, como pode ter muitos clientes dentro da loja com um cão bravo? Já estava no meio da loja, de olho em qualquer manifestação de susto por parte de algum cliente, quando veio uma atendente.
Assim, desconfiada, olhando para tudo quanto era lado, conseguiu encontrar um ótimo presente para a mãe e, o melhor, com um bom preço. Já ia saindo quando se deparou com um Pinscher daqueles miniaturas zanzando entre as pessoas. Será que aquele aviso é sobre essa coisica aí, não é possível, isso só pode ser zoeira da loja, pensou ela novamente. Voltou e perguntou para a atendente:
– Moça, aquele aviso “cuidado com o cão” é por causa desse pisguila ali? Só pode ser brincadeira, né, que perigo pode trazer às pessoas um cãozinho tão pequenino assim?
Calmamente, a atendente explicou:
– Nada a ver com braveza, é porque depois de várias pisadas que ele recebeu, inclusive numa delas teve que passar uma semana na clínica veterinária, resolvemos colocar o aviso. E está funcionando, porque o aviso já tem um mês e o pet nunca mais foi pisado.
Ah, foi só o que a Carmelita disse antes de ir embora.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.
