QUE É ISSO, DONA GERTRUDES?

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Dona Gertrudes é uma mulher arretada. Nascida e crescida no Bairro Planalto, esteve presente na sua infância a Lagoa do Patão, quando exuberante e linda não era conhecida como Lagoa do Patão. Salgadeira de mão cheia, aos 60 anos de idade a bondosa senhora realizou um desejo ardente esperado há muito tempo: conseguiu a CNH, a popular carteira de motorista. Ficou tão feliz que até promoveu uma grande festa, onde familiares e amigos a congratularam.

Com as economias feitas durante anos, comprou um carro usado e muito bem conservado. Agora sim, suspirou ela, não dependeria da boa vontade do marido para fazer as entregas de seus disputados salgados. Por precaução, nos primeiros dias de posse do documento, só trafegou pelo bairro e outros adjacentes, para que pudesse adquirir a experiência ao volante necessária para se aventurar a varar o Centro, principalmente a Rua Major Gote.

Depois de dois meses, Dona Gertrudes considerou que era o momento de encarar o Centro. Pegou a Avenida Randolfo Borges Mundim e chegou na Avenida JK. Ainda demonstrando um pouquinho de nervosismo, fez o retorno e seguiu em direção à Rua Major Gote. Aos poucos, foi se acalmando e sentindo-se segura e capaz de guiar por aquelas bandas como qualquer um. Tudo ia bem, sem sobressaltos, até que, chegando a uma esquina, mesmo com o sinal verde do semáforo, ele simplesmente parou. Por pouco o veículo que vinha atrás não lhe abalroou.

E lá ficou parada, num trânsito intenso, e o veículo de trás buzinando. O sinal fechou, abriu novamente e nada de Dona Gertrudes arrancar. O buzinaço se tornou forte, ela lá, tranquila e serena, e até desligou o carro. Vários motoristas saíram de seus carros imaginando que aquele motorista tivesse sofrido um mal súbito. Quando se depararam com a motorista serena demais da conta, Dona Gertrudes foi imediatamente questionada. Ela disse:

– Eu gastei muito dinheiro para conseguir minha carteira de motorista, e tudo que aprendi na autoescola estou colocando em prática, por isso estou respeitando a placa.

Que placa? − perguntaram todos ao mesmo tempo. Ela saiu do veículo e foi nesse exato momento que chegou um carro da polícia, que hoje é viatura. E tudo foi serenado.

Por que a Dona Gertrudes parou no sinal verde? Ela apontou para o policial a placa que está lá no alto ao lado do semáforo. E nessa placa está grafado PARÁ, como indicação de que aquela via de cruzamento com a Rua Major Gote é a Rua Pará. Só que a palavra rua e o acento agudo são tão pequenos na placa que Dona Gertrudes só reparou no PARA, que para ela significou uma indicação de parar. E ela parou!

A Dona Gertrudes? Depois do explicado e esclarecido, e das muitas risadas, cada um tomou o seu rumo e ela hoje está craque no trânsito e muito mais atenta nos sinais de trânsito. Afinal, lei de trânsito é para ser respeitada!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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