Quanto ao contínuo crescimento geográfico da cidade desde os primórdios, as referências apontam para o fato de que, entre as ruas principais, abertas pelo poder público ou mesmo por particulares, restavam terrenos vagos, sem proprietário aparente, os quais iam sendo, paulatinamente, ocupados e apropriados pela população. Parece, pois, que os becos, travessas ou ruelas se originaram de uma ocupação “espontânea” ou “orgânica”, iniciativas que são fora da norma ou da regra.
Foi assim, com o crescimento gradativo da cidade, que se formou um beco quase em frente ao Mercado Municipal. Ficou sem nome oficial até 14 de abril de 1975 quando através da Lei n.º 1.421 foi denominado Travessa 12 de Abril, com início na Rua Padre Caldeira e término na Rua Deocleciano Mundim. Trinta e três anos após, em 26 de maio de 2008, o vereador João Batista Donizete da Cruz (Batista Miúdo), enviou à Câmara Municipal o Projeto de Lei n.º 2758 que altera o nome do logradouro para Travessa Tia Ica. Assim o edil justificou a sua indicação:
Belmira Deodora de Jesus, Tia Ica, nasceu no dia 16 de junho de 1933. Filha de Joaquim Sérgio da Silva e Placidina Teixeira Pinto e irmã de Maria Nestor Fortunato, José Pedro Fortunato, Geralda Teixeira Pinto (in memorian), Olavo Fortunato da Silva (in memorian), Joaquim Assis da Silva, Mário Lúcio da Silva, Vera Lúcia da Silva e Bernadete de Lurdes da Silva. Dona Belmira, carinhosamente chamada por todos de Tia Ica, sempre esteve do lado das pessoas necessitadas, participando de vários eventos da Paróquia de Santo Antônio. A sua família, os Meireles, tinham comércio nas proximidades da mencionada rua e a sua irmã Maria Nestor Fortunato, Tia Irma, lecionou por mais de 30 anos na escola Zama Maciel. Todos contribuíram para o desenvolvimento da praça do Mercado Municipal. Faleceu no dia 10 de março de 2008.
Um mês após, em 23 de junho, o prefeito Antônio do Valle Ramos concordou com a indicação sancionando a Lei n.º 6.011, alterando o nome da Travessa 12 de Abril para Travessa Tia Ica. Mas de nada adiantou a lei, pois no Mapa de Bairros da Prefeitura Municipal e na placa do logradouro continuava o nome Travessa 12 de Abril. Por causa disso, o vereador Lásaro Borges de Oliveira reivindicou à Câmara Municipal, através da Indicação n.º 0916 datada de 08 de junho de 2013, que a Casa comunicasse a Secretaria Municipal de Infraestrutura para trocar a placa conforme a lei de “2009”. Eis que o edil Lásaro, talvez por erro de digitação ou pela euforia contagiante de querer corrigir o problema, errou o ano, pois a lei é de “2008” e não de “2009”.
O tempo passou e a Prefeitura Municipal conseguiu a proeza de piorar o que já estava errado. Tirar a placa com o nome Travessa 12 de Abril ela tirou. Mas, pela eterna incompetência estrutural, ela não colocou a placa com o nome Travessa Tia Ica. O resultado atual é que nem os moradores do logradouro sabem o seu nome oficial, pois alguns recebem correspondências com o primeiro nome e outros com o segundo. Quanto aos que não moram na travessa, ninguém sabe o seu nome. Tudo isso acabou por se transformar num tremendo gesto de indelicadeza ao nome da respeitada Tia Ica.
* Texto e foto (05/12/2015): Eitel Teixeira Dannemann.
* Fonte: Câmara Municipal de Patos de Minas.