ICTERICIA ESPIRITUAL

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TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1914)

Não è licito aos homens, como taes, julgarem os outros. Julga o juiz, o jurado, o pae, o mestre, mas como instrumento de Deus de quem dimana toda autoridade e somente agem nessa qualidade quando precedem inspirados pela verdade e a justiça. Se, porém, proceder diversamente, seguindo suas proprias paixões, então julgarão como homens e por este julgamento serão julgados pelo tribunal divino.

Quem soffre de ictericia vê tudo amarello. O remedio para ictericia não se applica à vista, mas, internamente, no figado. O peccado do juizo termerario é uma ictericia espiritual (a comparação é de São Francisco de Sales) que faz parecer más todas as cousas, aos olhos dos que della estão atacados; mas quem quizer sarar, deve applicar o remedio, não externamente, aos olhos, mas internamente, nos affectos. Se fôr caridoso o sentimento, tambem o será o juizo.

E’ do mesmo autor outra bella comparação. Aos que bebem o sumo de uma certa herva, representa-se-lhe por toda parte que vêm serpentes e cousas espantosas; e aquelles em que se infiltrou a soberba, a inveja, a ambição, o odio, nada vêm que não seja censuravel. Para cura dos primeiros é prescripto o vinho de palmeira; para a dos segundos o vinho sagrado da caridade.

“Não conheceis aquelle a quem julgaes”, diz Bossnet, “não sabeis qual a sua intenção que talvez o justifique; e se seu crime é manifesto, ignoraes se não se arrependerá delle, se não trata de um d’aquelles cuja conversão regozijarà o céo: não julgueis”.

Façamos ainda uma citação: “Grande prudencia è não ser precipitado nas acções, nem aferrado em demasia a seu proprio sentir, prudencia tambem não dar fé a tudo que nos dizem, e não ter pressa de comunicar a outrem o que ouvimos ou julgamos. Toma conselho com varão discreto e consciencioso, e prefere aos teus proprios alvitres as luzes de melhor que tu. A bôa vida faz o homem sábio segundo Deus, experiente em muitas cousas. Quanto mais humilde fores e sujeito a Deus, tanto mais prudente serás, e mais calmo em todas as cousas”.

(Imitação de Christo N. S. Versão Portugueza por um Padre da Missão − Rio de Janeiro, Collegio da Immaculada Conceição (Botafogo) − 1910, L. C. IV)

Pescador

* Fonte: Edição de 28 de abril de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Um dos parágrafos do texto original.

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