VIDA NO CAMPO DOS IDOS TEMPOS, A − 2

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TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1914)

Em todas as profissões, o factor de todo o bem é o trabalho, perseverante. A “nobresa e as riquezas, tudo vem de Deus”. O homem do campo, pois, póde e deve esperar os favores divinos.

O Senhor está sempre prompto em abençoar o trabalho, os campos, a industria e o commercio do christão que confia em sua providencia divina.

Pedro disse: “Descarregai em Deus todas as vossas inquietações, porque elle tem cuidado de vós”.

Devemos ter fé e trabalhar com perseverança que tudo encontraremos nos campos.

O espirito do trabalho é a fonte de prosperidade.

A força corporal, a energia e caracter, o amor do lucro, a ambição, podem fazer um homem laborioso e feliz.

O homem, no meio de seu trabalho, deve se lembrar que cumprindo uma ordem divina, […] ganhar, alem do salario temporal, o galardão eterno.

Entregue aos labores do campo, leva-se com mais probabilidade uma vida christã, porque moderadas as nossas paixões, nos è favorecido o espirito de economia domestica, e nos é regulada melhor a acquisição e o uso das cousas necessarias e agradaveis.

Quem não vive na roça quasi sempre será guiado pela paixão que deseja o superfluo para mais brilhar na sociedade, d’ahi o luxo dispendioso nas construcções, na mobilia, no vistuario, no comer, no beber, nos passeios, etc.

Os olhos dos outros é o que nos arruína, disse Franklim. Se todos fossem cegos, excepto eu, nenhuma necessidade teria eu de cousas de luxo.

O luxo é o precursor da miseria; devemos portanto evital-o.

Quantas familias pobres poderiam gozar de certa abastança, se vivessem no campo, sem gastarem com as cousas superfluas o pouco dinheiro que podiam possuir, na busca dos prazeres ephemeros, para deposital-o numa caixa economica.

Muitas familias, vivendo no campo, poderão adquirir com que pagar dividas, e atè com que comprar alguma propriedade, se nas despesas com os divertimentos ou toilettes não se deixassem guiar pelas paixões do luxo, na vida da Cidade.

Ha por ahi alguns homens até analphabetos, que com sua vida de campo, toda laboriosa, podem dar esmolas á egreja, aos pobres e emprestar dinheiro a juros!

Que diremos do homem intelligente e instruido, se elle se entregar á vida dos campos?

O PAYSAN

* Fonte: Texto publicado com o título “A Vida do Campo” na edição de 22 de março de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Dois parágrafos do texto original.

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