Lá vinha o Juninho em seu garboso Fusca pela poeirenta ou barrenta e mal cuidada estrada que liga o Distrito de Alagoas à BR-365 quando, uns dois quilômetros depois da Escola Municipal Abdias Caldeira Brant, o carro começou a ratear. Instintivamente ele diminuiu a velocidade e, devagarinho, foi indo para tentar alcançar a rodovia. Mas não teve jeito, pois, mais uns quatro quilômetros rodados o fusquinha apagou de vez.
Mesmo não entendendo muito de mecânica, ele abriu o capô para ver se descobria o que aconteceu. Aí futuca daqui, futuca dali, e não percebendo nada de errado se conformou em ficar esperando a passagem de um carro para socorrê-lo. Foi quando ouviu alguém dizer:
– Confere o cabo da vela.
O Juninho olhou para todos os lados e não viu ninguém, apenas um cachorro vira-lata sentado próximo a uma porteira. Insistente, futucou novamente algumas partes do motor e teve que se conformar que o jeito era esperar um carro passar. Foi quando ouviu novamente a voz:
– Tô te falando, homem, confere o cabo da vela, sô, deixa de ser teimoso.
Como novamente não viu ninguém, começou a ficar cismado e até bateu-lhe um medinho. E lá veio a voz de novo:
– Seu frogoió, é só olhar o cabo da vela que você resolve o problema.
E nada de ninguém à vista. Então, resolveu olhar o cabo da vela. Eureca! Não é mesmo que o cabo da vela estava solto? Contornado o problema, entrou no Fusca, deu partida e se mandou já imaginando que tinha assombração entendida em mecânica naquele local. Logo adiante, ele parou numa daquelas tradicionais vendas rurais à beira da estrada para tomar um refrigerante e se acalmar. Tinha cinco pessoas na venda, e aproveitando a oportunidade, resolve contar o ocorrido, tintim por tintim. Imediatamente, um dos presentes pergunta:
– Qual era a cor do cachorro?
Mesmo o Juninho não entendendo o porquê da pergunta, respondeu que era castanho claro. O perguntante arrematou:
– Aquela porteira é da minha fazendinha, pertim de onde seu carro deu problema. Aquele cachorro castanho claro é meu, e tenho outro, preto. Eles ficam lá na porteira vigiando e cada dia, parece cumbina entre eles, vai um. Por isso você teve muita sorte de ter sido o castanho claro, porque o preto não entende bulhufas de mecânica de carros, e nem de Fusca.
Como os cinco presentes caíram na risada, o Juninho, sentindo-se ridicularizado, pagou o guaraná e se mandou. E durante muitos anos, aquilo ficou na sua cabeça: foi real ou não? Hoje em dia ele não pensa mais no caso e nem o fusquinha ele tem mais, mas, se foi pelo acontecido ou não, ele se mudou do Distrito e pouco aparece por lá para visitar os pais e parentes.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.