Juninho estava na fatídica fase da aborrescência, aquela em que o adolescente vai mudando fisicamente e mentalmente, e por causa disso, em não havendo uma interação educacional adequada entre ele e os pais, surgem a insegurança, oscilações sentimentais, de humor e autoestima. E nessa, a autoestima do Juninho estava mais baixa que a condição da mulher no Afeganistão.
Juninho, 15 anos, filho único de um casal de empresários com certo destaque por aqui, mimado pra caramba, num mundaréu de escolhas conflitantes, no meio de sua aborrescência, entrou noutra fase crítica comum entre os jovens de ontem, de hoje e de amanhã: crise existencial.
Enquanto os pais se preocupavam com seus negócios, Juninho foi cada vez mais se encruando no seu mundo de insatisfações. Ele não sabia se ia para a esquerda, para a direita ou vice-versa. Ele não conseguia decidir se queria ser bombeiro, seringalista, garimpeiro, catador de pequi, advogado, influenciador na Internet, médico veterinário, músico hip hop, se colocava piercing na pleura, se cobria o corpo todo com tatuagens tribais, se colocava osso na orelha e muito menos tinha noção do que ele representava para si mesmo. O trem foi ficando feio, nebuloso, até que explodiu: ele resolveu se suicidar. Mas como? Primeiramente pensou no revolver 38 do pai. Com a arma encostada na testa, numa ânsia medonha de descarregá-la na dita, não teve coragem.
Enquanto os pais se preocupavam com seus negócios, Juninho se afundava em uma profunda depressão, mesmo não lhe faltando absolutamente nada, muito pelo contrário, podia, se quisesse, comer um pastel em Belo Horizonte só por prazer. Mas seu único pensamento era o suicídio. O trem foi ficando cada vez mais nebuloso. Tentou então cortar os pulsos com a faca de cozinha favorita da mãe. Mas também não teve coragem.
Enquanto os pais se preocupavam com seus negócios, Juninho passou a cabular as aulas num dos Colégios mais badalados da Cidade. Seus amigos foram se afastando e até sua assanhadinha namorada não aguentou mais tanta lamentação da vida. E nenhum deles entendia como, economicamente bem de vida pra caramba, o Juninho se comportava como o mais infeliz dos jovens.
Enquanto os pais continuavam se preocupando com seus negócios, Juninho foi se enclausurando, fechando-se na sua extrema necessidade de suicídio. Conhecido de alguém da Catedral de Santo Antônio, simulou uma visita à torre para tirar fotografias. O intuito, óbvio, era se jogar lá de cima, imaginando-se espatifado sem vida no asfalto da Avenida Getúlio Vargas bem em frente à residência de um parente. Mas não teve coragem e se limitou às fotografias.
Certo dia, vagando sem rumo, descia a Rua Major Gote − no passeio, que fique muito bem claro − após a Praça Antônio Dias, com os pensamentos vagando entre os planetas Urano e Saturno, chegou na esquina com a Rua Cesário Alvim. Nesse cruzamento há duas faixas elevadas de pedestres. O Juninho, já passando em pensamentos por Plutão, sem ter a mínima noção do que estava fazendo, colocou o pé numa das faixas e, despreocupadamente, sem prestar atenção nos veículos que sabem perfeitamente que naquela elevação tem duas faixas de pedestres, foi adiante. Pimba! Enfim, concretizou-se o seu suicídio quando foi abalroado.
O que? Você não ficou sabendo dessa tragédia? Pois é, nem eu. Eu só sei que atravessar aquelas faixas de pedestres sem atenção é morte certa. O Juninho que o diga, seja lá onde estiver!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.