TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1944)
Rebrilha, hoje, no firmamento da Patria, o “Dia do Trabalho”. Entendem muitos que é o dia festivo do operariado e somente do trabalhador braçal, na suposição de que só essa gente de valor vem se beneficiando com a moderna conquista das “leis trabalhistas”.
Mas hoje é dia tambem do operario intelectual, do profissional que enobrece a profissão, do professorado que carrega o madeiro da cruz educacional, da mocidade, e da criançada irrequieta que se agita na “ciranda-cirandinha” do dever cumprido.
O dia do trabalho lá fóra é o dia do Dever dentro dos Estabelecimentos de Ensino.
Tem a data, em nossos sentimentos e em nossos corações, a mesma ressonância de civismo e a mesma fé inquebrantável nos altos destinos da nacionalidade , como o 21 de abril ha pouco comemorado.
Naquele dia celebramos comovidos os inapagaveis ardores de patriotismo que sempre inflamaram e hão de inflamar por sempre os corações da ponderada gente mineira. Naquele dia de Tiradentes em que o meu coração fremiu com mais fôrça e com mais intensidade com os vossos, ao experimentar eu, em meio de um turbilhão de emoções, a surpresa ventura de ouvir a vossa palavra comemorativa da data, através do lábios de minha filhinha que convive, nesta colméia de instrução e de luz, com mais alegria e com mais vivacidade que nas horas embevecedoras dos mais ressoantes folguedos domésticos.
Convosco a minh’alma vibrou no altar da Patria, porque é com o perfume que as flores acariciam; é com o fruto que as arvores confortam, é com a luz que a lua enfeita os lagos; é com o brilho que as estrelas cintilam; é com os raios que o sol aquece e ilumina; é com Cristo que o Onipotente redime a humanidade, e é com o filho que o homem vive, manifesta o seu temperamento e como que perpetua na felicidade terrena.
Mas, perdoada a divagação do pai que começa a comover-se com a vida do filho, voltemos ao dia do trabalho que se esbate e fulgura aqui dentro, qual reflexo da agitação febril que tumultua lá fora.
A significação do dia do trabalho excele de proporções nesta cidade de Patos, hoje chamada Guaratinga², porque a exuberancia de nossas terras, a fertilidade de nosso solo, a riqueza de nosso gado é produto e resultado consequentes do mais extremado labor do homem patense.
O livro mais atraente, o livro mais colorido para a criança que estuda é o livro da vida, é a lição dos acontecimentos diarios que nos rodeiam.
A nossa terra está sendo decantada, meus amiguinhos, pela luta incessante e ininterrupta de vossos pais, de vossos irmãos, parentes e conterraneos.
O trabalho diario dessa gente é que faz as colheitas surpreendentes do arroz, do milho e do feijão, canalizadores de riqueza e de conforto para o municipio. E’ de pelejar repetido deles que as nossas grandes invernadas acendem invejas e fazem a astronomia quantiosa do dinheiro nos rebanhos e pantéis³ de zebús.
E’ o anseio do progresso e de florescência de nossa gente que faz a decoração da cidade com residencias e palacetes de lindas capitais e com empreendimentos de vulto.
E’ esse desejo insopitável na escalada do progresso que vem dominando o espirito de nosso povo; é essa vontade imperiosa de agigantar-nos, que faz o Governo do Estado entregar-nos uma praça de esporte de aspecto
suntuoso4, e que leva o eminente Prefeito a realizações, como a da nova
Usina Elétrica5, que no momento empolgam pela dificuldade que atinge as raias do impossivel.
E’ com essa chama de grandeza que faremos do municipio um municipio modelo na Região, numa síntese maravilhosa de nosso querer, a serviço do mais ingente trabalho.
Apraz-me aqui considerar e realçar que a instrução vem sendo o “porta-bandeira” do descortino de nosso progresso e de nossa civilização.
Os meninos do Grupo Escolar que outrora constituiam aquela falange demolidora conhecida por “moleques”, e que eram perigosos, porque quando não repetiam pelas ruas da cidade as lutas de box de Tunei e Dempsei jogavam pedras nas arvores, nos telhados e nos velhos e lutavam de canivete ou faquinha uns contra os outros, como se transformaram, milagrosamente, em alvorada de alegria e de expansão educada, no trajeto de vir e ir da Escola.
A lição do exemplo é a sublime, é a encantadora lição.
A lição do trabalho e de apostolado no cumprimento do dever de um mestre do estôfo de Frância Pinto, é a lição que perdura e enaltece uma sociedade.
Frância Pinto está fazendo de vós as grandes e profundas raizes da árvore frondosa e magnifica que vai abrigar várias gerações patenses.
O trabalho desse educador de valor, porque é culto; de prestigio, porque tem personalidade e sabe querer; de reflexos luminosos, porque ama verdadeiramente a educação, há de elevar-nos no conceito do Estado, como pioneiros, como padrões de uma fase de educação brasileira.
O dia do trabalho, contrariando aparentemente o nome, meus amiguinhos, é o dia de descanso para que nos miremos no espelho do metodico e energico Frância Pinto, no desvelo de uma Celcidia Tiburcio, de uma Angela Mourão, de uma Alda Mendonça e de todas as professoras que sabem honrar esta Casa de Instrução.
E’ dia de rememorar a vida dos lutadores, dos que trabalham e dos que se sacrificam para que Patos seja na atualidade e seja sempiternamente a graça e a formosura do Sertão Mineiro.
* 1: Grupo Escolar Marcolino de Barros.
* 2: Leia “O Dia em Que Patos Deixou de Ser Patos 1 e 2”.
* 3: Seria “plantéis”?
* 4: Leia “Iniciada a Construção da Praça de Esportes, o Futuro PTC”.
* 5: Usina das Lages
* Fonte: Texto publicado com o título “Dia do Trabalho” e subtítulo “Entre as comemorações do ‘Dia do Trabalho’ mereceu especial relevo a sessão solene do Grupo Escolar¹, que transcorreu em ambiente festivo e animador, sem acentuadas irradiações comunistas que costumam infiltrar-se nada data, na qual pronunciou trabalhado discurso o advogado dr. Ernani de Morais Lemos, cujo teor publicamos por referir-se aos feitos patenses” na edição de 07 de maio de 1944 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Três primeiros parágrafos do texto original.