SOBRE O INÍCIO DO GRÊMIO ESTUDANTIL PAULO SETÚBAL (GEPS) E SEU JORNAL

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O Primeiro Regimento Interno (Decreto n.º 173/1959) do Colégio Municipal já previa a criação de um grêmio escolar, que se regeria por estatuto próprio com a finalidade de promover atividades culturais, extracurriculares, sociais e desportivas dos alunos, desde que fosse aprovado pelo Conselho de Estudantes.

Criado em 15 de abril de 1961, sob a direção da professora Terezinha de Deus Fonseca, foram eleitos os membros da primeira diretoria: Clinton Borges Naufel, Presidente; Carlos Aurélio Baeta, Vice-Presidente; Lindalva Rodrigues, 1.ª Secretária; José Ramos Tolentino, 2.º Secretário; Antônio Pereira Armondes, Tesoureiro; José Augusto de Lima, Bibliotecário; José Secundino da Fonseca, Orador; Dinamar Martins Costa, Diretor de Esportes. Em seguida, houve uma discussão para a escolha do nome do grêmio: Machado de Assis, Olavo Bilac, Manuel Bandeira, José de Alencar, Olegário Mariano, Paschoal Magno, Paulo Setúbal e Castro Alves. Houve um empate entre os dois últimos nomes. Em novo escrutínio, o nome do escritor paulista Paulo Setúbal saiu vencedor. No dia 06 de maio de 1961, ocorreu a segunda reunião do GEPS. Em pauta, a discussão e aprovação do Estatuto Social, que contava com 46 artigos.

José Secundino da Fonseca relembra o processo de formação dessa organização estudantil: De certa forma, os alunos e os professores eram igualmente iniciantes e sentíamos que a organização de um grêmio estudantil, entre outras coisas, nos daria plataforma para uma relação menos hierarquizada e mais horizontal com o corpo docente. Alguns de nós, como Agenor Gonzaga, éramos ávidos leitores de poesia e uma nova agremiação também significava um desafio, ainda que incipiente, à “hegemonia literária” de entidades como o Centro Cultural Ruy Barbosa. Era como criar asas. E embora não me lembrasse mais do cargo que tive na primeira diretoria, lembro-me de sugerir e defender o nome de Paulo Setúbal, ainda influenciado pela primeira leitura de “Alma Cabocla”. A Criação do GEPS foi uma decisão e obra coletiva dos alunos do curso.

No mesmo dia da fundação do GEPS, os alunos presentes decidiram criar um jornal estudantil da entidade. Foram sugeridos diversos nomes: O Bilhete, O Recado, O Espelho, Correio Patense e Folha Patense. Por trinta votos, escolheu-se o nome O Espelho, e os diretores, por unanimidade, foram escolhidos: Agenor Gonzaga dos Santos (Redator-Chefe), Clélio de Faria (Diretor-Geral) e Carlos Randolfo Campos (Tesoureiro), tendo como supervisora a professora de Português Eni Leonel de Paula, que recorda: lembro-me de ler os textos escritos pelos alunos, selecionar os que iam ser publicados, mas já não me lembro como eram feitas as sugestões de pautas para inclusão de outros assuntos.

A primeira impressão deu-se em 14 de maio de 1961, impresso, inicialmente, na Gráfica da Lagoa (ficava num terreno praticamente vago, ao lado do Hotel da Luz, na Rua Major Gote), e posteriormente, nas oficinas gráficas da Folha Diocesana (Rua Tenente Bino), com uma tiragem de 500 exemplares. Teve vida curta, pouco mais de um ano, pois funcionava de forma irregular e chegou ainda a sofrer “interferência direta” da Diretora Terezinha de Deus Fonseca, que chegou a “confiscar” uma edição, impedindo sua circulação.

Os redatores, editores e articulistas do jornal, mesmo muito jovens, pois tinham entre 16 e 18 anos, demonstravam, como afirmou Padre Almir Neves de Medeiros, forte pendor literário e estilo apurado. Em textos gramaticalmente corretos, expressavam suas convicções políticas, sociais e culturais com a perspicácia de quem sabe o que escrever e como escrever para cumprir seus objetivos muito ousados para um grupo de estudantes de curso científico de uma cidade ainda provinciana. E mais, o humor fino e as cutucadas contumazes alfinetavam setores muito conservadores da sociedade, com lucidez e autonomia de posicionamento, sobretudo político de oposição, o que demonstrava muita coragem em cidade como a Patos de Minas da década de 1960.

* Fonte: Livro “Colégio Estadual de Patos de Minas − Memórias de Sua Criação” (2017), de Altamir Fernandes.

* Foto: Portal.ifrn.edu.br, meramente ilustrativa.

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