Até lá pelo início da década de 1970 não existiam nos Distritos energia elétrica e rede de esgoto. Consequentemente, o banheiro não tinha vaso sanitário, só o chuveiro. Chuveiro? Sim, um chuveiro especial, onde o pessoal da casa aquecia no fogão de lenha a água retirada da cisterna, colocava num balde de alumínio adaptado com torneira e com uma ducha embaixo, temperava a água, e, através de roldanas, suspendia o balde cheio. Aí era só abrir a torneira e tomar banho. E tinha que ser rápido, senão todo o processo tinha que ser repetido.
E o vaso? Era na casinha um pouco afastada da residência, uma fossa, geralmente com piso de madeira e um buraco no meio, onde o necessitado se agachava e resolvia suas intrigas intestinais e bexigais. Papel higiênico? Nem pensar! Cada um tinha suas artimanhas para resolver a questão: papel de embrulho ou jornal, folha de bananeira ou outra qualquer e por aí vai, incluindo até sabugo de milho, que depois de usados eram devidamente depositados no buraco.
Depois da instalação de um poço artesiano no Distrito de Major Porto, um morador com um dinheirinho a mais que os outros resolveu construir uma casinha com vaso sanitário que despejava os dejetos na outra casinha, a da fossa. Muitos amigos e familiares ficaram encantados com a novidade, um progresso imenso. E foi nessa que o Adeobaldo se encrencou. Em certa ocasião, ele, o Adeobaldo, primo do dono da casa, que nada sabia sobre a novidade, e ainda naquela da casinha, foi convidado para uma festinha na dita casa do parente, na hoje Avenida José de Souza Rego. Num determinado momento, veio-lhe uma vontade de urinar. Lá foi ele para o quintal procurar a casinha da fossa. Mas cadê a casinha da fossa? Nada de casinha da fossa.
Humilde, perguntou para um parente onde se podia fazer xixi. Foi-lhe indicado o local. Em lá chegando, abismou-se com aquilo que não conhecia: um vaso sanitário de porcelana branca com uma pequena caixa de descarga acima dele. Encucado, e acima de tudo curioso, resolveu puxar a cordinha. Foi um susto tremendo, logo imaginando que aquilo fosse um modelo novo de pia. Assim, caiu fora da casinha com modelo novo de pia e procurou um matinho para tirar a água do joelho.
Na volta, topou com um sujeito que voltava de outra moita após aliviar os intestinos que lhe perguntou:
– Sabe por aqui fora onde tem uma pia pra eu lavar minhas mãos?
O Adeobaldo, sempre atencioso, além de indicar o local fez questão de explicar o funcionamento da casinha com um vaso sanitário de porcelana branca com uma pequena caixa de descarga acima dele que ele imaginava ser um modelo novo de pia:
– É naquela casinha ali, mas como meu primo é um tremendo mão de vaca botou acima da pia uma caixinha d´água desse tamaninho, por isso depois de puxar a cordinha tem que ter pressa pois a água acaba rapidinho e aí tem que esperar ela encher de novo e de novo ser muito rápido senão tem que esperar ela encher de novo.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.