TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2023)
Estava eu em meu lar, tentando assistir em paz ao fabuloso filme espanhol Cria Cuervos do Carlos Saura com a fabulosa menina Ana Torrent quando, não mais que de repente, percebendo que eu estava já irritado com o barulho insuportável da zoeira das motos que atrapalhava a minha concentração no filme, meus dois únicos neurônios, o Idi e o Ota, resolveram me apoquentar com a informação de que a Polícia Militar havia apreendido algumas motos com escapamentos adulterados. Pronto, parei com o filme porque logo pensei alto: − De novo? Quero dizer, de novo essas paliativas ações que não resolvem absolutamente nada?
Imagine aí a ponte antiga sobre o Rio Paranaíba ruir. Só há uma solução definitiva: o mais rápido possível construir outra para retomar o tráfego normal da via de utilíssima necessidade. Mas, ao invés disso, ao invés de resolver definitivamente o problema construindo outra ponte, o poder público resolve montar uma estrutura de balsa. E assim vai levando, com a balsa, sem resolver definitivamente o problema que seria a construção de uma nova ponte, resultando num transtorno incomensurável. É o tal do PALIATIVO ETERNO.
O que isso tem a ver com o título desse artigo? O tal do PALIATIVO ETERNO a respeito das motos com escapamentos adulterados. Mas que PALIATIVO ETERNO É ESSE? Ora, essas ações policiais esporádicas que, no caso citado, apreenderam algumas motos. Você aí tem ideia de quantas motos tem na Cidade? Pois saiba que passam das vinte e seis mil. E saiba que dessas vinte e seis mil, da menor à maior cilindrada, praticamente quase a totalidade − principalmente as dos entregadores e as “possantes” − está com os escapamentos adulterados, seja por falta de manutenção ou provocados intencionalmente pelos seus proprietários com o único propósito de azucrinar a vida dos outros.
Sendo uma questão de SAÚDE PÚBLICA há muito tempo, não faltam informações de Psicólogos, Psiquiatras e afins que essa barulheira causa tremendos transtornos a qualquer Cidadão, principalmente a autistas, bebês, idosos, acamados e hospitalizados, pois esses motoqueiros desqualificados não respeitam nem hospital.
Vamos concatenar as ideias, voltando à ação que apreendeu as motos. Foram os primeiros incautos que não sabiam da presença da polícia. A partir daí, internet em ação, comunicação em ação, um mundaréu de motoqueiros que estavam para trafegar no local foram avisados para buscarem outras paragens para atormentarem os Cidadãos. Então, enquanto a polícia fica só com os tais incautos, a bandalha, rindo à beça, espalha seus urros por outras paragens, leves e soltos. Aí vem outra ação policial num local diferente. Tudo se repete e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Imagine aí meia dúzia de motos apreendidas de tempos em tempos num total de 26 mil. Faça as contas. É o PALIATIVO ETERNO.
Esse problema das motos é a balsa da ponte, o PALIATIVO ETERNO. Mas isso tem solução? Óbvio que tem. A solução tem, só que, infelizmente, o atormentado pela zoeira precisa ter uma crença tremenda, enorme, incomensurável, fantástica, fora do comum, estratosférica e por aí vai para encontrar um gestor que não tenha medo, que tenha coragem e, fundamentalmente, que respeite o CONTRIBUINTE, que é aquele que paga seu salário e mantem o Município, para assim decidir:
− A partir de hoje está proibido o trânsito de motos, de qualquer cilindrada, a circular pelo perímetro urbano sem o escapamento devidamente regulado para não fazer ruído, exatamente como saem de fábrica.
– Fica estipulado o prazo de 60 (sessenta dias) para que todos os proprietários de motos se enquadrem na Lei. Findo o prazo, será montada uma intensa operação ININTERRUPTA da Polícia Militar em conjunto com os Agentes de Trânsito e com qualquer Cidadão que queira participar para identificar todas as motos fora do padrão, que serão imediatamente apreendidas e os condutores multados. A reincidência dobrará as penalidades. E na terceira vez, a moto será incorporada ao patrimônio do poder público.
Percebeu que há solução, e muito fácil de ser executada? Mas preste atenção: um gestor dessa qualidade só tem chance de existir no País das Maravilhas da Alice! Preste bem atenção que não estou me referindo a Tóquio, Nova Iorque, São Paulo, Belo Horizonte e nem mesmo Uberlândia, e sim numa pequena cidade de 160 mil habitantes onde um sujeito solta um pum no Centro e esse pum é ouvido no Alto dos Caiçaras. E nem assim o poder público tem capacidade para acabar com isso. Assim acontece em inúmeros Municípios Brasil afora, assim como inúmeros Municípios Brasil afora tratam esse grave problema com seriedade. O que importa é que aqui em Patos de Minas − cada Município que cuide de seus problemas − estamos numa situação onde a única solução pra nos livrarmos desse inferno é mudar para a roça. E aí, passaremos a correr o risco de estranhas visitas. Resumindo: estamos num mato sem cachorro!
Foi o bastante para o Idi bradar:
– No tempo dos generais eles decidiam quando queriam e se não decidiam, o povo que se calasse, senão…
Imediatamente o Ota complementou:
– Pois estamos na democracia, e os eleitos, como na ditadura, decidem quando querem e quando não querem, e assim, se o povo está insatisfeito, que vá reclamar ao Bispo, não é Oswaldo Amorim?
Já sem vontade alguma para continuar a assistir ao Cria Cuervos, já que, com o controle remoto na mão tive inúmeras vezes que colocar o som no máximo por causa dessa imbecilidade de motos barulhentas, lamentei:
– Independente de ditadura ou democracia, tanto faz, é deprimente e humilhante ser CONTRIBUINTE nesse país e fundamentalmente nesse Município de Patos de Minas com esses gestores que fazem o que querem quando querem e não fazem o que não querem quando não querem. ISSO É DEMOCRACIA? E assim, em 2025, tudo se repetirá…
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