A construção da ponte sobre o Rio Areado ligando os municípios de Patos de Minas e Carmo do Paranaíba, inaugurada em 09 de março de 1975 com o nome de Ponte Juca Luíz¹, foi um marco para o desenvolvimento de Major Porto e comunidades vizinhas. Antes dela, a travessia era feita de canoa para pedestres ou balsa para veículos. Um dos canoeiros mais conhecidos naqueles idos tempos era o Sr. Imídio Luiz, que residia próximo ao rio.
Na mesma época, o Padre Clóvis Sant’Anna, que além de clérigo atuou na comunidade como dentista prático e professor, tirante as missas, o que ele mais gostava era de instruir as pessoas, de incentivá-las a estudar. Não podia ver um adolescente vagando pelo distrito à toa que ele chegava e logo ia perguntado como estava se dando na escola, se as notas estavam boas e que jamais deixasse de estudar. Como tinha muitos iletrados no lugar, continuadamente os convidava para ensinamentos de português na Igreja Imaculada Conceição.
Certa manhã, um fazendeiro da outra banda do Rio Areado o procurou para solicitar sua presença na fazenda no intuito de rezar pela sua esposa acamada. Ele prometeu que depois do almoço estaria lá. Para tanto, procurou o canoeiro Imídio Luiz, que tanto se inclinava de seus convites para instrução religiosa. A travessia seria, portanto, uma ótima oportunidade de mais uma tentativa de convencimento. Logo nas primeiras remadas do Imídio, deu-se o início do diálogo:
– Imídio, meu amigo, não custa nada você aprender sobre as coisas de Deus.
– Padre, num tô tendo tempo, é o dia tudim atravessando esse rio.
– Ora, meu amigo, vá lá à noite.
– É que chega a noite eu tô tão discaderado que não me animo, mas pelo menos não perco uma missa de domingo, né.
– Só frequentar a igreja não é suficiente, Imídio, tem que ter mais compromisso, estender o que a Bíblia nos transmite.
– Mas Padre, eu sempre rezo antes de dormir e…
– Tudo bem, mas reza com vontade, com fé?
Um pouco além do meio do rio, o Imídio, desatento pelo palavrório, não percebeu a ponta de uma pedra e a batida foi inevitável. Quando começou a entrar água na canoa, o Padre se desesperou e por segurança o canoeiro, com muita força muscular, acelerou as remadas. E o Padre clamou:
– Eu não sei nadar, por favor, Santa Imaculada Conceição, empurre essa canoa, por favor, Santa Imaculada Conceição, empurre essa canoa, por favor…
Já em terra, o Padre Clóvis se ajoelhou e agradeceu, para ele, a providencial ajuda da Santa Imaculada Conceição. Imídio, sutilmente, comentou:
– É, Padre, essa Santa, com tanta força nos braços, tá mais pra Imaculado Imídio, né.
* 1: Leia “Ponte Juca Luiz”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.