Ferido mortalmente por uma bala homicida, desfechada pelo seu agressor, falleceu na Lagôa Formosa, o jovem e esperançoso moço Sr. Waldovino Barbosa Porto, filho do nosso amigo Major Augusto B. Porto¹.
O incidente que consternou aquella população, a de Areado residencia da victima que se achava a passeio em Lagôa Formosa, e a esta, comquanto fosse de prompto curado, não evitou a morte do desventurado moço que teve a medulla cervical alcançada pelo projectil.
Ao enterro da victima compareceu grande numero de pessôas do Areado e da Lagôa notando-se cobrindo o feretro muitas corôas, em que se liam de suas fitas pendentes − Saudade gratidão da familia Ribeiro − Saudade do amigo João Pacheco e familia, corôas mandadas pelas Senhoras D.D. Disaulina Campos, Blaunides Campos e Altiva Campos. Ao baixar o corpo á sepultura fez eloquente discurso o distincto e illustre clinico Dr. Antonio Alves da Silva.
Aos desolados paes enviamos os nossos sentidos pezames.
O assassino veio a esta cidade apresentar-se á auctoridade que mandou recolhel-o á prisão.
Agradecimento
O rude e brutal golpe com que a bala de um perverso acaba de ferir-me e a minha familia, fazendo desapparecer da arena da vida o nosso sempre adorado filho Waldevino, si por um lado nos trouxe os desditosos meios quartos de horas, por outro fez-nos reconhecer as bôas amizades que nos cercou e, entre tantos, aquelles, que levaram o seu alento, despresando distancia a se vencer e se abeirar do leito e do tumulo do nosso idolatrado filho.
Sentimo-nos pequenos diante de tantas provas de amizade e é com o maior carinho que retribuímos tantas affeições não nos esquecendo dos demais, lembrando de momento dos caros e inolvidaveis amigos Cel. Christiano da Fonseca, Dr. Antonio Alves da Silva, Pe. Elias Danso, Euripedes Justiniano Ribeiro, João Pacheco, aos quaes protestamos eterno reconhecimento.
Areado − 20-6-08.
Augusto Barbosa Porto
Rita Cassia Novaes.
Ao Major Augusto Porto
No mourejar diuturno, nas pequenas jornadas que emprehendemos do berço ao tumulo, as scintillações que nos fascinam na vida são obumbradas pelos negrores das decepções que, de instante a instante, vêm quebrar esse rythmo harmônico, qual o balançar do fiel duma balança sensibillisima.
Si horas ha que nos empolga uma alegria immensa e essas tão curtas, no seu reverso outros que nos parecem […] de tão grande provações, que difficilmente são suportadas.
Isso, nosso caro amigo, é a vida, e feliz daquelle que por ella passa, como bem disse Papança, sem vivel-a.
A magna dor que o faz passar a vida sofrendo, é o seu proprio resultado.
A victima que cahiu fulminada pela bala covarde e assassina, comquanto cheia de esperança, na flor da edade, quando no peito agasalhava todas as illusões e um porvir festivo a que tinha direito, morreu sonhando, na primavera da vida, embalada por uma nenia de saudades com que os seus amigos e admiradores foram orvalhar seu tumulo, esparzindo flores, perpetuas e goivos, hortensias e madrisilvas.
Pezames.
Lagôa Formosa, junho de 1908.
João Pacheco
Euripedes Justiniano Ribeiro.
* 1: Em 30 de dezembro de 1962, por iniciativa de Arlindo Porto Neto, Capelinha do Chumbo foi elevada a categoria de Distrito. Vários nomes foram sugeridos, entre eles Tripolândia, em referência aos três rios da região: Areado, Chumbo e São Bento. Como o nome ficou muito jocoso, devido à variante tripa, um conselho que tinha à frente José Broca e José Rêgo, definiu-se pelo nome de Major Porto em homenagem ao Major Augusto Barbosa Porto, homem de muita influência na região e patriarca da família de Arlindo Porto Neto.
* Fonte: Textos publicados na edição de 30 de junho de 1908 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Primeiro parágrafo do primeiro texto original.